Dirigentes da CPI criticam fake news de Bolsonaro sobre imunização
Foto: PABLO JACOB/15-06-2021 / Agência O Globo
A cúpula da CPI da Covid criticou as declarações do presidente Jair Bolsonaro, que em “live” na quinta-feira afirmou que a contaminação pelo novo coronavírus é mais eficaz que a vacinação para adquirir imunidade, o que é contestado por especialistas. O vice-presidente da CPI, Randolfe Rodrigues (Rede-AP), disse que vai pedir a convocação de representantes do Facebook e do Youtube. O presidente da comissão, Omar Aziz (PSD-AM), demonstrou apoiou. O relator, Renan Calheiros (MDB-AL), disse que Bolsonaro incorre em “práticas criminosas” e que é preciso “dar um basta nisso tudo”. Ele ainda se recusou a fazer perguntas aos médicos Ricardo Ariel Zimerman e Francisco Eduardo Cardoso Alves, que são favoráveis ao tratamento precoce e participam de audiência na CPI nesta sexta-feira.
— O presidente da República voltou a falar que se contaminar pelo vírus é mais eficaz que a vacina. Não é a primeira vez. O presidente da República tem o direito a falar a besteira que quiser. Só não tem o direito de aumentar esses números. Estou protocolando agora requerimento de convocação das plataformas do Facebook e do Youtube. E peço que pautemos já na terça-feira. Por muito menos o Twitter o Facebook baniram Donald Trump — disse Randolfe, que ainda criticou as redes sociais:
— Não pode esse tipo de irresponsabilidade das plataformas, das mídias sociais disseminando esse tipo de procedimento.
— Isso é de importância muito grande, porque propaga a mentira, propaga a inverdade — afirmou Omar, concordando em pautar o requerimento na sessão de terça.
Renan deixou até mesmo a sala da CPI.
— Essa irresponsabilidade não pode continuar. Isso é a reiteração do crime. O presidente da República não pode chegar a tamanha irresponsabilidade. Os brasileiros estão morrendo! Morrendo! Em função desse descaso, eu me recuso a fazer hoje qualquer pergunta aos depoentes. Com todo o respeito que lhes tenho, mas eu me recuso. Não dá para continuarmos nessa situação. A CPI tem o papel de dissuadir práticas criminosas, como essa do presidente da República. E ele continua a fazê-lo — disse Renan, acrescentando: — Chega! Precisamos dar um basta nisso tudo.
Senadores alinhados ao governo criticaram Renan. Marcos Rogério (DEM-RO), por exemplo, sugeriu que fosse designado outro senador para fazer o papel de relator. Omar Aziz negou o pedido. Renan e Luiz Carlos Heinze (PP-RS), o principal defensor do tratamento precoce na CPI, bateram boca.
— Quero lamentar a atitude de não ouvir os depoentes. São dois pesos e duas medidas — disse Heinze.
— O papel que está fazendo aqui é deprimente — disse Heinze.
— Deprimente é Vossa Excelência, que é um relator parcial — afirmou Renan.
O médico Francisco Eduardo Cardoso Alves disse que a politização do tratamento precoce começou em maio de 2021, numa referência à própria CPI. Omar rebateu.
— Estranhamente, a partir de maio de 2020, passamos a assistir, de forma estarrecida, a politização do tratamento médico — afirmou o médico.
— Não foi a parir de maio que começou. Não foi politizado pela CPI. A CPI trouxe o debate. Não aceitamos e não vamos aceitar alguém fazer apologia a qualquer tipo de medicamento sem ser por um profissional de saúde — disse Omar.