Mulher de ativista que incendiou estátua não sabia da ação
Foto: Gabriel Schlickmann/iShoot/Folhapress
O grupo autointitulado Revolução Periférica, que assumiu o incêndio à estátua de Borba Gato, na zona sul da capital, no último sábado (24), foi criado cerca de uma semana antes de seus integrantes decidirem atear fogo ao monumento bandeirante, segundo o criador dele.
De acordo com interrogatório à Polícia Civil do motoboy Paulo Roberto da Silva Lima, o Galo, 32, o Revolução foi criado “por volta” do último dia 16 de julho, para discussão de figuras históricas “controversas”, conforme definiu.
Ainda segundo Lima, que está preso temporariamente desde quarta (28) por determinação judicial, o primeiro ato do grupo foi realizado no dia 22 de julho, com a distribuição de panfletos com questionamento sobre a história de Borba Gato.
O motoboy disse aos policiais que, no dia seguinte, após avaliação de que a panfletagem não surtira o efeito desejado, ele deu a ideia de atear fogo à estátua e, então, passaram a planejar o ataque.
As reuniões de planejamento do incêndio foram realizadas na manhã do próprio sábado. Foram vários encontros presenciais, ainda segundo ele, com grupos pequenos de três a quatro pessoas, num total aproximado de 25 a 30 pessoas, mas “nem todos aderiram ao ato”.
“Que ficou acordado entre os participantes que eles o encontrariam próximo à estátua e que partiriam da avenida Paulista”, diz trecho do documento. Lima não apontou os nomes dos outros integrantes.
O motoboy foi questionado pela polícia se ele tinha intenção de praticar novos atos, em outras estátuas de figuras classificadas por ele como “controversas”. Respondeu que não, porque o objetivo “era somente abrir o debate, e que já foi alcançado com a estátua Borba Gato”.
Em depoimento à polícia, a costureira Géssica Silva Barbosa, 29, mulher de Lima, disse que não participou do ataque à estátua de Borba Gato e que nem mesmo sabia da existência do Revolução Periférica ou que o grupo fora criado pelo marido.
“Que desconhecia qualquer envolvimento de seu companheiro nos atos, e descobriu somente no momento que ele chegou em casa”, afirmou Géssica, que também foi presa por determinação da Justiça.
A costureira disse que no dia 24 não participou do incêndio à estátua porque estava tomando conta da filha de três anos e do irmão dela, de nove anos.
“Que desconhecia por completo o movimento social, e não tem qualquer relação com os fatos”, diz trecho do depoimento aos policiais.
Poucos minutos após saber que seria preso, Galo, também fundador do Movimento dos Entregadores Antifascistas, disse que participou do vandalismo à estátua do bandeirante paulista para “abrir o debate”.
“Para aqueles que dizem que a gente precisa ir por meios democráticos, o objetivo do ato foi abrir o debate. Agora, as pessoas decidem se elas querem uma estátua de 13 m de altura de um genocida e abusador de mulheres”, disse o entregador, conforme nota, a respeito do ataque à estátua.
Os advogados Jacob Filho e André Lozano Andrade, que defendem o casal, disseram considerar a prisão do motoboy e da mulher dele “absolutamente desnecessária”, até porque o rapaz se apresentou e está colaborando com as investigações, como ter confessado a participação dele no incêndio.
Andrade disse que aos policiais Lima também reclamou da repercussão dada ao caso. “Mas não foi uma ação violenta, ninguém ficou ferido nessa. Ele disse para o delegado: ‘As pessoas se importaram mais como o fogo em um bloco de concreto do que com o fogo numa mulher trans’”, disse Andrade.
Os advogados apresentaram pedidos para retirar os dois da prisão.
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