Lula apoia Freixo mas PT admite aval a palanque de Paes
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Num encontro de mais de três horas de duração com dirigentes e parlamentares do PT e da esquerda fluminense, no primeiro dos três dias de sua visita ao Rio, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva pavimentou ontem as bases da candidatura a governador do deputado federal Marcelo Freixo (Psol-RJ), no movimento de construção de seu palanque estadual para 2022.
A visita de Lula ocorre em paralelo aos últimos capítulos da novela que se tornou a saída de Freixo do Psol para o PSB, onde a candidatura do parlamentar é vista como mais competitiva. É de interesse tanto de Lula quanto de Freixo conquistar o eleitor de centro e atrair o grupo político do prefeito Eduardo Paes (PSD) numa aliança que é vetada pelo Psol.
O anúncio da filiação do deputado ao PSB era aguardado para hoje. Ao sair da reunião, porém, Freixo disse que não, mas “espera que seja logo”, e informou que estava indo para uma reunião com o atual partido. O parlamentar afirmou que o Psol estará em sua aliança.
No encontro, no hotel da zona sul carioca onde está hospedado, Lula conversou com Freixo; os deputados federais Jandira Feghali (PCdoB) e Alessandro Molon; presidente regional do PSB; o deputado estadual e ex-ministro Carlos Minc (PSB), e mais de 30 petistas.
Um dos presentes relatou que o ex-presidente tratou mais do cenário nacional, disse que “vai ser uma eleição dura e que será preciso ser generoso”. Lula defendeu uma frente ampla. Na saída, no entanto, a presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann, reconheceu que Lula poderá ter no Rio dois palanques estaduais. Paes defende a candidatura a governador do presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Felipe Santa Cruz, que deve se filiar ao PSD do prefeito.
“É possível. Temos uma eleição em dois turnos. Não precisa estarem todos no mesmo palanque no primeiro turno. Não é a ferro e a fogo que está se buscando uma aliança eleitoral”, disse Gleisi.
Líder do PT fluminense, Washington Quaquá também citou a possibilidade. “Lula já teve três palanques no Rio, com Pezão, Lindbergh e Crivella”, afirmou o dirigente, sobre a eleição de 2014, quando a candidata do PT foi a presidente Dilma Rousseff.
Além de Gleisi e Quaquá, entre os petistas estavam vereadores, como Lindbergh Farias; deputados estaduais, como o presidente da Assembleia Legislativa André Ceciliano; a deputada federal Benedita da Silva; e o prefeito Fabiano Horta, de Maricá, único dos 92 municípios governado pelo partido.
De acordo com Quaquá, a ida de Freixo para o PSB é o melhor caminho para viabilizá-lo na disputa ao Palácio Guanabara e “ajuda a trazer o PSB nacional para a aliança do Lula”. A filiação torna o apoio ao deputado mais uma das moedas de troca do PT no tabuleiro nacional. Além de Freixo no Rio, os petistas estariam dispostos a apoiar os candidatos do PSB em Pernambuco, o ex-prefeito do Recife Geraldo Julio; no Espírito Santo, o governador Renato Casagrande; e em São Paulo, o ex-governador Márcio França.
Hoje, Lula e Eduardo Paes almoçam no Palácio da Cidade, para onde o prefeito também levará seu grupo político, com dirigentes e parlamentares. Antes, pela manhã, o petista visitará a vizinhança de um estaleiro em Niterói. Segundo Quaquá, a ideia era percorrer as instalações de construção ou reparo de navios, para deixar claro que a retomada da indústria naval é prioridade para Lula. No entanto, empresários do setor relataram “medo de Bolsonaro fazer retaliação” caso recebessem Lula e, por isso, a visita ficará restrita aos arredores.
No fim da tarde, o ex-presidente se encontrará, no hotel, com um grupo de trabalhistas históricos que estão migrando para o PT, como o ex-deputado Vivaldo Barbosa e o ex-vereador Leonel Brizola Neto, que tem o nome do avô e fundador do PDT, cujo presidenciável em 2022 é Ciro Gomes.
Amanhã, o ex-presidente terá um encontro com líderes comunitários e do movimento negro, pela manhã, e uma reunião com artistas e intelectuais, à tarde. Em julho, Lula visitará quatro ou cinco capitais do Nordeste, adiantou Gleisi.