Empresa da vacina superfaturada tenta vender vacinas a prefeituras
Foto: Reprodução
A Precisa Medicamentos receberia pouco mais de R$ 137 milhões pela representação da farmacêutica indiana Bharat Biotech na venda de 20 milhões de doses da vacina Covaxin ao Ministério da Saúde. O valor equivale a uma remuneração de 8,5% para cada dose do imunizante, contratado por US$ 15 a unidade.
A quantia fica menor, em torno de R$ 80 milhões – equivalente a 5% por dose -, se considerados os custos com seguros, consultorias, impostos, viagens, transporte e taxas da Agência Nacional de Vigilância Sanitária, que ficaram a cargo da empresa.
Envolvida em uma denúncia de corrupção feita por um servidor, a Precisa viu o contrato de R$ 1,6 bilhão ser suspenso e agora quer que o Ministério da Saúde retire a cláusula de exclusividade, para que a Covaxin possa ser negociada com Estados e municípios que estariam interessados.
O ministro Marcelo Queiroga, no entanto, já decidiu que vai rescindir o contrato até o fim deste mês, assim que encerradas as análises jurídicas necessárias.
Além dos problemas tornados públicos na CPI da Covid, a equipe de Queiroga se baseou em uma informação vinda do Ministério das Relações Exteriores que, após consultas a autoridades indianas, informou que não há qualquer previsão de liberação de exportações de vacinas pelo governo local até dezembro.
Isso ajudou na decisão pelo rompimento do contrato, o que ainda será informado para a empresa. O caso está sob análise da Controladoria-Geral da União (CGU), mas as chances de o negócio ser retomado são ínfimas.
Um e-mail foi encaminhado pela Precisa Medicamentos no último dia 5 para a Diretoria de Logística do ministério, solicitando uma reunião com técnicos e gestores da pasta, a fim de tratar da retirada da exclusividade prevista no contrato. O encontro, contudo, ainda não foi marcado.
A empresa mantém atualmente tratativas com algumas prefeituras na Bahia, em Minas Gerais e no Espírito Santo. A estratégia atual está baseada no fornecimento da Covaxin em médio e longo prazo, diante da provável necessidade de reforços anuais da imunização contra a covid-19.
Também foi percebido um aumento no interesse devido à proliferação da variante Delta. O Bharat Biotech anunciou que a Covaxin demonstrou eficácia global de 65,2% para a nova cepa, que tem causado alta de infecções em vários países da Europa.
Considerando esse cenário, a Precisa assinou um contrato de R$ 66,5 milhões com o Instituto Albert Einstein para a realização dos testes clínicos de fase 3 da vacina. Parte desse valor – cerca de R$ 5 milhões – já teria sido paga.
Assinado em fevereiro, o contrato com o Ministério da Saúde foi suspenso após virem à tona denúncias do servidor Ricardo Miranda. Irmão do deputado Luis Miranda (DEM-DF), ele disse que foi pressionado por superiores para agilizar a importação do primeiro lote da Covaxin.
Também apontou supostas irregularidades no contrato, como uma tentativa de recebimento antecipado e alterações suspeitas nas quantidades acordadas. Ele e o irmão levaram o caso março ao presidente Jair Bolsonaro, que teria se comprometido a investigar.
Como nenhuma investigação foi aberta, começou a pesar sob o presidente a suspeita de prevaricação. Bolsonaro demorou duas semanas para confirmar o encontro e reafirmou que pediu para o ex-ministro Eduardo Pazuello checar. Mas nenhuma irregularidade teria sido identificada e o contrato foi mantido.
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