Gravidade da variante delta ainda não é conhecida
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A variante delta alterou o panorama na pandemia de covid-19. Há um aumento de casos pelo mundo, ainda que seguido, por enquanto, de uma alta menor de hospitalizações e mortes. Ásia e África estão sendo mais duramente atingidas. Muitos países adotaram ou retomaram restrições. A recuperação econômica está perdendo ritmo, especialmente na Ásia. Em resumo: as perspectivas pioraram nos últimos dois meses. Ainda não está claro qual será a intensidade dessa nova onda nem quanto ela vai durar, mas os riscos são grandes.
Do ponto de vista de saúde, a delta, detectada inicialmente na Índia, é muito preocupante. Estudos indicam que ela é mais transmissível que o vírus original da covid-19, mas não está claro se causa uma infecção mais severa.
O número de casos de covid-19 no mundo, que vinha em queda desde o pico de abril, voltou a subir em julho. Em alguns países da Ásia e no Reino Unido, essa alta começou antes.
As curvas de hospitalização e de mortes, porém, não estão acompanhando o aumento do número de casos, o que indica que a vacinação está protegendo a população de casos mais graves
Países menos atingidos em ondas anteriores e/ou que têm vacinação baixa são os mais afetados agora. Isso pega boa parte da Ásia e da África. Dados africanos são pouco confiáveis, devido à pouca testagem, mas os relatos são de sistemas de saúde bastante sobrecarregados.
Mas a delta avança também em regiões com vacinação elevada, como nos países ricos do Ocidente. Nesse caso, há duas causas mais prováveis.
A primeira é que a penetração da delta ocorre principalmente entre os não vacinados. É o que está acontecendo, por exemplo, nos EUA. Apesar de a média nacional americana ser elevada, Estados do Sul têm índice baixo de vacinação. A maioria, aliás, têm percentual menor que o do Brasil de pessoas que tomaram ao menos uma dose. Essa é a explicação preferida do governo Joe Biden, pois joga a culpa principalmente nos republicanos que rejeitam a vacina.
Isso, porém, não explica porque a delta está avançando em países como Israel, onde mais de 80% da população foi totalmente vacinada com o imunizante da Pfizer/BioNTech. Nesses casos, parece haver uma eficácia menor das vacinas (ou de algumas delas). Elas podem ser menos eficazes contra a variante delta (como alguns estudos já sugeriram) ou então estarem perdendo a eficácia com o passar do tempo (como outros estudos também estão sugerindo).
Por isso, alguns países, como Israel e Chile, já estão aplicando uma terceira dose, de reforço. EUA e Europa devem começar em breve. A Organização Mundial da Saúde (OMS) alerta que essa terceira dose em países mais ricos reduzirá ainda mais a disponibilidade de vacinas para os países mais pobres, o que, por sua vez, atrasará mais a imunização e aumentará o risco de surgirem novas variantes.
O Brasil é um dos poucos países onde a variante delta ainda não é predominante. Alguns especialistas dizem que ela pode estar tendo dificuldade para desalojar a principal variante local, a antiga P.1, que hoje é chamada de gama pela OMS. Mas é possível também que o Brasil esteja só um pouco atrasado em relação ao resto do mundo, como já ocorreu no início da pandemia.
Do ponto de vista econômico, esse cenário da variante delta é igualmente preocupante. O mundo vinha numa recuperação relativamente forte no segundo trimestre, cujos dados estão começando a sair. O Reino Unido, por exemplo, divulgou ontem que seu PIB cresceu 4,8% (no trimestre) nesse período. Com a reabertura gradual da maioria das economias a partir de junho, a perspectiva era de melhora também neste segundo semestre. Mas a delta está causando uma reversão dessas expectativas. Muitos países, como na Ásia, estão tendo de adotar medidas de restrição e “lockdowns” inéditos para tentar conter a epidemia. A Austrália colocou a sua capital, Camberra, de “lockdown” desde ontem à noite. A Malásia está de “lockdown” desde o começo de junho. Outros países estão revendo a reabertura de suas economias, com a retomada de restrições. Israel, por exemplo, já cogita até um novo “lockdown”.
O pior cenário para a economia mundial seria uma disseminação forte da covid-19 na China. O número de casos no país aumentou (foram 81 ontem) e o surto atual está bem mais difuso pelo país. Mas, por ora, o governo chinês têm conseguido manter a variante delta sob relativo controle. Esse controle, porém, exige medidas duras de isolamento e restrições de mobilidade e atividade, que afetam a economia. Ontem, um terminal no terceiro maior porto da China, em Ningbo, foi fechado por causa de um caso de covid. O mesmo já ocorreu em outros portos. Isso está gerando gargalos e agravando a escassez de certos insumos pelo mundo.
O impacto econômico fora da Ásia por enquanto vem sendo moderado. A OCDE, porém, em seu Indicador Antecedente Composto desta semana, aponta para tendência de desaceleração do crescimento em quase todos os países ricos e também nos principais emergentes neste segundo semestre.
Dados de alta frequência divulgados nesta semana já detectaram uma piora na atividade no setor de serviços tanto nos EUA como na China, com diminuição de ida a restaurantes, de passageiros em voos e de reservas de viagens.
Para tentar atenuar esse efeito sobre a demanda e evitar novas restrições, os países da UE estão cada vez mais exigindo prova de vacinação para que as pessoas possam frequentar locais públicos, como restaurantes, bares e museus. Ontem, São Francisco foi a primeira cidade americana a adotar essa regra.
Devido à alta de casos com a delta, empresas e governos estão também mudando de política e cada vez mais forçando seus funcionários a se vacinarem.
Para o Brasil, qualquer piora no cenário externo será sentida aqui. Uma queda na demanda global pode afetar os atuais preços altos das commodities, especialmente de energia e metais. Ontem a Agência Internacional de Energia (AIE) rebaixou a sua projeção de demanda por petróleo neste semestre. O motivo alegado é a desaceleração econômica que a variante delta está causando pelo mundo. O preço do petróleo nos EUA já caiu 6,6% neste mês.
É em meio a esse cenário que vários governos estaduais no Brasil estão pensando em reabrir totalmente as atividades nos próximos meses. EUA e Europa fizeram isso em junho e agora enfrentam uma nova onda da pandemia.
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