Aglomerações geram variantes que podem inutilizar vacinas
Foto: Reprodução/ Internet
Delta. A mais recente variante da Covid-19, doença causada pelo novo coronavírus, ganhou as manchetes dos jornais e virou alvo de preocupação entre cientistas. No Brasil, a demora para que a vacinação deslanche e as diferenças de ritmo entre unidades da Federação fizeram a preocupação aumentar.
Neste contexto, pesquisadores são categóricos: é preciso imunizar mais e manter as medidas de controle, como uso de máscara e distanciamento social, para que se consiga vencer a pandemia. Isabella Ballalai, referência em vacinação e vice-presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), alerta: “As variantes são um fator que pode pôr tudo a perder”.
Em entrevista ao Metrópoles, a especialista pondera que o país conseguiu melhorar a campanha de vacinação, mas que ainda é cedo para dizer que o panorama está sob controle. “Ainda é precoce ter mudanças de flexibilização, por exemplo. A situação melhorou um pouco, mas não acabou de verdade”, frisa.
Desde o início da pandemia, o Brasil registrou mais de 19 milhões de casos de Covid-19, e cerca de 535 mil pessoas já morreram vítimas da doença.
Ao todo, o Ministério da Saúde distribuiu 143,9 milhões de doses da vacina, e 109,9 milhões de pessoas já foram imunizadas entre primeira e segunda doses ou aplicação única do imunizante da Janssen.
Neste mês, a vacinação contra a Covid-19 completa seis meses no Brasil. A primeira dose foi aplicada em 17 de janeiro. Isabella aponta erros na campanha e ressalta a importância de se completar o esquema vacinal — duas doses ou dose única para o caso da Janssen.
“Já temos resultados de efetividade, como a redução de óbitos e a diminuição de hospitalizações”, salienta. A seguir, leia o ponto a ponto dos principais trechos da entrevista.
Isabella não titubeia ao afirmar que as novas variantes do vírus são uma ameaça. “As variantes são um fator que pode pôr tudo a perder. Como surgem? O vírus que está circulando busca burlar o nosso sistema imune. Ele depende de infectar para se manter vivo. Se ele não invade, ele não se replica, não se modifica e acaba. Isso que fizemos com a varíola. Vacinamos todo o planeta e o vírus não teve a quem infectar. É o único vírus que foi eliminado. Muitas vezes, podemos eliminar a doença, mas não o vírus”, explica.
É onde a imunização ágil e correta faz a diferença. “Quando mais se tem circulação do vírus e pessoas imunes, isso pela doença, por que pela vacina se tem muito pouco, o vírus busca alternativas. As vacinas se mostram eficazes contra as novas variantes. Mas precisamos interromper a circulação”, vaticina.
A pesquisadora acredita que a tendência é de que seja necessário reforço na vacina no futuro. “Ainda não temos o momento, mas provavelmente em 2022. Se será como a vacina da gripe vai depender da situação da presença do vírus entre nós”, destaca.
Ela emenda: “Não imaginamos que vamos eliminar. Sabemos que é provável que novas variantes surjam quanto mais se demorar a vacinar. Quanto o vírus mais se disseminar, mais chances de cepas bem diferentes da original aparecerem, o que é quase um novo vírus. Enquanto houver um país com baixa cobertura e alta prevalência, estaremos correndo risco”.
O país patinou por meses na campanha de vacinação e o governo federal demorou a comprar doses da vacina. Possíveis irregularidades e omissões são investigadas na CPI da Covid no Senado.
“A falta de vacina foi o nosso maior erro. O maior desafio do PNI [Programa Nacional de Imunizações] foi implementar uma campanha dessa envergadura sem vacina, sem a garantia de vacinas. O programa acabou não sendo como fazemos com as outras campanhas, pelo qual o Brasil é reconhecido. Está sendo uma campanha picotada”, frisa.
Ela aponta prejuízos. “A comunicação fica mais difícil. As dúvidas ficam maiores, a pressão popular fica muito grande, sobretudo de grupos que não são de maior risco para a Covid. A não homogeneidade é um fator que impacta na confiança da população.”
Contudo, para Isabella, o panorama melhorou nas últimas semanas. “O Brasil evoluiu bastante. Já temos resultados de efetividade, como a redução de óbitos e a diminuição de hospitalizações, por exemplo”, pontua.
Ela acrescenta que é necessário completar o esquema vacinal, ou seja, aplicar as duas doses ou a dose única no caso da Janssen, para a campanha ter sucesso. “O desafio é conseguir uma melhor cobertura neste sentido”, afirma.
Isabella afirma que é ainda precoce ter mudanças de flexibilização. “A situação melhorou um pouco, mas não acabou de verdade. Inglaterra e Israel, por exemplo, que têm uma estrutura de controle maior, começaram uma flexibilização. Mas a Inglaterra já está pensando em fazer outra dose da vacina para enfrentar o inverno e o risco da nova variante”, explica.
Ela cita como exemplo o nosso vizinho Chile. “Os chilenos estão com cobertura vacinal maior que a nossa, fizeram uma flexibilização e enfrentaram uma nova onda de adoecimento”, salienta.
A especialista critica aqueles que escolhem com qual vacina querem se imunizar. “A melhor vacina é a que está disponível. Deixar de se vacinar aguardando uma vacina específica pode significar morrer antes de ser vacinado”, finaliza.
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