Jefferson e empresário bolsonarista conspiraram contra o STF
Foto: Leandro Ciuffo Wikimedia Commons
Mensagens reveladas pelo inquérito do atos antidemocráticos mostram o empresário Otávio Fakhoury e o ex-deputado Roberto Jefferson (PTB) conversando sobre como fazer mudanças no Supremo Tribunal Federal (STF). Nos diálogos, Fakhoury sugere uma “saída plebiscitária”, enquanto o ex-deputado admite que tem um posição “muito mais forte” e defende a cassação dos 11 ministros da Corte.
Na visão do empresário, deveria ser realizado um plebiscito para ouvir a população sobre a ideia de dissolver “a alta instância” do Poder Judiciário e criar “uma nova corte constitucional nos moldes da americana”.
Roberto Jefferson, então, diz que um plebiscito precisaria ser aprovado pelo Congresso e que essa proposta “nunca” passaria.
Fakhoury aponta que o presidente Jair Bolsonaro poderia editar uma medida provisória para mudar a maneira que são convocados os plebiscitos. Segundo ele, a tese estava sendo discutida em um grupo de advogados, empresários e profissionais liberais.
Ele reconhece, no entanto, que essa seria uma ideia difícil de viabilizar, e passa então a comentar a proposta de Roberto Jefferson.
“Seria essa outra proposta que você mencionou que também tem suas dificuldades, que precisa ter apoio das Forças Armadas para que possa ir adiante e… Não sei como. A gente discute lá outras formas para ver se… Tudo envolve apoio popular e vai acabar envolvendo apoio armado também né. Apoio das forças de segurança do Brasil”, diz.
As mensagens são de maio do ano passado. Procurado, o empresário disse que jamais defendeu o uso de violência para efetivar mudanças no STF e que fez essa referência ao mencionar a ideia de Roberto Jefferson.
À reportagem, ele reproduziu os áudios que enviou ao ex-deputado e ressaltou que não havia “ódio” em seu tom de voz. “A minha proposta é ouvir o povo. Como alguém pode me chamar de antidemocrático, se eu estou propondo ouvir o povo”, disse.
O Valor procurou a assessoria do PTB, mas não obteve resposta.
Anteontem, o ministro Alexandre de Moraes, relator do inquérito que tramita no Supremo, decidiu retirar o sigilo de uma nova leva de documentos.
O material mostra que a Polícia Federal (PF) pediu que fossem realizadas buscas na Secretaria Especial de Comunicação Social (Secom) e no Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos para aprofundar as investigações, mas a Procuradoria-Geral da República (PGR) se manifestou contra as diligências.
O objetivo da PF era descobrir se recursos do governo federal teriam sido destinados a sites ou ajudado na monetização de canais que defendiam o fechamento do Congresso e do STF.
O pedido da PF também mirou Fabio Wajngarten, que comandava a Secom. Os documentos trazem diversas conversas entre ele e o blogueiro Allan dos Santos. Em um dos grupos que os dois participavam, chegou a se discutir a criação de um departamento de “comunicação estratégica e contrainformação” para assessorar o Palácio do Planalto.
Procurado, Wajngarten disse que não era alvo do inquérito e negou os repasses. A reportagem não conseguiu contato com Allan dos Santos.