Prefeito de BH não quer nem Bolsonaro, nem Lula
Foto: Amira Hissa / Divulgação
O prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil (PSD), afirma que tende a não apoiar o presidente Jair Bolsonaro nas eleições de 2022 e vê dificuldades para uma candidatura de terceira via para a Presidência. Kalil evita ataques diretos ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, apesar de dizer que o PT deve dar explicações sobre as denúncias de corrupção na Petrobras. Em entrevista ao GLOBO, o prefeito sinalizou que poderá repetir a estratégia que utilizou em 2020, quando se elegeu no primeiro turno, e disputar o governo de Minas Gerais de forma independente.
Com seu estilo autêntico não poupa o governador Romeu Zema (Zema), que tem potencial para ser seu principal rival na disputa ao Palácio da Liberdade. Ao comentar declarações recentes de Zema que tem tentado se descolar de Bolsonaro após se eleger na onda conservadora de 2018, Kalil afirma que “é tarde” para o governador se afastar do presidente e que está “ao lado de quem não defendeu a vida”.
O senhor será candidato ao governo de Minas?
Olha, eu não descarto isso. Mas eu acho que o momento está errado. Já se fala em terceira onda, o que Deus me livre. Sabemos que o próprio governador de Minas (Romeu Zema) está em franca campanha à reeleição. Mas não me vejo em condições morais de fazer campanha.
Zema tem tentado se descolar de Bolsonaro. Em entrevista ao GLOBO, disse que lamenta sua postura na pandemia. Como vê esse movimento?
O recado que eu dou é que agora é tarde, com 500 mil corpos empilhados. Não é hora de mudar de lado. Tem o lado de quem defendeu a vida e de quem não defendeu a vida.
Isso quer dizer que Zema está do lado de quem não defendeu a vida?
Acho que sim.
E o senhor, estará do lado do presidente Bolsonaro?
O voto é secreto, mas eu tenho uma tendência de centro. Não aceito carimbo, não quero por uma estrela no peito. Quero me posicionar na hora certa. Eu tenho uma tendência a não ficar com o Bolsonaro? Tenho, claro, até pelo meu jeito de governar. Agora, que eu vou pular no outro colo vai uma distância colossal.
O senhor já fez muitas críticas ao Lula e ao PT no passado. O senhor concorda com a posição do Lula de que ele foi vítima de perseguição por parte do Ministério Público?
Eu não critiquei, não. Nem precisava de crítica. O cacete era tão grande, que uma porradinha minha não ia valer de nada.
Tem algumas declarações suas em entrevistas.
É, é, eu tenho secretários filiados ao PT, como tenho secretários filiados ao PSDB. Agora, o que ficou claríssimo pra todo mundo, como eu sempre disse que era e hoje está provado, no dia que o juiz (Sérgio Moro) foi ser ministro, aquilo foi uma cusparada na cara do povo brasileiro. Foi indefensável.
Quando Fernando Haddad fez uma visita ao senhor em fevereiro, o senhor disse que não queria estar ao lado de quem não compra vacina e de quem rouba a Petrobras. Continua com essa posição?
Continuo. É por isso que eu digo eu não costumo pular no colo de quem não explica muito bem as suas coisas.
O PT teria que explicar as denúncias de corrupção?
E tem que ser melhor explicado. Porque agora ficou aquele negócio, tirando os diretores que confessaram, o resto nós temos que apurar tudo de novo.
Como vê os posicionamentos do presidente Bolsonaro contra medidas de isolamento e o próprio estado democrático?
Acho que uma hora que descumprir uma determinação legal do Supremo, do Legislativo, do Tribunal de Contas, podemos ficar preocupados. Houve, sim, uma tentativa de enfraquecer as instituições. E, ao meu ver, as instituições têm que se cuidar, claro. Agora, esse negócio de reunir dez mil motocicletas não é ameaça a nada.
Se Bolsonaro for a Belo Horizonte fazer um ato semelhante ao que ele fez em São Paulo no sábado, ele vai ser multado?
Vai. Fazer o quê?
O senhor cogita ser candidato a presidente em 2022?
Eu estou no tabuleiro. Eu estou no jogo. Eu não vou me tirar do jogo. Mas, a princípio, não (cogito).
O senhor vê chances para uma terceira via em 2022?
Acho difícil uma terceira via consensual. Não vi ninguém falar assim: “estou na terceira via de qualquer maneira, sendo candidato, ou não”. Essa terceira via não surgiu ainda. Seria um bloco de terceira via, que sairia unido? Aí eu acredito. Quanto mais vias, melhor.
Qual a avaliação do senhor em relação à gestão da pandemia pelo governo federal?
Péssima. A minha gestão vai na contramão do governo federal. Fomos a primeira capital a fechar, estou numa cidade com mais de 1 milhão de habitantes, que a cada cem mil habitantes tem menos mortes no Brasil. Acho que máscara é obrigatória, que o isolamento social é a única solução e que tem que ter vacina no braço.
Como o senhor vê a atuação do governador de São Paulo, João Doria?
Vejo que o Doria foi um dos responsáveis pela vacinação no Brasil. Tirar o mérito do Butantan e do governo de São Paulo, que deu o start nesse assunto da vacina, é cretino e covarde. Se errou na parte midiática, isso é outra coisa. Para ser o candidato de centro, é outro assunto.
O Ciro tem interesse em ter o senhor de vice. O que o senhor acha das chances dele?
O Ciro é um ótimo nome. Agora, ele tem que arregimentar esse centro. Ele tem que se viabilizar.
O senhor acha que ele tem que dosar a retórica dele?
Tem que tomar lexotan toda manhã.