Enquanto Bolsonaro atacava OMS, Pazuello pedia socorro à entidade
Foto: Pablo Jacob/Agência O Globo
Oito dias depois de Jair Bolsonaro chamar a OMS de “desacreditada”, em mais um ataque desferido à instituição durante a pandemia, o então ministro da Saúde Eduardo Pazuello pediu socorro ao organismo multilateral pela antecipação de vacinas.
O relato está em um documento sigiloso, em posse da CPI da Covid, encaminhado pelo Itamaraty às delegações permanentes do Brasil em Washington e Genebra.
Em uma carta enviada ao diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom, no dia 19 de março passado, reproduzida às delegações pelo Ministério das Relações Exteriores, Pazuello dizia que o país enfrentava “momento crítico da pandemia de Covid-19, com aumento significativo de número de casos e de óbitos”.
Segundo o então ministro da Saúde, “a melhor maneira de fazer frente a essa situação é seguramente por meio da vacinação acelerada de toda a população”.
E concluía: “é nesse contexto que peço pela antecipação do recebimento das doses de vacinas contra a Covid-19 contratadas pelo Brasil no marco da iniciativa Covax Facility. Do total de 42,5 milhões de doses contratadas, temos alocadas 9.122.400 doses da vacina AZD1222, com apenas 2.997.600 doses com entrega prevista para março corrente.”
No consórcio internacional, o Brasil optou por somente metade das doses que poderia contratar, desistindo de mais de 40 milhões delas.
Uma semana antes do apelo de Pazuello à OMS, que citou a Tedros Adhanom as “prósperas relações” entre o Brasil e a instituição, Bolsonaro distorceu falas de dirigentes da organização para chamá-la de “desacreditada”, depois de já ter anunciado que o Brasil poderia deixar de fazer parte dela.