Lira diz que milícias podem financiar eleição se não for o fundão de R$ 6 bi

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Foto: Cleia Viana/Câmara dos Deputados

O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), defendeu nesta quarta-feira (28) a utilização do fundo eleitoral para bancar as campanhas de 2022, negou que a projeção de valor chegue a R$ 5,7 bilhões e questionou como seria a forma de financiamento da política sem esse tipo de recurso.

Em entrevista à Globonews, ele lembrou que, com restrição ao financiamento privado, sobraram apenas os recursos públicos para pagar as campanhas eleitorais. “A primeira discussão é essa. Nós temos outra maneira de financiar a política e a democracia no Brasil? Nós temos como manter a democracia sem um sistema claro?”, disse.

“De onde virão os financiamentos se por acaso nós não tivermos recursos suficientes? Talvez das milícias? Talvez do tráfico? Talvez das influências das igrejas? De alguns outsiders e personalidades que estão de maneira momentânea ou tangencial participando da política? Essa é a discussão que tem que ser feita”, afirmou Lira.

O valor do fundão pelos critérios do projeto aprovado pelos parlamentares se aproxima de R$ 5,7 bilhões, segundo projeção feita por técnicos da Casa a partir das regras fixadas —25% da verba da Justiça Eleitoral em 2021 e em 2022, além de uma parte das emendas de bancada estaduais.

Após uma sequência de críticas, Jair Bolsonaro mudou seu discurso e afirmou na segunda-feira (26) que deve vetar só um “excesso” de R$ 2 bilhões do fundão eleitoral. Sinalizou aceitar uma quantia próxima de R$ 4 bilhões —que já dobraria a verba pública anterior para esse tipo de financiamento. Ele não explicou como pretende realizar a operação.

O presidente da Câmara defendeu que nada foi definido ainda sobre a quantia do fundo eleitoral e que a regra aprovada visa promover as eleições “com transparência” e “com fiscalização”.

Ele disse que a eleição de 2022 será mais ampla que a de 2020 e criticou “alguns que fazem discurso fácil” e que “têm financiamento privado de pessoas físicas, milionárias, que têm um projeto de poder também e que financiam esses grupos”.

Lira negou que a projeção do fundão alcance R$ 5,7 bilhões. “Se nós formos levar à luz da realidade do que foi o Orçamento de 2020, de 2021, da Justiça Eleitoral e fizermos o uso do indexador de 25%, o fundo não passaria de R$ 4,3 bilhões, R$ 4,4 bilhões, nunca de R$ 5,7 bilhões”, afirmou.

“Foi feita uma projeção em cima de um possível Orçamento que fosse aprovado para o TSE em 2022 para se chegar a esse número”, justificou.

Segundo ele, os valores só serão definidos com exatidão na votação do Orçamento, que deve ocorrer em novembro ou dezembro.

Ao mudar seu discurso e sinalizar apoio a um fundo eleitoral no patamar de R$ 4 bilhões, Bolsonaro alegou que, do contrário, poderia incorrer em crime de responsabilidade.

A Consultoria de Orçamento e Fiscalização da Câmara dos Deputados, porém, emitiu um parecer que diz que as duas leis vigentes que tratam do tema determinam, na verdade, que sejam destinados ao menos R$ 800 milhões às campanhas políticas do ano que vem, contradizendo Bolsonaro.

Lira afirmou que “é constitucional o direito de o presidente da República vetar”, mas que é “constitucional o direito de o Parlamento aprovar” e de “apreciar vetos”.

O presidente da Câmara elogiou a decisão de Bolsonaro de nomear o senador Ciro Nogueira (PP-PI) —um dos líderes do centrão, assim como Lira— para o Ministério da Casa Civil. “Tem boa articulação política, tem determinação, tem bom trânsito, faz a boa política que muitas vezes sofre preconceitos”, afirmou.

Na avaliação de Lira, a mudança vai melhorar a articulação entre os Poderes e trará “mais firmeza nas proposições em que o governo tem que demonstrar unidade”.

“A Câmara é independente, ela tem demonstrado isso. Ela tem votado matérias em prol do Brasil. O Senado precisa realmente de uma articulação mais intensa, respeitando também sua independência. E o Ciro tem esses predicados”, disse.

Lira foi questionado sobre a adoção do voto impresso no Brasil, bandeira de Bolsonaro, e afirmou que não pretende entrar “nessa briga de dizer que o sistema não é confiável”.

“O sistema é confiável, mas, por confiável que seja, eu não vejo dificuldade que ele tenha algumas regras de auditagem para que se confirme a realidade das urnas e se afastem as versões”, disse. “Se essa versão existe, ela seria esclarecida simplesmente com auditagem mínima nas urnas eleitorais, de uma maneira compreensiva, de uma maneira factível.”

Ele falou também sobre as supostas ameaças feitas pelo ministro da Defesa, general Braga Netto, às eleições de 2022 caso o voto impresso não seja implementado no país.

Reportagem do jornal O Estado de S. Paulo publicada no dia 22 afirma que o ministro teria mandado a Lira um recado por meio de um interlocutor de que, sem a aprovação do voto impresso, não haveria eleições em 2022.

Lira disse que não precisava ser claro sobre o episódio porque o próprio Braga Netto desmentiu, em nota, o ocorrido. “Eu não participei dessa conversa, não chegou nada a mim dessa conversa. O que eu só quero afirmar é o seguinte: com relação a esse período de recesso, nós temos fatos, versões que são criadas a todo momento”, disse.

Ele afirmou que Bolsonaro, ao convidar Ciro Nogueira para a Casa Civil, “dá uma visão clara de que quer interlocução política”. “O fato de ter um senador da República independente da sua sigla partidária na Casa Civil demonstra que o caminho é o diálogo e não há nenhum tipo de risco à democracia”.

“E enquanto nós estivermos aqui na presidência da Câmara, nessa posição, que é passageira, nós seremos, estaremos aqui como guardiões da democracia”, defendeu. “Não tem possibilidade de ruptura política institucional no Brasil. Nós não somos qualquer país.”

Lira falou ainda sobre os mais de 130 pedidos de impeachment contra Bolsonaro e disse que a decisão “não pode ser um ato ditatorial, um ato pessoal do presidente da Câmara”.

“Cabe ao presidente da Câmara, como ao que me antecedeu [Rodrigo Maia] e a mim, ter imparcialidade, tranquilidade, porque o impeachment é feito de várias situações. Ninguém faz ele só”, disse.

“E essas situações nem políticas, nem econômicas, nem sociais se mostram presentes para que se paute um processo de impeachment para instabilizar momentaneamente uma situação e ela não tenha nenhum tipo de efetividade.”

Folha  

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