Renan insinua que Bolsonaro falou sobre máscaras para desviar atenção
Foto: Pablo Jacob/Agência O Globo
Em sessão desta sexta-feira, o relator da CPI da Covid, Renan Calheiros (MDB-AL), criticou as declarações do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) contrárias ao uso de máscara. Para ele, foi um forma de desviar a discussão sobre sua atuação em favor de empresas privadas que compraram insumos para a cloroquina, revelada na quinta-feira pelo GLOBO.
— Ontem, ao ser pego no flagrante de fazer lobby privado para a cloroquina, ele atacou a máscara — disse Renan.
A declaração do relator aconteceu em sessão que ouviu a microbiologista Natalia Pasternak, pesquisadora da Universidade de São Paulo (USP), e o médico sanitarista Cláudio Maierovitch, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), ex-presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Os especialistas convidados defendem medidas de isolamento social, a vacinação e são críticos à prescrição de medicamentos comprovadamente ineficazes contra a Covid-19, como a cloroquina e a ivermectina.
Na última quinta-feira, contrariando orientações da Organização Mundial da Saúde (OMS), o presidente afirmou que mandou o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, produzir um parecer para desobrigar o uso de máscaras por pessoas que já foram infectadas pela Covid-19 ou que já foram vacinadas.
Logo no começo da sessão, os senadores de oposição Humberto Costa (PT-PE) e Randolfe Rodrigues lamentaram a declaração dada pelo presidente.
— É profundamente negativo, continua a mostrar o desinteresse, a indiferença do presidente com sua população. Ficou muito mal para o ministro da Saúde. Ele esteve aqui, marcou algumas diferenças com o presidente da República, disse que as imagens [de Bolsonaro em aglomerações e sem máscara] falavam por si próprias, e disse que estava sintonizado com as medidas não farmacológicas. Espero que o senhor Queiroga tenha a coerência de tomar atitude de acordo com o que ele nos disse. E não aceite intromissão para adotar uma posição profundamente equivocada — disse Humberto.
— É lamentável. Só mostra a necessidade do trabalho desta comissão parlamentar de inquérito — avaliou Randolfe.
Um telegrama secreto do Ministério das Relações Exteriores em posse da CPI no Senado e obtido pelo jornal mostra que Bolsonaro atuou diretamente em favor de duas empresas privadas solicitando ao primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, em abril do ano passado que acelerasse a exportação de insumos para a fabricação de hidroxicloroquina, medicamento comprovadamente ineficaz contra a Covid-19.
O senador da oposição Rogério Carvalho (PT-SE) anunciou em sua conta no Twitter na última quinta-feira que irá denunciar Bolsonaro à Procuradoria-Geral da República pelo caso. O parlamenatar disse que:
— O presidente atuou institucionalmente pela cloroquina em abril do ano passado. Em maio, a Pfizer foi ignorada. Pior, foi lobista de duas empresas que o financiam. A CPI apresenta uma prova concreta ao Brasil — completou Rogério Carvalho no Twitter.