Representante da Davati cita “muitos coronéis” envolvidos
Foto: Edilson Rodrigues
Mais nomes de militares aparecem na CPI da Covid como suspeitos de irregularidades na compra de vacinas contra o novo coronavírus. Na avaliação de integrantes do colegiado, havia dois grupos no Ministério da Saúde que disputavam as negociações de imunizantes. Um deles, do coronel Marcelo Blanco, então assessor do Departamento de Logística, e de Roberto Dias, que era diretor de Logística; e o outro do então secretário-executivo, Elcio Franco, e do coronel Helcio Bruno de Almeida. Ontem, em depoimento à comissão, o representante da empresa americana Davati Medical Supply, Cristiano Carvalho, acrescentou elementos a essa hipótese, reforçando a existência dos concorrentes e adicionando patentes à investigação.
Ex-operador de Forças Especiais do Exército, Helcio Bruno é presidente da organização de extrema-direita Instituto Força Brasil. No site, dizem ser uma organização sem fins lucrativos, “com sede em Brasília e capilaridade nacional, organizado pela união de patriotas, (…) que se propõe a fazer frente à hegemonia da esquerda como participante do poder (…)”.
Carvalho afirmou que conheceu o cabo Luiz Paulo Dominghetti, que se declara vendedor autônomo de vacinas, por meio de um amigo em comum e que se falaram, pela primeira vez, em 10 de fevereiro, quando o PM o procurou interessado na aquisição de vacina pelo governo federal. Segundo ele, o militar já tinha uma parceria com a ONG Secretaria Nacional de Assuntos Humanitários (Senah), presidida pelo reverendo Amilton Gomes de Paula.
Logo depois, em 25 de fevereiro, Dominghetti se encontraria com o então diretor de Logística do Ministério da Saúde, Roberto Dias, na tentativa de vender 400 milhões de doses da AstraZeneca. Dias teria pedido propina de US$ 1 por unidade. Já Helcio Almeida entra na história no dia do encontro de Carvalho com o então secretário-executivo da pasta, coronel Elcio Franco, em 12 de março.
Nessa reunião no ministério, para a qual foi levado pelo reverendo Amilton de Paula, estavam presentes, além de Elcio Franco, o coronel Cleverson Boechat, então coordenador-geral de Planejamento da pasta; e o coronel Marcelo Bento Pires, que era diretor de Programa. Pires fez várias perguntas sobre entrega e produto, segundo Carvalho. “O Instituto Força Brasil, a meu ver, foi o braço que a Senah utilizou para chegar a Elcio Franco”, afirmou o depoente.
Em nota, o Instituto Força Brasil informou que apoia iniciativas que “tenham por objeto promover ações relacionadas à saúde” e que não tem relação comercial ou de cooperação com a Davati. “Tratamos assuntos relacionados à vacinação com a Secretaria-Executiva, principalmente no sentido de aperfeiçoar a legislação que facilitava a vacinação por empresas privadas, com vistas a acelerar a imunização da classe trabalhadora e liberá-las à produção”, explicou.
O caso do Instituto Força Brasil tem potencial, segundo o vice-presidente Randolfe Rodrigues (Rede-AP), para abrir uma terceira frente nas investigações da CPI, que, mais uma vez, aproximará o trabalho dos senadores do executado pela Comissão Parlamentar Mista de Inquérito das Fake News. Rodrigues listou as relações do instituto com sites que divulgam notícias falsas, inclusive contra vacinas. “Esse Instituto Força Brasil patrocina um conjunto de redes que estão sendo investigadas num inquérito das fake news e também na CPMI da Fake News”, destacou.
O senador também citou que o vice-presidente do instituto é Otavio Fakhoury. “Ele é investigado nos atos antidemocráticos e no inquérito da fake news”, ressaltou. Um dos sites listados na página do Força Brasil é chamado Crítica Nacional, que foi mencionado pelo senador. O parlamentar leu alguns títulos de matérias do portal, que exaltam o “tratamento precoce” e colocavam em dúvida a vacina. O site também divulgava informações falsas, como a de que vacinas contra a covid estariam criando variáveis do vírus. O instituto retirou da página o nome dos seus membros e suas biografias.
Suspeito de envolvimento
Entre os citados, ontem, na CPI como envolvidos na negociação da Davati Medical Supply, seis são militares. Veja os nomes:
» Coronel Elcio Franco, ex-secretário-executivo do Ministério da Saúde
» Coronel Marcelo Blanco, ex-assessor do Departamento de Logística e
ex-diretor substituto
» Coronel Cleverson Boechat, ex-coordenador-geral de Planejamento
do ministério
» Coronel Marcelo Bento Pires, ex-diretor de Programa
» Coronel Glaucio Octaviano Guerra, assessor do adido militar da Embaixada do
Brasil em Washington
» Tenente-coronel Helcio Bruno de Almeida, presidente do Instituto Força Brasil
Assinatura
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