Com medo, Weintraub apaga tuítes sobre cloroquina
Foto: Alex Ferreira / Câmara dos Deputados
O ex-assessor especial da Presidência da República Arthur Weintraub excluiu de seu perfil no Twitter postagens nas quais defendia o tratamento precoce contra a Covid-19, com várias menções ao uso de cloroquina e hidroxicloroquina. A medida foi tomada logo após o advogado ter sido apontado como coordenador do “ministério paralelo” que aconselhou o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) sobre as decisões a serem tomadas durante a pandemia de coronavírus.
A revelação sobre a participação de Weintraub foi feita pelo Metrópoles, em maio deste ano. Na ocasião, a reportagem mostrou vídeos em que o ex-assessor afirmava ter “estudado” sobre a eficácia da hidroxicloroquina contra a Covid-19, a pedido do presidente, e revelava ter procurado médicos defensores do medicamento. O uso de remédios para “tratamento precoce” da doença não tem eficácia confirmada.
Entre os textos apagados, está uma mensagem sobre um suposto fim de semana no qual Weintraub teria articulado a captação de mais medicamentos do tipo contra a doença.
Em outra postagem que foi apagada, Arthur Weintraub diz que afirmações contra o uso do medicamento são “crimes contra a humanidade”. No tuíte, Weintraub menciona três perfis de médicos que se notabilizaram pela defesa do tratamento precoce contra a Covid-19.
Um deles era @zev_dr, perfil de Vladimir (Zev) Zelenko, médico ucraniano-americano conhecido por promover um coquetel com hidroxicloroquina, zinco e azitromicina para tratamento contra a Covid. Zelenko teve o perfil excluído do Twitter por infringir regras de “manipulação da plataforma e spam”.
Outro foi o @drsimonegold, de Simone Gold, uma médica norte-americana, ativista antivacina e fundadora da America’s Frontline Doctors, organização política de extrema direita que se tornou conhecida por disseminar desinformação na pandemia. Simone foi presa pela invasão do Capitólio dos Estados Unidos em janeiro deste ano. Na invasão, ela chegou a discursar no prédio, e disse que imunizantes contra o coronavírus seriam um “agente biológico experimental”. Simone foi libertada sob fiança.
Já @DrLuc_Azevedo38 era o perfil de Luciano Azevedo, tenente-médico da Marinha autor da minuta do decreto cujo objetivo seria alterar a bula da cloroquina para que o medicamento passasse a ser indicado ao tratamento de Covid-19. O perfil também não está mais no ar na plataforma. Em um evento no Palácio do Planalto em 24 de agosto do ano passado, Weintraub afirmou ter o médico como “referência”.
Em outro tuíte, o irmão do ex-ministro da Educação Abraham Weintraub sustentava que a obrigatoriedade da vacina e a venda de hidroxicloroquina para tratamento da doença são comparáveis. Ele e o irmão contraíram o vírus nos Estados Unidos em junho deste ano. Segundo Arthur, eles e a família contraíram o vírus antes de conseguirem se vacinar no país.
O texto dizia: “Alguém está te obrigando a injetar hidroxicloroquina? Quem quiser tomar vacina feita a toque de caixa que tome. A diferença é que, mesmo com receita, querem proibir as pessoas de se tratar com hidroxicloroquina (comprimido). E querem obrigar TODOS a tomar essa vacina (injetável)”. O tuíte se referia a uma mensagem publicada pela apresentadora Gabriela Prioli, na qual criticava a posição do presidente Bolsonaro pelo posicionamento sobre vacinas.
Os tuítes excluídos por políticos e autoridades são guardados e monitorados pelo Projeto 7c0, que os armazena quando as postagens são apagadas da rede social. A iniciativa surgiu pelo desenvolvedor Lucas Lago, que começou a coletar posts apagados no começo de 2019. O arquivo com posts deletados foi extraído pelo Projeto 7c0 e analisado pelo (M)Dados, núcleo de análise de grande volume de informações do Metrópoles.
Entre outras postagens apagadas e monitoradas pelo projeto, estão textos publicados pela deputada federal bolsonarista Carla Zambelli (PSL-SP). A deputada apagou ao menos 12 tuítes sobre a compra da vacina Covaxin, feita pelo governo Bolsonaro e alvo de denúncias pelo servidor do Ministério da Saúde, Luis Ricardo Miranda, na CPI da Covid-19.
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