Chefes de Estado doentes ganham popularidade

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Foto: Reprodução

A internação no hospital estancou a queda de popularidade do presidente Jair Bolsonaro. Pesquisa divulgada hoje pela empresa Ideia mostra que em uma semana a taxa dos que desaprovam o presidente caiu de 57% para 48%, enquanto os que aprovam oscilou de 23% para 26%. A mesma tendência se repetiu na avaliação de governo, com recuo entre os que acham a administração ruim ou péssima (de 57% para 51%) e melhora entre os que a consideram ótima ou boa (de 20% para 26%).

Na pesquisa anterior, divulgada em 8 de julho, Bolsonaro estava em seu pior momento. Serão necessárias novas sondagens para afirmar que a recuperação é sustentável ou apenas reflexo da solidariedade popular com o presidente doente.

“Chefes de Estado quando hospitalizados melhoram sua popularidade, como aconteceu com Boris Johnson (primeiro-ministro do Reino Unido, internado com Covid em 2020) e Donald Trump (ex-presidente americano contaminado pelo vírus também no ano passado)”, compara o economista Maurício Moura, fundador do Ideia.

Bolsonaro foi internado na quarta-feira em Brasília no Hospital das Forças Armadas e depois transferido para o hospital particular Vila Nova Star, em São Paulo. Há uma semana ele reclamava de soluço intermitente e dores estomacais. O boletim médico diagnosticou uma obstrução intestinal sem gravidade. Ele deve receber alta entre hoje e amanhã.

No momento em que o presidente foi internado, a máquina digital bolsonarista passou a operar politicamente. Filhos e ministros pediram orações aos eleitores, insinuando que o caso era grave.

Em setembro de 2018, Bolsonaro sofreu uma facada atentado que interrompeu sua campanha e permitiu que ele não participasse de debates com adversários. O atentado causou uma comoção nacional e este foi um dos vários fatores que ajudou na sua vitória.

Usando o perfil do pai, o filho Carlos Bolsonaro postou foto do presidente prostrado no leito do Hospital das Forças Armadas, sem camisa e com a mão de um padre anônimo lhe confortando. Em minutos surgiram nas redes de WhatsApp comparações da imagem com a do quadro “A lamentação sobre o Cristo morto”, pintado pelo renascentista italiano Andrea Mantegna.

A comparação esdrúxula durou pouco. Pouco mais de 24 horas depois de internado em São Paulo, Bolsonaro já estava se deixando fotografar ao lado de outros pacientes e deu uma entrevista ao apresentador da RedeTV! Sikêra Junior. Em tom de galhofa, o apresentador disse ao presidente para “deixar de mimimi”. O presidente riu. Apesar da entrevista, o programa teve queda de audiência ao mostrar o presidente. Saiu de 1,8 ponto de audiência antes da entrevista para 1,2 ponto na pesquisa Kantar Ibope Media em tempo real.

No hospital paulista, o presidente usou suas redes sociais para relacionar a internação com o atentado que sofreu em 2018, o que não é verdade segundo os boletins médicos. “Mais um desafio, consequência da tentativa de assassinato promovida por antigo filiado ao PSOL, braço esquerdo do PT, para impedir a vitória de milhões de brasileiros que queriam mudanças para o Brasil”, postou.

Em outras mensagens, ele atacou o presidente da CPI da Covid, Omar Aziz, divulgou apreensões de drogas da Polícia Federal e do lançamento de uma planta industrial para uso do grafeno, uma das obsessões do presidente.

Depois de sair do hospital, Bolsonaro tem duas semanas para gerar uma tendência positiva. A CPI da Covid, causa direta do pico de rejeição do governo nas últimas semanas, entrou em recesso e só volta a funcionar em agosto. O STF, outro front de más notícias para o governo, também está de férias. Em condições normais de temperatura e pressão, Bolsonaro poderia abaixar a temperatura do noticiário. Em geral, a popularidade presidente se estabiliza quando a política fica morna. Só que com Bolsonaro não existem condições normais de temperatura e pressão.

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