Presidente do PDT quer 5 “pancadas” em Bolsonaro e uma em Lula
Foto: Ailton de Freitas / Agência O Globo
Para o presidente nacional do PDT, Carlos Lupi, as mudanças partidárias do governador do Maranhão, Flávio Dino, e do deputado Marcelo Freixo (RJ) indicam uma tentativa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) de “tomar o PSB por dentro”. Lupi diz que a pré-campanha de Ciro Gomes apostará em alternar críticas a Lula e ao presidente Jair Bolsonaro.
As idas de Freixo e Dino ao PSB colocam o partido no projeto presidencial de Lula?
Lula trabalha para tomar o PSB por dentro, fazer do PCdoB um satélite petista e tirar o PSOL. Isso faz parte da artimanha, da sabedoria política dele. Com o (Guilherme) Boulos, veio com a conversa que Papai Noel vai trazer um presente em 2024 se ele retirar a candidatura agora ao governo de São Paulo.
Depois da união nas eleições municipais, a relação entre PDT e PSB anda estremecida?
Eu diria que é uma DR de um lado só. Fizemos todas as declarações de amor possíveis, apoiamos o PSB em todos os lugares que nos pediram em 2020. Em Recife, numa eleição apertada, nosso apoio foi decisivo para a vitória do João Campos contra o PT. Continuo dialogando, mas é aquele amor complicado. Pisca para um, mas faz o outro acreditar que tem condição. Só que não posso prever como vai chocar o ovo da serpente, que se chama Lula. Não sei qual será a capacidade dele de convencer o PSB a comprar terreno no céu.
A força do lulismo no Nordeste atrapalha os planos de Ciro?
Com o PSB, acho que Pernambuco vai ser crucial para decidir isto. O João Campos não tem sinalizado apoiar o Lula, por exemplo. Ninguém vai fechar nada este ano. Se a eleição fosse hoje, pelas pesquisas, eu estaria lutando para sobreviver. Como é só ano que vem, aposto que Lula, e Bolsonaro vão diminuir, e acredito num segundo turno entre Lula e Ciro. Acho que Lula já está no seu teto. Bolsonaro tem navegado nos efeitos do auxílio emergencial, mas porque ainda não caiu a ficha para a maioria da população sobre a responsabilidade dele nas mortes por Covid-19. E vai cair, é inevitável.
Ciro terá condições de driblar seu próprio teto?
Ciro tem uma largada boa. Sozinho, fez 12% em 2018. Acho improvável que fique abaixo desse patamar. Minha expectativa é chegar a 20% em março. Não temos plano A, nem plano B, mas sim um plano C, de Ciro Gomes. Ele será candidato independente de ter 30%, 20% ou 10%.
A expansão do Bolsa Família não dá fôlego a Bolsonaro?
Isso vai tirar votos do Lula, não nossos. A base popular que Bolsonaro tenta cativar, formada pelos mais dependentes de políticas públicas e por grupos mais religiosos, hoje está com o Lula. Bolsonaro vai dividir essa base, mas sempre haverá os mais lúcidos que podem sobrar para nós já no primeiro turno. Ciro tem se programado para buscar segmentos em que Bolsonaro e Lula não têm tanta entrada.
As desistências de Huck e Amoêdo indicam que o caminho “nem Lula, nem Bolsonaro” já se afunilou?
Romper essa falsa polarização é para os fortes. Bolsonaro vai ter muito mais dificuldade para atrair o antipetismo em 2022. O João Doria creio que conseguirá ser o candidato do PSDB, mas está fazendo movimentações ruins, inviabilizou uma aliança com o DEM ao tirar o vice Rodrigo Garcia do partido. Nós, por outro lado, temos boa relação com o DEM em vários estados.
O PDT lançará o ex-prefeito de Niterói, Rodrigo Neves, no Rio?
Ele será nosso candidato. Inclusive, na segunda-feira (21) estou levando ele para visitar o túmulo de Brizola em São Borja (RS). É o nosso batismo no Rio Jordão (risos). Hoje, entendo que o (prefeito do Rio) Eduardo Paes (PSD) se movimenta considerando uma candidatura do Lula, mas acho pouco provável, até pelo partido em que está, que apoie o Freixo ao governo.
O marqueteiro João Santana, que foi delator e preso pela Lava-Jato, ficou conhecido por ataques a Marina Silva na campanha de Dilma Rousseff. Por que o PDT foi buscá-lo para a campanha de Ciro?
Eu tinha tido apenas um breve contato com ele em 2010, antes da campanha da Dilma, e brinquei: “Você se acha tão bom que ninguém pode ser melhor, né?”. Foi ele que nos procurou agora. Não podemos culpar o funcionário pelas chibatadas. O conteúdo é responsabilidade do candidato. Deixamos claro ao João Santana que a forma cabe a ele, mas o conteúdo, a nós. Queremos mostrar um lado mais humano do Ciro, tirar um pouco a imagem do professor que fala um monte de números. Professor bom não é o que faz o aluno decorar, e sim questionar, porque é sinal de que se interessou.
Haverá artilharia pesada contra os adversários de Ciro?
O que temos feito são pancadas substantivas. Para cada cinco no Bolsonaro, uma no Lula. Eu não gosto disso, de artilharia pesada. Acho que precisamos usar a ironia, um pouco de humor. No último vídeo, o Ciro diz que o brasileiro não quer saber só de picanha e cerveja, e reclamaram que ele estava batendo no Lula. Ora, como chegaram a essa conclusão? Ele nem citou o nome do Lula…