Presidente da OAB compara Bolsonaro a barril de dinamite
Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil
“Nós estamos numa bomba relógio, sentados em cima de um barril de dinamite”. Foi com essa frase que Felipe Santa Cruz, presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), terminou entrevista dada à coluna durante live transmitida nesta quinta, 17, no Instagram.
Ao dizer a frase que começa esse texto, Felipe estava se referindo às eleições de 2022 e à oportunidade que o brasileiro terá de tirar Jair Bolsonaro do poder. Para o advogado, o país hoje é governado por um traidor da pátria, que defende a ditadura militar e que não cumpriu seu compromisso de honrar a Constituição Federal.
“O presidente não honra essa Constituição, é traidor dessa Constituição e por isso é traidor da pátria e deve ser sim, pelo voto, afastado na eleição do próximo ano”, afirma.
O presidente da OAB ainda destacou que espera que o próximo ocupante da cadeira de Presidente da República honre a Constituição.
“Não importa o viés ideológico do próximo presidente, mas que na hora que ele coloque a mão sobre a Constituição Federal, que ele jure de coração e cumpra com disciplina”, enfatiza.
Em três anos de Bolsonaro já houve muitos momentos de esgarçamento institucional, diz o presidente da OAB. Na avaliação de Santa Cruz, será um risco enorme para as instituições termos oito anos de Bolsonaro.
Felipe Santa Cruz sabe o que diz. Filho de Fernando Augusto de Santa Cruz Oliveira, desaparecido na época da ditadura, ele já foi atacado por Bolsonaro, a quem chamou de “covarde” algumas vezes durante a entrevista. “O presidente é acima de tudo um covarde!”, disse o advogado na live.
Em julho de 2019, irritado com o processo envolvendo Adélio Bispo e a facada que levou durante sua campanha, Bolsonaro afirmou que Felipe não iria querer ouvir a verdade sobre seu pai.
“Um dia se o presidente da OAB quiser saber como é que o pai dele desapareceu no período militar, eu conto para ele. Ele não vai querer ouvir a verdade. Eu conto para ele”, afirmou o presidente.
Embora tenha sido atacado de forma dura, Felipe ressalta que há uma direita democrática no país que não se assemelha com a postura de Bolsonaro. “Há uma direita que fez parte da redemocratização, que foi importante para a redemocratização, que aceitou os resultados eleitorais, aceitou a vontade das urnas”, destaca.
“No fundo tem nisso um certo desígnio histórico. Lembro que foi você o primeiro escrever um perfil mesmo. Eu era o candidato ainda, mas estava claro que eu ganharia. Nem eu nem você imaginávamos que essa questão estaria tão viva no meu mandato”. Disse Felipe Santa Cruz.
Sobre a CPI da Pandemia no Senado, o advogado diz que a comissão tem sido importante, com erros e acertos e cabe à sociedade cobrar providências quando os trabalhos terminarem. Ele não acredita que Comissão morrerá na praia.
Questionado sobre uma possível candidatura política no futuro, Felipe afirma que não há nada certo e que amigos e familiares torcem para que ele não faça uma opção política, já que veem um cargo político como algo ruim. Apesar disso, admite que se for necessário, se candidataria para continuar sua luta.
“Publicamente não me furtarei a dizer que Bolsonaro é um risco e que não votarei nele. Estarei apoiando essa frente de oposição a Bolsonaro, seja como advogado, seja como, se necessário, candidato a alguma coisa”, esclarece. Embora ainda não tenha nada confirmado, uma candidatura de Felipe seria mais uma vitória da liberdade democrática.
Com uma trajetória marcada pela defesa da liberdade, Felipe certamente agregaria muito na política. Como disse na entrevista, nem ele e nem eu, que escrevo esta coluna, poderíamos imaginar que a questão da ditadura estarei tão viva durante seu mandato na OAB. Filhos de pais que sofreram com os ditadores, temos em comum a esperança de dias melhores. Dias em que não precisaremos dizer o óbvio e repetir o que a história já comprovou.
Se decidir entrar para a política, Felipe Santa Cruz será mais um dentro desse cenário condenando a ditadura militar e lutando contra aqueles que defendem a tortura e desonram a memória dos que lutaram por liberdade naquele tempo.