Legiões de famílias estão caindo na pobreza

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Foto: Reprodução/ Internet

A pandemia do novo coronavírus aumentou os índices de pobreza no Distrito Federal em 2021. Segundo o Cadastro Único para Programas Sociais, 9.934 núcleos familiares passaram a viver na miséria entre 1º de janeiro e 30 de abril.

Em janeiro, 160.937 famílias viviam com rendas mensais per capita abaixo de meio salário mínimo (R$ 550), em diferentes faixas de pobreza. Ao final de abril, esse número passou para 170.871.

O crescimento mais acentuado foi na faixa de renda abaixo de R$ 89 por mês, que caracteriza a extrema miséria: alta de 8,3%.

Na comparação entre regiões administrativas, a pobreza avançou com mais força em Ceilândia, em números absolutos, onde 1.744 famílias passaram a viver na miséria.

Foi o que aconteceu com Alexandre Silveira de Paula, 36 anos. Em 2020, ele tinha uma barbearia e um carro, em Juazeiro (BA). A pandemia quebrou o empreendimento e ele veio para o DF, onde passou a morar na rua com a família.

“Eu me sinto socado. Arrebentado. Essa pandemia me quebrou”, lamenta. Ele habita um barraco com a esposa e três filhos, em uma comunidade com sete famílias. Sobrevivem vendendo balas e recebendo doações para driblar a fome. Sem cobrar um centavo, Alexandre corta o cabelo das crianças da comunidade.

O barbeiro lembra das fotos de casamento postadas nas redes sociais, antes da crise. Mesmo na adversidade, Alexandre tem esperanças de superar a crise e recuperar um emprego e um teto para a família. “As condições da vida nos trouxeram para cá. Mas vamos superar. A gente não quer isso para nossos filhos”, afirma.

Residente na região da Fazendinha, no Sol Nascente, Diane Alves dos Reis (foto de destaque), 29 anos, vive com o marido e cinco filhos. A família sobrevivia com bicos. Mas, neste ano, as chances de emprego estão mais escassas. Sem condições de continuar pagando pelo gás de cozinha, montaram um forno a lenha, em cima de uma geladeira velha.

Diane sonha com o fim da fase aguda da pandemia, seja para poder voltar a buscar um emprego, seja para as crianças regressarem com segurança à sala de aula na escola pública. Por enquanto, o coração está apertado. “Sinto mais angustia. Ainda não vejo a luz no fim do túnel”, desabafa.

Segundo a líder comunitária da Fazendinha Sandra Ribeiro Bento, após a segunda onda da pandemia, a situação ficou pior. As doações diminuíram em relação a 2020. Faltam máscaras, agasalhos e alimentos. “Precisamos de material de construção para montar um galpão e fazer a distribuição de cestas básicas”, conta.

Do ponto de vista do presidente regional da Central Única das Favelas no DF (Cufa-DF), Bruno Kesseler, cresce o número de pessoas que nunca precisaram de um cesta básica mas que, atualmente, estão em filas de doações e auxílios. A Cufa-DF atua em 16 regiões do DF. Em todas, o aumento da miséria é constatado.

Estudo da Cufa-DF aponta que 54% dos moradores das regiões carentes são autônomos. “Neste período de pandemia, muitas pessoas perderam as suas fontes de renda. Não tiveram como trabalhar. E quem tinha emprego de carteira assinada também perdeu. Muitos negócios fecharam e acabaram tendo que demitir”, explica.

Para Kesseler, a melhoria da qualidade de vida nesses territórios depende de políticas públicas conectadas com a realidade das comunidades. Na pandemia, a Cufa distribuiu cestas básicas para mais de 120 mil famílias. Foram repassadas mil toneladas de alimentos, fora outros itens, como máscaras e 2,5 mil botijões de gás.

Para tentar melhorar a vida dessas pessoas, a entidade lançou o projeto de capacitação on-line Cufa Empreenda. “A única forma de as pessoas conseguirem aproveitar as oportunidades de emprego que aparecem é estando capacitadas”, assinala Kesseler.

A primeira etapa do programa terminou em abril. Mais de 3,5 mil pessoas se inscreveram. A média, por dia de aula, foi de 140 alunos. As ofertas foram customizadas balanceando as necessidades das pessoas e as do mercado. “Estamos organizando outra etapa do Cufa Empreenda, no segundo semestre”, diz.

Parte dos cursos focou na renda a curto prazo, como design de sobrancelha e maquiagem. “A pessoa já está automaticamente habilitada para oferecer o serviço à sua vizinha, a um parente, amigos”, detalha. Há também cursos com objetivo de recuperação da renda a médio e longo prazo.

A Secretaria de Desenvolvimento Social do DF (Sedes-DF) reconhece o aumento da pobreza nesta fase da pandemia. Segundo a secretária adjunta de Desenvolvimento Social, Ana Paula Marra, a pasta trabalha em projetos para conter e minimizar a miséria, com o objetivo de retirar as famílias da condição de vulnerabilidade.

Para apoiar a população de rua, a secretaria instalou alojamentos provisórios em Ceilândia e Brasília. Para 2021, a Sedes-DF está ampliando as vagas nas unidades de acolhimento. As cestas básicas foram convertidas no programa Prato Cheio. O quadro de pessoal na secretaria foi reforçado para a ampliação do atendimento.

Até o final de 2021, a pasta tem a intenção de ampliar a cobertura do Prato Cheio para atender 40 mil famílias. Além disso, o tempo de permanência no programa aumentou de três para seis meses. “Com isso, a gente garante comida na mesa das pessoas que estão em situação de vulnerabilidade social”, destaca.

De acordo com a secretaria, famílias carentes podem solicitar o auxílio- vulnerabilidade e o auxílio-calamidade, juntos, os benefícios chegam a R$ 408. O socorro é válido para situações de desemprego. Em parceria com a Secretaria do Trabalho, a Sedes trabalha em programas de qualificação profissional e capacitação para o mercado de trabalho.

Metrópoles