Entorno de Bolsonaro está preocupado com crise institucional

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Foto: Pedro Ladeira/Folhapress

O grau de agressividade do presidente Jair Bolsonaro em seu embate institucional com outros Poderes, particularmente o Judiciário, tem causado preocupação até entre os mais bolsonaristas de seus auxiliares.

Dois episódios envolvendo o secretário-geral da Presidência, general da reserva Luiz Eduardo Ramos, exemplificam a alta octanagem da atmosfera do Palácio do Planalto.

Na segunda-feira da semana passada (16), Brasília vinha de um fim de semana no qual o presidente havia dito que entraria com um pedido de impeachment contra os ministros Luís Roberto Barroso e Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal.

Mais: Bolsonaro avisou aliados de que iria pessoalmente protocolar o pedido no Senado, o que alarmou alguns de seus conselheiros mais próximos. A medida em si já seria inédita em tempos recentes e extrema, alegaram, a fazê-lo desta forma aumentaria uma crise que já é enorme.

Na segunda, Ramos teve uma conversa com o ex-deputado e ex-secretário de Governo da gestão Temer Carlos Marun (MDB), muito próximo do ex-presidente, sobre a tensão vigente —o ministro iria depor na quarta (18) na Câmara.

Dela surgiram dois relatos, com o resultado igual: a sugestão para que Temer aconselhasse Bolsonaro para baixar o tom da crise.

Para aliados do ex-presidente, a ideia foi um pedido de Ramos; para pessoas próximas do ministro, uma iniciativa de Marun, a quem Bolsonaro deu cargo de conselheiro de Itaipu até 2024, a partir da conversa.

De todo modo, Temer disse que não poderia ligar por iniciativa própria, lembrando que no passado Bolsonaro o procurou para pedir conselhos. Mas aceitou falar com Ciro Nogueira, o novo chefe da Casa Civil.

Ao ministro ponderou sobre a gravidade do ato e que, mesmo sendo algo previsto na Constituição, a entrega pessoal do pedido de impeachment deveria ser evitada.

Ciro então falou com Bolsonaro, que não baixou o tom da retórica, mas de fato abandonou a ideia do teatro no Senado.

Ao protocolar o pedido na sexta (20), o fez somente contra Moraes, o ministro que na condição de relator do inquérito das fake news e de atos antidemocráticos no Supremo tem punido bolsonaristas em sequência.

O próprio ataque do presidente foi uma resposta à prisão do deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ), ocorrida na sexta retrasada (13). Depois disso, Moraes ainda foi à carga para coibir a organização de atos antidemocráticos no 7 de Setembro.

Em outro episódio ocorrido na terça (17), Ramos conversava políticos paulistas levados a seu gabinete com o deputado Cezinha de Madureira (PSD-SP), vice-líder do governo no Congresso.

Num dado momento, os presentes comentaram um discurso do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Ramos relatou que o petista falava de Bolsa Família, medidas para recuperação da economia e combate à pandemia, enquanto Bolsonaro e os seus investiam sua energia na pauta do voto impresso e criticam o uso de máscaras.

As queixas do general são especialmente significativas porque ele é um dos soldados mais fiéis do bolsonarismo, sempre que pode lembrando da ligação que tem com o presidente, com quem dividiu dormitório na escola de cadetes do Exército em Campinas.

Nessa condição, aceitou perdas sucessivas de poder no Planalto. Primeiro, deixou a Secretaria de Governo para a Casa Civil, na esteira da crise militar de abril que mexeu as peças com a ida de Walter Braga Netto para a Defesa.

Depois, naquela que é a humilhação maior para o grupo que chegou ao poder em 2018 prometendo acabar com o que chamava de velha política, cedeu a Casa Civil para Ciro, expoente do centrão, o grupo associado à fisiologia a quem Bolsonaro se agarrou para tentar evitar um processo de impeachment.

Desta forma, se é possível especular se a preocupação da Ramos denota alguma insatisfação, até pela maior proeminência de Braga Netto no time bolsonarista do governo e pelo espaço reduzido da Secretaria-Geral, isso não se refletiu até aqui.

Ao contrário, Ramos permaneceu como conselheiro e animador de ideias radicais do chefe. Foi dele a construção da live do dia 29 de julho, quando Bolsonaro deixou o país atônito ao fazer uma defesa do voto impresso e acusando as urnas eletrônicas de serem passíveis de fraude a partir de boatos de internet.

A live gerou uma notícia-crime do Tribunal Superior Eleitoral contra Bolsonaro, que foi aceita por Moraes no Supremo, além de o colocar no rol de investigados no inquérito das fake news.

Além de ser visto por Bolsonaro como alguém que quer ver ao menos um de seus filhos preso, Moraes será o presidente do TSE na eleição do ano que vem, o que explica a carga presidencial focada no ministro.

De todo modo, parece que a marcha de Bolsonaro rumo à tensão máxima entre Poderes, simbolizada agora no ato que o presidente está promovendo em seu favor no 7 de Setembro, pode ter começado a causar ruídos mesmo no núcleo duro do governo.

Assim como Donald Trump fez nos EUA, Bolsonaro busca numa inexistente fraude eleitoral a desculpa para algum tipo de ruptura institucional, o que vem sendo combatido pelo Supremo, por atores do mundo político e por governadores de estado.

Há temor de piora no quadro, como mostrou o episódio da punição de João Doria (PSDB-SP) a um coronel da Polícia Militar paulista por apoio ao ato de Bolsonaro.

Folha  

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