Candidato bolsonarista ao STF já elogiou Lula
Foto: Rafaela Felicciano/Metrópoles
Um dos favoritos para ocupar a cadeira a ser deixada por Marco Aurélio Mello, no Supremo Tribunal Federal (STF), o ministro da Advocacia-Geral da União, André Mendonça, se viu às voltas com uma polêmica após um artigo – publicado em 30 de outubro de 2002 – começar a circular nas redes sociais.
No texto, o atual aliado do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) exaltou a vitória na corrida ao Planalto do então candidato Luiz Inácio Lula da Silva (PT), hoje o principal opositor do atual dono da cadeira. A opinião foi publicada no jornal Folha de Londrina, veículo que circula no Paraná, onde Mendonça atuava na como advogado da União.
“Neste momento histórico nos deparamos com a realidade revelada nas urnas: temos o primeiro presidente eleito do povo e pelo povo. O fato é notório e não admite discussões e assim o coração do povo se enche de esperança, o mundo nos assiste com um misto de surpresa e admiração, embora alguns confiem desconfiando, mas certamente convictos que o Brasil cresceu e seu povo amadureceu, restando consolidada a democracia, não só porque o novo presidente foi eleito pelo povo, mas porque saiu do próprio povo”, posicionou-se na época, sem mencionar o nome do petista.
Ainda no artigo, Mendonça pontuou que a ascensão de Lula se tratava de um “ato inédito no Brasil”. “Um país, até então, governado por reis, por presidentes escolhidos em gabinetes, ou ainda quando eleitos, lideranças formadas nas camadas sociais mais privilegiadas, sem experiência vivencial com a realidade dos milhões de brasileiros miseráveis e marginalizados (não vivência esta que necessariamente não é demérito, mas não é inédito), pelos próximos quatro anos será governado por um líder popular”, continuou.
O candidato à cadeira dentro da principal Corte do Poder Judiciário também pontuou que a vitória do candidato do Partido dos Trabalhadores, naquele momento, abriria brechas para questionamentos. “Não cobremos por conta disso a resolução total de cerca de 500 anos de desajustes. Se a nova liderança tem o dever de acertar, a história lhe dá o direito de errar”, escreveu.
No fim do posicionamento, Mendonça convoca os brasileiros para lutar por dias melhores no cenário político nacional.
“Devemos, juntos, trabalhar incessantemente para o real restabelecimento da sociedade brasileira, quebrando, de um lado, as estruturas distorcidas e viabilizadoras do mal, como a fome que emerge, a mortalidade não sentida, o analfabetismo excludente, o desemprego agravado, a degradação ecológica e a corrupção, e de outro, reconstruindo estruturas vivificantes, capazes de dar a todos o alimento que fortalece, a saúde mais efetiva, a educação capacitante, o trabalho motivador, a regeneração cósmica e a correção incondicional, não só pregada, mas vivida, e não apenas desejada, mas viabilizada pela esperança vencedora do medo, já ocorrida, mas a aguardar ansiosamente seja por todos nós implementada”
O Metrópoles acionou a Advocacia-Geral da União, mas o órgão não havia se manifestado até a finalização do texto. O espaço segue aberto.
Além de Mendonça, o procurador-geral da República, Augusto Aras, e o presidente do Superior Tribunal de Justiça (STJ), ministro Humberto Martins, também se movimentam com desenvoltura na disputa pela cadeira no STF. Recentemente, o juiz Mirko Vincenzo Giannotte, do Tribunal de Justiça de Mato Grosso (TJMT), também oficializou o ingresso na corrida.
Desde a última vacância ocorrida no STF – com a aposentadoria de Celso de Mello, ocorrida em setembro do ano passado, o ministro André Mendonça tem sido um dos francos favoritos a ocupar a cadeira no Supremo com o aval de Jair Bolsonaro. Na época, o então ministro Sergio Moro também era cotado como um dos nomes mais fortes para a indicação, que acabou sendo dada ao desembargador federal Kácio Nunes Marques.
Na nova investida, Mendonça tem circulado pelo Senado Federal, onde se reuniu, por exemplo, com o senador Álvaro Dias (Podemos-PR) e com outros parlamentares. Os senadores são responsáveis por realizar uma sabatina com o escolhido, e podem vetar a nomeação.
André Mendonça é advogado da União desde 2000, e, antes de ingressar na carreira, foi advogado da Petrobras. Defendeu tese de mestrado na Espanha sobre combate à corrupção. Ele foi anunciado para a AGU em novembro de 2018, logo após a vitória de Jair Bolsonaro.
Com o perfil de “terrivelmente evangélico” defendido pelo presidente, Mendonça é pastor da Igreja Presbiteriana Esperança de Brasília.