Deputados da PM atacam Doria e STF

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Foto: Agência O Globo

Em meio à preocupação de governadores com a politização das Polícias Militares (PMs), deputados com passagem pela corporação têm usado as redes sociais para defender o coronel da PM de São Paulo Aleksander Lacerda, afastado pelo governador João Doria após defender uma manifestação de apoio ao presidente Jair Bolsonaro, e atacar o Supremo Tribunal Federal (STF).

Também há mensagens direcionadas a policiais da ativa e aposentados, insuflando a presença deles no ato — a atuação política de quem ainda exerce o serviço é vedada.

Levantamento feito pelo GLOBO encontrou publicações feitas nos últimos dias por sete ex-PMs eleitos para as Assembleias locais ou para a Câmara.

Em São Paulo, os deputados estaduais Major Mecca (PSL) e Coronel Telhada (PP) criticaram o afastamento do coronel. Com 127 mil seguidores no Instagram e 717 mil no Facebook, Mecca afirmou que os governadores “não possuem feudos”, enquanto Telhada, ícone da categoria policial nas redes sociais, com 2,3 milhões de seguidores no Facebook e 641 mil no Instagram, chamou os apoiadores à manifestação “contra a ditadura que se está querendo implantar no Brasil e em São Paulo”. Ambos têm passagem pela Rota, batalhão de elite da PM paulista.

O deputado federal Guilherme Derrite (PP-SP), por sua vez, criou a hashtag, #somostodosAleksander. Ele foi capitão da PM e nasceu em Sorocaba, em cuja região Lacerda comandava sete batalhões.

Marido da deputada federal Carla Zambelli (PSL-SP) e diretor da Força Nacional de Segurança Pública, o coronel Aginaldo de Oliveira compartilhou uma imagem de convocação para o ato, estampado com o rosto de Bolsonaro, e uma publicação definindo o afastamento de Lacerda como “autoritarismo do Doria” — embora não seja parlamentar, ele tem 70,4 mil seguidores no Instagram.

Na Paraíba, o deputado Cabo Gilberto Silva (PSL) disse que é necessário “lutar pela liberdade” e publicou uma imagem que satiriza o ministro Alexandre de Moraes, do STF, relator dos inquéritos que apuram ataques a instituições, a atuação de uma organização criminosa voltada para a prática e a disseminação de fake news.

Há também ataques a Doria oriundos de parlamentares fora de São Paulo, casos dos deputados estaduais Capitão Assumção (Patriota), do Espírito Santo, e Capitão Alden (PSL), da Bahia, além do deputado federal por Minas Gerais Cabo Junio Amaral (PSL). Assumção liderou uma paralisação da PM no Espírito Santo em 2017, enquanto Alden já organizou uma manifestação de policiais contra medidas de isolamento social contra a pandemia de Covid-19 na Bahia no início do ano. Nas publicações, Doria é tratado como “ditador” e inimigo de Bolsonaro.

O deputado federal Coronel Tadeu (PSL-SP) fez um chamamento explícito a policiais da ativa a participarem da manifestação pró-governo. O regimento da Polícia Militar de São Paulo, no entanto, proíbe a participação de policiais em manifestações de cunho político-partidário. Em seu Twitter, convocou “policiais ativos que estiverem de folga e veteranos” para as ruas. O parlamentar também apoiou a iniciativa de policiais militares do interior de São Paulo que, segundo ele, alugaram ônibus para se manifestar na capital. Ele diz que os agentes estão sendo “patrocinados porque João Doria não cumpre suas promessas”.

Ao menos dois parlamentares, o deputado federal pelo Amazonas Capitão Alberto Neto (Republicanos) e o deputado estadual capixaba Capitão Assumção, compartilharam um mesmo vídeo de convocação do ato com um depoimento do pastor evangélico Claudio Duarte. Na palestra reproduzida pelos deputados, Duarte afirma que o país está “à beira de uma revolução, de uma guerra civil” e faz uma referência velada à necessidade de participar da manifestação. Juntas as publicações tiveram mais de 70 mil visualizações no Facebook e Instagram. Assumção também publicou no fim de semana uma foto de Bolsonaro ao lado de policiais militares acompanhada da reprodução de uma matéria jornalística sobre o apoio de PMs ao presidente. “Só passando pra relembrar”, escreveu o deputado estadual na legenda.

Pesquisador do Laboratório de Estudos da Violência da Universidade Federal do Ceará, Luiz Fabio Silva Paiva avalia que esses parlamentares oriundos das forças policiais se colocam como “porta-vozes” do segmento e se valem da crise institucional para ganhar repercussão a partir de uma estratégia semelhante à de Bolsonaro, de “campanha permanente”.

— A gente tem uma situação grave de políticos tradicionais assediando servidores públicos para que defendam o governo. Esse movimento também foi possível porque os governos estaduais não conseguiram entender como essa força penetrou as instituições de polícia, que estão mobilizadas colocando a democracia em questão, para uma manifestação que não sabemos exatamente o que é. Não é qualquer segmento social, é um segmento armado, que tem uma força e possibilidade de uso da violência contra as instituições — conclui Paiva.

O Globo

 

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