Fundação Palmares promove expurgo ideológico em acervo
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A Fundação Cultural Palmares publicou um relatório intitulado “Retrato do Acervo: A Doutrinação Marxista” na manhã desta sexta (11).
“Todas as pessoas de bem ficarão chocadas ao descobrir que uma Instituição mantida com o dinheiro dos impostos, sob o pretexto de defender o negro, abriga, protege e louva um conjunto de obras pautadas pela revolução sexual, pela sexualização de crianças, pela bandidolatria e por um amplo material de estudo das revoluções marxistas e das técnicas de guerrilha”, escreve o presidente da fundação, Sérgio Camargo, no início do relatório.
Segundo o documento, o acervo da fundação conta com 9.565 títulos, dos quais 46% são de temática negra, enquanto 54% são de temática alheia à negra
“Todas as obras que corrompem a missão cultural da Palmares serão excluídas nesta sexta-feira, 11. Um livramento!”, anunciou Camargo no Twitter.
Além de obras de Marx, Engels e Lênin, a lista do expurgo de livros contém títulos de autores como Max Weber, Eric Hobsbawn, H. G. Wells, Celso Furtado, Marco Antônio Villa.
Ainda segundo o documento, nenhum livro será destruído. “Todo o acervo da Fundação Cultural Palmares segue sendo tratado com o maior cuidado e armazenado de forma adequada e em ambiente protegido, aguardando os procedimentos de doação. Ainda hei de postar a lista dos pretos racistas da esquerda. Há muitos! Um deles chegou ao ponto de chorar pelo então presidiário Lula, na porta da cadeia!”, postou Camargo no Twitter
Ainda hei de postar a lista dos pretos RACISTAS da esquerda. Há muitos!
Um deles chegou ao ponto de chorar pelo então presidiário Lula, na porta da cadeia! 🤦🏽🤦🏽🤦🏽— Sérgio Camargo (@sergiodireita1) June 11, 2021
“Assim como um livro exclusivamente sobre sistemas hidráulicos será excluído simplesmente por ser um livro sobre sistemas hidráulicos, os marxistas também serão. Porque, a rigor, tanto o marxismo quanto os sistemas hidráulicos nada têm a ver com o escopo da Palmares e com a cultura negra.”
“Porém, se for publicado um livro intitulado ‘Os Quilombolas e seus Sistemas Hidráulicos’, então esse título entrará automaticamente no escopo da Fundação; assim como entra no escopo o livro intitulado ‘Black Marxism – Marxismo Negro’, de Cedrick J. Robinson, já constante do acervo, no qual permanecerá.”
Pesquisadores do campo racial no país e de temas afro-brasileiros costumam ter o acervo da Fundação Cultural Palmares um importante referencial para seus estudos.
“Supor que a memória negra é esta coisa insulada é uma forma de ignorância, uma forma de negacionismo. Se você não tem um livro sobre a Revolução Francesa ali, você não vai conseguir estabelecer relações interpretativas com a Revolução do Haiti. Não vai conseguir entender os movimentos africanos sem se servir minimamente dos estudos marxistas. Não vai conseguir analisar o feminismo negro se você não estabelecer um diálogo mínimo com Simone de Beauvoir”, diz Paulo César Ramos, sociólogo, pesquisador do Afro-Cebrap e coordenador do projeto Memória e Identidade do Ativismo Afro-brasileiro.
“Isso aí [o relatório] é um grande delírio. Se esses livros estão lá, estavam lá por alguma razão. A Fundação Cultural Palmares deve lidar com esse histórico e não simplesmente supor que vai acabar com a história acabando com os livros”, diz o pesquisador. “Em vez de banir essas referências, eles deveriam se aproximar do que eles supõem serem as verdadeiras alianças que um projeto de emancipação racial que a direita deveria seguir.”
Segundo o relatório, 54% do acervo contém temas como “sexualização de crianças, ideologia de gênero, pornografia e erotismo, manuais de guerrilha, manuais de greve, manuais de revolução, bandidolatria, bizarrias”.
Parte do material foi dividido em grupos como “iconografia delinquencial”, “iconografia sexual”, “intromissão partidária”, “sexualização de crianças”, “pornografia juvenil”, “técnicas de vitimização”, “livros esdrúxulos e destoantes”, “livros eróticos, pornográficos e ‘pedagógicos'”, “livros de/e sobre Karl Marx”
“livros de/e sobre Lênin e Stalin” e “material obsoleto”.
No início do mês, Sérgio Camargo anunciou que todos os arquivos atrelados ao guerrilheiro comunista Carlos Marighella serão excluídos do acervo da instituição.
“Além do imprestável Marighella, livros que promovem pedofilia, sexo grupal, pornografia juvenil, sodomia e necrofilia também estão com os dias contados na [Fundação] Palmares. Serão excluídos do acervo”, escreveu Camargo.