Inflação alta pode dar mais dinheiro ao governo em ano eleitoral

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Foto: Reprodução

O economista Roberto Campos (1917-2001) definiu a inflação como um monstro brutal e cruel que tortura particularmente os assalariados. Se os dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, o IBGE, de alta acumulada dos preços em 8,06% em 12 meses, não são tão assustadores como os quatro dígitos que compunham o índice inflacionário dos anos 1980 e começo dos 1990, o cenário atual não pode ser considerado confortável. Como mostra VEJA na edição desta semana, a divulgação acendeu alerta no Ministério da Economia. No Palácio do Planalto, a preocupação é outra, como afetará os planos reeleição.

E, para o governo, ela pode trazer sentimentos ambivalentes. Afinal, inflação costuma ser muito para o povo do que para governos. “Obviamente que a inflação impacta na popularidade do governo. Ela atinge mais as camadas de menor renda, nas quais se tem maior contingente de eleitores, o mesmo grupo que sofre mais com o desemprego ou que está em vagas mais precarizadas”, afirma Gustavo Loyola, ex-presidente do Banco Central. Aliada aos efeitos de sua gestão inconsequente no controle da pandemia, a recuperação econômica deverá ser vital para que o presidente Jair Bolsonaro consiga se consolidar como candidato favorito para o pleito do ano que vem. Divulgada nesta sexta-feira, 11, a pesquisa XP/Ipespe aponta que 50% dos brasileiros consideram a administração federal ruim ou péssima.

Mas se, por um lado, a inflação corrói tanto o poder de compra da população quanto a popularidade do presidente, por outro, pode contribuir para que Bolsonaro utilize-se de artifícios econômicos, em busca de uma melhora de imagem. Altas na taxa do Índice Geral de Preços ao Consumidor Amplo, o IPCA, provocam aumento nominal de arrecadação, o que ajuda a aplainar a draga fiscal e reduzir o déficit primário. Em 2020, graças aos gastos engendrados no combate à pandemia, a relação entre dívida e PIB elevou-se de forma jamais antes vista, com muitos economistas antecipando que chegaria a 100%. Mas, nos últimos meses ela caiu para a casa dos 85%, beneficiada pela inflação no PIB, que subiu mais que os juros da dívida. Esse alívio na porcentagem da dívida em comparação com o tamanho da economia também ajuda a explicar a maior tranquilidade dos investidores na bolsa de valores, nas últimas semanas. Eles, que estavam bastante preocupados com a trajetória da questão fiscal brasileira. O governo, no entanto, não deve entender que a “melhora” no cenário fiscal significa maior possibilidade para gastar — em especial, em que não seja prioridade. “Existe um alívio fiscal temporário e não deveria ser usado para aumentar gastos”, avalia Loyola.

Outro fator que traz alívio ao governo é quanto ao teto de gastos. Pela regulamentação da regra, aprovada durante o governo de Michel Temer, o limite do teto para os gastos do governo são definidos com a inflação até o meio do ano, baseado no IPCA acumulado em doze meses, de junho a junho, de forma que o governo possa planejar no segundo semestre o Orçamento para o ano seguinte. A questão é que, segundo os observadores econômicos, a inflação de doze meses em junho de 2021 deve ficar bem acima da contabilizada ao fim de dezembro do mesmo ano, que é utilizada para definir o salário mínimo, a referência para os aumentos de salários de diversos cargos públicos. Assim, para 2022, o teto vai subir mais do que os encargos do governo com pessoal.

Com isso, sobrará mais espaço para o governo de Jair Bolsonaro remanejar recursos, que podem servir para esbanjar em obras em estados vitais para sua campanha eleitoral e para anabolizar programas de distribuição de renda, como o Bolsa Família. Em ano eleitoral, cada recurso é valioso, principalmente, para um mandatário em constante campanha. No entanto, se um reajuste baseado em taxas altíssimas de inflação podem ser bons para quem está no poder, acabam, porém, custando muito ao país.

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