Doria pretende insistir em candidatura presidencial

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Foto: Reprodução/ Valor Econômico

O governador de São Paulo, João Doria (PSDB), redobrou a aposta em sua candidatura à Presidência no próximo ano e tem dito a aliados que mesmo se perder a prévia nacional, não disputará a reeleição no Estado. Nesse caso, o governador poderá ficar fora das eleições de 2022.

Interlocutores do governador lembram que Doria já se manifestou no passado contra a reeleição e que usou a estratégia de se arriscar quando saiu da Prefeitura de São Paulo para concorrer ao governo do Estado, em 2018, um ano e três meses depois de ter sido eleito prefeito. Na época, Doria foi escolhido por 80% dos filiados do PSDB em São Paulo como candidato do partido a governador, derrotando três oponentes. Na disputa estadual, venceu no segundo turno o então governador Márcio França (PSB).

“João Doria não tem plano B, só tem plano A, que é disputar a Presidência”, diz o tesoureiro do partido, Cesar Gontijo, um dos principais interlocutores de Doria no comando nacional do PSDB. “Ou é ser candidato a presidente ou é ser candidato a presidente. Não tem outra opção”, reforça o dirigente. “Ele ganhou as prévias para prefeito e para governador e agora vai ganhar para presidente”, afirma.

O PSDB nacional, no entanto, já deu sinais de que Doria pode enfrentar dificuldades para ser escolhido como o candidato à Presidência. O governador enfrentou um revés na definição do modelo de prévia, anunciado na segunda-feira.

Doria queria uma prévia com a participação de todos os filiados. Dessa forma, poderia ser beneficiado, já que a maior fatia é do Estado de São Paulo. Segundo o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o PSDB tem 1,36 milhão de filiados, sendo 301,4 mil em São Paulo (22,1% do total). A proposta, no entanto, foi derrotada na comissão que apresentou o modelo de prévia. No modelo do colegiado, os filiados terão 25% do peso nos votos. O restante ficará com quem tem mandato.

Há resistência à candidatura de Doria em diretórios que apoiam outros três pré-candidatos: o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite; o senador Tasso Jereissati (CE) e o ex-prefeito de Manaus Arthur Virgílio. E há resistência também entre parte de deputados e senadores, que não querem que o PSDB tenha candidato próprio. Com isso, poderiam conseguir ficar com uma fatia maior dos recursos do fundo eleitoral para concorrer em 2022.

Na terça-feira, dia 8, a Executiva nacional vai se reunir para definir o modelo de prévia e o colégio eleitoral. Até lá, o PSDB paulista e Doria tentam negociar mudanças nas regras, dando mais peso para a militância. O diretório de São Paulo voltará a defender que todos os votos tenham o mesmo valor e que todos os filiados possam votar. Se não houver acordo, apresentarão uma proposta para que os votos dos filiados tenham peso entre 40% e 50%.

Aliados do governador acreditam que a bandeira da vacinação poderá ajudá-lo a ganhar força dentro do PSDB. Doria prometeu vacinar toda a população adulta de São Paulo até 31 de outubro – antes da prévia partidária, marcada para 21 de novembro. Eduardo Leite, no entanto, tem planos parecidos.

Em março, depois de o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva recuperar seus direitos políticos, Doria admitiu a possibilidade de disputar a reeleição, em entrevista a “O Estado de S. Paulo”.

Em abril, mudou de postura e voltou a reforçar sua candidatura presidencial, ao Valor. Agora, os interlocutores do governador dizem que ele reitera a aposta na Presidência e tenta apresentar-se como uma alternativa a Lula e ao presidente Jair Bolsonaro.

Em São Paulo, Doria pretende apoiar seu vice, Rodrigo Garcia, recém-filiado ao PSDB, para sucedê-lo no cargo. Na segunda-feira, Garcia lançou sua pré-candidatura e defendeu a prévia, em um aceno ao ex-governador Geraldo Alckmin, também cotado como pré-candidato. Alckmin tem negociado com partidos como PSD, PSB e DEM sua eventual candidatura, mas o PSDB tenta mantê-lo. Antes, os tucanos tinham oferecido ao ex-governador a candidatura à Câmara ou ao Senado.

Em recados indiretos a Alckmin, dirigentes e parlamentares tucanos ligados a Doria defendem a renovação dos quadros em São Paulo, depois de sete gestões consecutivas do partido no Estado – Alckmin foi governador por quatro mandatos. Afirmam ainda que pelas regras do PSDB, quem está no cargo tem direito a tentar a reeleição sem passar por prévia. A ideia é que Doria deixe o governo para o vice no início do próximo ano e, dessa forma, Garcia seria candidato natural à reeleição.

O presidente estadual do PSDB de São Paulo, Marco Vinholi, afirma que a defesa de prévia feita por Garcia simboliza o início do diálogo no diretório estadual e não descarta nenhuma candidatura. “A declaração de Garcia foi salutar e importante. A partir dela, vamos iniciar consultas internas sobre outros candidatos, há outros nomes dentro do PSDB”, diz.

Questionado se Geraldo Alckmin havia comunicado interesse em concorrer ao Estado, Vinholi prefere não responder e reafirma que o PSDB-SP promoverá conversas para identificar se há outros postulantes. Vinholi destaca a importância da participação nessa dinâmica de prefeitos, de Alckmin e do senador José Serra.

Valor Econômico