Confronto é a única opção que resta a Bolsonaro

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Foto: Reprodução

A essa altura do campeonato, é ocioso dizer quantos Rubicões já foram cruzados por Jair Bolsonaro, mas talvez seja importante notar que a tomada da Roma institucional que ele ataca ainda está longe de se concretizar.

A resposta dada pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral), em coordenação com a ala mais ativa do STF (Supremo Tribunal Federal) é, antes de tudo, um raro momento em que o Judiciário deixou o mundo das notas de repúdio e buscou assertividade ante as hordas antidemocráticas comandadas pelo presidente.

Há riscos evidentes. Ao buscar pendurar no pescoço de Bolsonaro com propriedade legal a pecha que ele carrega sem vergonha alguma, os togados podem acabar por legitimar o discurso de perseguição pelo “sistema” que ainda cola na base bolsonarista.

Daí para a confusão que o presidente arma para a eleição do ano que vem se materializar, talvez com ataques a seções eleitorais por parte de apoiadores, é um pulo. É bom lembrar que toda eleição ocorre com uma GLO (Operação de Garantia da Lei e da Ordem), com militares mobilizados, na rua.

Aí volta-se ao temor já expresso por figuras como o ex-ministro Raul Jungmann (Defesa e Segurança), de que Bolsonaro faça corpo mole em caso de balbúrdia, gerando uma ruptura institucional de fato.

Ministros do Supremo, sob reserva, discutem se eles poderiam avocar a si responsabilidade sobre os militares no caso de o presidente buscar o caos deliberadamente. Este é um cenário extremo.

Entram no momento algumas minúcias. Se o inquérito administrativo no TSE pode incorrer em alguma ameaça à elegibilidade do mandatário em 2022, não faltará acusação de tapetão, o que favorece a tática presidencial.

Já a notícia-crime para torná-lo investigado no Supremo Tribunal Federal é uma dor de cabeça grande, em especial pelo temor constante que Bolsonaro revela de ver seu filho Carlos preso por obra do ministro Alexandre de Moraes.

Mas ao fim, na hipótese de o inquérito elaborar alguma culpabilidade criminal do presidente, de resto bem evidente, ele só poderá ser denunciado pela PGR (Procuradoria-Geral da República) –além de Augusto Aras ser aliado, ele precisaria ver 2/3 da Câmara votando pela aceitação da peça.

Aí, o seguro contratado com a entrega do governo para o centrão lhe dá uma boa margem de segurança, assim como no caso de algum processo de impeachment.

Naturalmente, isso tudo depende da dinâmica esperada por Ciro Nogueira (Casa Civil) funcionar, e ela parece ter o prazo de validade das rubricas do Orçamento de 2021.

Neste interregno, Bolsonaro segue com sua ofensiva, dobrando a aposta na radicalização a cada dia —embora tenha pateticamente tentado circunscrever sua briga a Luís Roberto Barroso, como se as cortes superiores não se unissem em torno até de desafetos na hora em que são desafiadas.

Chama a atenção de líderes partidários ouvidos pela reportagem o caminho escolhido por Bolsonaro, considerado sem volta. Para um deles, a impressão é de que o presidente busca ser punido, cassado, impedido, apenas para botar em marcha seu plano de melar o pleito de 2022 de forma acelerada.

O problema para Bolsonaro é, a exemplo de um presidente que buscou o roteiro da martirização em busca da redenção, Jânio Quadros, o fato de que está crescentemente isolado.

Se ainda consegue levar pessoas às ruas, o que é óbvio para quem tem talvez 25% de aprovação popular e pode se beneficiar da melhoria econômica e da vacinação que ironicamente combateu, a situação política não lhe é das mais favoráveis.

O apoio do centrão, que já esvaiu-se por muito menos em outros governos, não sobrevive a um vídeo de urna eletrônica sendo esmagada com porretes. Mesmo com a vaca orçamentária dando leite, vista grossa tem limites, e não se pode desconsiderar o fastio generalizado com a figura do presidente.

O Congresso hoje está fatiado entre a minoria sólida que sustenta a defesa do governo, uma grande contingente já fazendo contas para aderir a uma candidatura de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e um grupo intermediário atrás de uma alternativa aos dois.

Nada tem de casual o comportamento de Lula, que quer Bolsonaro sangrando, mas não morto. Uma desidratação acelerada do presidente, algo insondável mas não impossível, abre uma larga estrada para nomes à centro-direita contra o petista.

Numa outra ponta, há os militares. O apoio ao voto impresso é majoritário entre chefes da ativa, mas Bolsonaro parece iludido pelo bolsonarismo de seus generais da reserva mais próximos, Walter Braga Netto (Defesa) e Luiz Eduardo Ramos (Secretaria-Geral).

A ideia de que comandantes de área apoiariam um golpe ou algo assim quando a Câmara presumivelmente enterrar a ideia nesta semana parece, na palavra deles ao menos, infundada.

Enquanto isso, a erosão da imagem dos fardados, fiadores da aventura Bolsonaro, só aumenta, vide o papelão feito por um coronel ao se passar por especialista em fraude eletrônica na bizarra live da fraude que não foi mostrada na quinta (29).

Folha  

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