Famílias disputam comando de provável novo partido de Bolsonaro
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O racha que veio à tona no Patriota após a filiação do senador Flávio Bolsonaro (RJ) na segunda-feira e o convite ao presidente Jair Bolsonaro, anunciado ontem, envolve divergências nos estados e uma disputa pelo comando do partido em 2022, opondo duas famílias. De um lado, o presidente e fundador da legenda, Adilson Barroso, vê no apoio de Bolsonaro a possibilidade de ampliar seu mandato partidário e disputar uma cadeira na Câmara. De outro, o grupo mais próximo ao vice-presidente Ovasco Resende, integrado ao Patriota após a incorporação do PRP, acusa Barroso de trair um acordo de gestão compartilhada e de ter marcado à revelia a convenção de apoio a Bolsonaro.
O estatuto remodelado do Patriota em 2018 para agregar o PRP, medida que permitiu aos partidos vencerem a cláusula de barreira e manterem acesso ao fundo eleitoral, definiu mandatos de quatro anos para Barroso e Resende, até novembro de 2022. Segundo o documento registrado no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), presidente e vice deveriam tomar “em conjunto” atos como nomeações em diretórios e a realização de convenções partidárias.
Aliados de Resende afirmam reservadamente que Barroso tenta descumprir um pacto no qual teria aceitado passar a presidência do Patriota adiante no ano que vem. A ala egressa do PRP apoia um grupo de parlamentares do Patriota não alinhados a Barroso, encabeçados pelo deputado federal Fred Costa (MG), citado nas discussões da convenção de segunda-feira como possível sucessor na presidência do partido.
Ontem, em suas redes sociais, Flávio Bolsonaro anunciou que o pai recebeu o “convite oficial” de Barroso e que “quer conversar com os deputados de sua base para, em breve, anunciar a decisão”.
Costurando para se aproximar de Bolsonaro desde seu rompimento com o PSL em 2019, Barroso entregou diretórios de estados como Paraná, Paraíba, Pernambuco e Piauí a aliados do presidente. Em 2020, os principais desempenhos do Patriota vieram com os bolsonaristas Delegado Eguchi, segundo colocado na eleição à prefeitura de Belém, e Suéllen Rosim, eleita prefeita de Bauru (SP) e posteriormente incluída por Barroso no diretório nacional, em manobra contestada no TSE.
Na bancada federal, enquanto os deputados Evandro Roman (PR) e Pastor Eurico (PE) apoiam a aproximação a Bolsonaro, quatro parlamentares evitam endossar sua candidatura à reeleição, por conta de questões locais. No Maranhão, por exemplo, o deputado Júnior Marreca é aliado do governador Flávio Dino (PCdoB), que apoia a candidatura do ex-presidente Lula (PT). Em Minas, Fred Costa tem como bandeira a defesa dos direitos dos animais e quer evitar a polarização nacional, posição acompanhada pelo correligionário Dr. Frederico. Já o deputado Alcides Rodrigues, ex-governador de Goiás, é egresso do PRP e aliado de Resende.
Na junção dos partidos, Barroso manteve a presidência do Patriota e emplacou quatro familiares na Executiva nacional, incluindo a filha, Fabiana, vice-prefeita de Barrinha (SP), e o irmão, Aguinaldo Barroso, tesoureiro do partido. Resende, por sua vez, teve sete familiares — mãe, mulher, dois filhos, irmã e dois sobrinhos — na Executiva, além de ter assumido os diretórios de Rio e São Paulo, cobiçados pelos filhos de Bolsonaro. Juntas, as famílias Barroso e Resende respondem por um terço das 34 cadeiras do diretório nacional.
Ovasco Resende comandou o PRP por duas décadas após herdar o partido do pai, Dirceu, ex-vereador com reduto no Oeste paulista. Barroso, que foi deputado estadual pelo Prona em 2002, fundou o Patriota em 2011 e já tentou se eleger à Câmara duas vezes, sem sucesso. Na convenção que filiou Flávio Bolsonaro, marcada às pressas em Barrinha, Barroso anunciou também uma mudança no estatuto e a destituição de quatro delegados ligados a Resende no diretório nacional, incluindo o próprio ex-presidente do PRP e sua filha, Bárbara.
— Esperamos que a Justiça resolva esses abusos e os atos ilícitos — afirmou o secretário-geral do Patriota, Jorcelino José Braga, aliado de Resende e um dos signatários da petição enviada ao TSE para que a convenção de segunda-feira seja anulada.
Desde que deixou o PSL, Bolsonaro vem manifestando interesse em se filiar a um partido onde tenha controle de recursos partidários e do comando de diretórios estratégicos, como Rio, reduto do senador Flávio Bolsonaro, e São Paulo, do deputado federal Eduardo Bolsonaro. Além desses estados, ambos ligados a Resende, outro diretório na mira do bolsonarismo é o de Minas Gerais, comandado por aliados de Fred Costa.
Em 2018, quando Bolsonaro ainda negociava com Barroso uma possível filiação ao Patriota antes de optar pelo PSL, o diretório mineiro foi alvo de queda de braço entre Costa e Marcelo Álvaro Antônio, à época no PR. Sem acordo para assumir o Patriota em Minas, Álvaro Antônio rumou com Bolsonaro para o PSL, tornou-se ministro do Turismo e foi indiciado pela Polícia Federal, em 2019, acusado de coordenar um esquema eleitoral de laranjas.