Inquérito da PF revela servidora que intrigou Bolsonaro e general demitido
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Relatório da Polícia Federal que consta no inquérito dos atos antidemocráticos sobre diálogos extraídos do celular do blogueiro Allan dos Santos mostra não só a influência e acesso do dono do site Terça Livre ao ex-secretário de Comunicação da Presidência Fábio Wajngarten, mas a outros aliados do presidente Jair Bolsonaro. A PF encontrou mensagens em que uma mulher que se apresenta como Carolina Gaia e Silva afirma ao dono ao site Terça Livre ser Assessora Especial do Gabinete da Secretaria de Governo do então ministro Santos Cruz e relata que ela seria a autora de vazamento dos prints que culminaram em crise entre o general e o chefe do Executivo.
Ana Carolina é atual chefe de gabinete do ministro Luiz Eduardo Ramos. Foi com a saída do general que Ramos chegou ao Palácio do Planalto – primeiro como secretário de governo, no lugar de Santos Cruz, e agora como chefe da Casa Civil. Quem conhece Ana Carolina diz que ela teve uma trajetória ascendente com Ramos.
As mensagens de WhatsApp que levaram à demissão do general da Secretaria de Governo de Bolsonaro mostravam um diálogo crítico aos filhos de Bolsonaro e a um ‘Fábio’. À época, o general chegou a afirmar que as mensagens eram falsas e que teriam ocorrido em um horário em que ele estava em voo, e não poderia, portanto, usar o aplicativo WhatsApp. Em janeiro de 2020, a PF concluiu que as mensagens eram falsas.
Nas mensagens encontradas no celular de Allan dos Santos, a moça que se identifica como Carolina pede para que blogueiro não ‘estranhe’ o número usado para contatá-lo. “Foi uma mandeira segura que eu encontrei de ter essa conversa sem a vigilância da ABIN”, disse. Após relatar sobre a suposta autoria dos prints, Carolina disse que passou as imagens diretamente ao ‘Fábio da Secom’, que ‘levou ao conhecimento’ do presidente. Segundo ela, Bolsonaro ‘infelizmente não teve a coragem de fazer o certo’ e exonerar Santos Cruz.
A mulher segue relatando que ela havia obtido as imagens a partir do celular do coronel Varêda, chefe de gabinete de Santos Cruz, ‘em um momento de distração dele’. “O que eu fiz, fiz pelo meu país. Não concordo com as ações que vêm sendo tomadas pelo ministro e por alguns militares do governo, de clara sabotagem e traição. Eu te procurei porque tenho certeza que você terá coragem de publicar a história correta e resgatar a verdade sobre isso. Procure o Fábio da Secom, ele sabe da história, pode falar sobre mim (só com ele)”, registra uma das mensagens apreendidas pela PF.
As mensagens de Carolina foram encaminhadas por Allan dos Santos ao filho 02 do presidente, o deputado federal Eduardo Bolsonaro. Ele respondeu ao compartilhamento do conteúdo com um emoji.
Outas mensagens apreendidas no celular do blogueiro bolsonarista também faziam menções a Santos Cruz. Em 6 de maio de 2019, Allan escreveu para Wajngarten: “Fábio, não dá mais. Santos Cruz é um fdp. Coloca o Carlos no lugar dele”.