Queiroga ataca Luana Araújo

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Foto: Gabriela Biló/Estadão

Antes de prestar um novo depoimento na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid no Senado, o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, mudou sua versão sobre a saída da infectologista Luana Araújo de sua equipe. Após apontar que o motivo havia sido falta de “validação política” para a nomeação, o ministro disse nesta terça-feira, 8, que não efetivou a infectologista na recém-criada secretaria de combate à covid-19 porque o nome dela não traria “a conciliação entre os médicos” que ele pretende promover. A médica foi anunciada para o cargo no início de maio, trabalhou por dez dias no ministério, mas desistiu antes de ser oficialmente nomeada.

“É necessário que exista validação técnica e que exista também validação política para todos os cargos que pertencem ao núcleo de cargos de confiança do governo, porque senão não há condição do presidente da República implementar as políticas públicas que são necessárias para o enfrentamento da pandemia de covid-19”, disse o ministro durante audiência da Comissão de Fiscalização Financeira e Controle da Câmara dos Deputados, no dia 26 de maio, sugerindo que o Palácio do Planalto havia barrado o nome de Luana.

A médica é defensora da ampla vacinação e contrária ao chamado tratamento precoce contra a covid-19, com o uso de medicamentos como a cloroquina, como é preconizado pelo presidente da República. No depoimento prestado à CPI, na semana passada, Luana afirmou que “qualquer pessoa”, independente de cargo ou posição social, que defende métodos sem comprovação científica para o tratamento de doenças, tem “responsabilidade sobre o que acontece depois”. A médica também reforçou que a autonomia médica, apesar de fazer parte da prática, “não é licença para experimentação”.

Hoje, em entrevista em frente ao Ministério da Saúde, Queiroga deu uma nova versão para a desistência de nomear Luana e afirmou que o nome dela não traria “conciliação entre os médicos”. “A doutora Luana não foi nomeada. Isso é uma incumbência, uma atribuição do ministro da Saúde, que tem a discricionariedade técnica para escolher a sua equipe. A despeito dela ser uma pessoa muito qualificada, de ter contribuído aqui conosco, ajudando, por exemplo, no protocolo da testagem, nós entendemos que neste momento o nome dela não seria o melhor nome para promover a conciliação entre os médicos que eu quero promover”, disse o ministro.

Questionado sobre a declaração anterior de que a falta de convergência política teria impedido a nomeação de Luana, Queiroga disse se referir à política médica e não necessariamente à política partidária. “Nós precisamos arbitrar esse processo com pessoas que tenham uma certa isenção em relação aos temas que são ali discutidos. É óbvio que vivemos no presidencialismo, que o presidente é o chefe do Estado e o chefe da Nação, mas eu tenho a confiança do presidente da República para conduzir essa situação sanitária complexa”, disse.

Além da polêmica em torno de Luana Araújo e de sua autonomia como ministro da pasta da Saúde, Queiroga também deve responder aos senadores na CPI sobre a realização da Copa América no País, sobre o ritmo de vacinação e, de novo, sobre a postura do presidente Bolsonaro na pandemia.

Queiroga justificou que seu papel é “conciliar” todas as divergências na questão sanitária da covid-19 para poder focar naquilo que é essencial: vacinar os brasileiros até o fim do ano.

“Vou à CPI demonstrar o que tenho feito aqui no Ministério da Saúde nesses mais de 60 dias que assumi o cargo, eu tenho a consciência tranquila que tenho trabalhado pelo povo brasileiro para vencer a pandemia da covid-19. O meu papel é de conciliar todos esses ambientes de divergências que há no contexto sanitário para que nós nos foquemos no que é essencial. E o que é essencial? Vacinar a população brasileira. Todas essas outras questões laterais, elas não têm importância. Eu só tenho um objetivo: vacinar os brasileiros até o final do ano. Eu acredito que só assim daremos fim à pandemia”, disse Queiroga.

Estadão