Ministro-astronauta acumula fracassos
Foto: Pablo Jacob / Agência O Globo
“É importante pensar coisas boas, fazer coisas boas, falar coisas boas, ajudar as pessoas. Dessa forma, você programa seu inconsciente de uma forma positiva”. O conselho é do ministro da Ciência e Tecnologia, Marcos Pontes, e foi feito em uma edição do Diário de Bordo, nome dado a ele às transmissões diárias que faz no seu Instagram. Nessas conversas, ele mistura ações do ministério, assuntos da ciência (como OVNIs) e até uma espécie de leitura coletiva do seu livro “É possível: como transformar seus sonhos em realidade”. Na última quinta-feira, a audiência ao vivo não passou de 200 pessoas.
Com dois anos e meio de governo, o ex-astronauta Marcos Pontes tenta investir em um discurso técnico para fugir das polêmicas do governo — mas nem sempre tem sucesso nessa última parte. Na última semana, por exemplo, o ministro foi criticado por ter se encontrado com uma deputada alemã da extrema direita. Pontes se justificou dizendo que atendeu apenas a um pedido da deputada Bia Kicis (PSL-SP) para tirar uma foto para o irmão da deputada, que teria o desejo de ser astronauta, e que conversou com a parlamentar sobre energia.
— Vem um monte de crítica como se eu tivesse discutindo a criação de um partido neonazista, alguma coisa do tipo, uma coisa absurda. E eu só fico observando — justificou depois.
Pontes também mostra alinhamento com Bolsonaro: no último dia 10, acompanhou o presidente em uma “motociata” em Porto Alegre. Sem máscara, afirmou que aquela era a pesquisa eleitoral “verdadeira”, repetindo o discurso do presidente de desqualificar institutos de pesquisa.
Bolsonaro retribui e elogia o auxiliar com frequência. Pontes é sempre citado por ele como exemplo de ministro técnico — na última quinta-feira, o chamou de “mente brilhante” e “pessoa fantástica”. É um dos oito ministros que seguem no mesmo cargo desde o início do governo.
Também recentemente, o Ministério de Ciência e Tecnologia foi criticado pelo apagão na plataforma Lattes, que reúne currículos de pesquisadores de todo o país e é administrada pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico( CNPq), vinculado à pasta. Pontes diz que não haverá perda de dados. A escassez de recursos tem sido um desafio para o ministro, segundo ele próprio: em abril, Pontes chamou de “estrago” a sanção do Orçamento. A verba para a sua pasta teve uma redução de 37% de 2020 para este ano (R$ 13,6 bilhões para R$ 8,4 bilhões), a menor desde 2011, de acordo com a Instituição Fiscal Independente (IFI).
Esses cortes também afetaram as pesquisas de uma vacina nacional contra a Covid-19. A mais avançada, a Versamune, teve pedido para testes em humanos apresentados em março. No mesmo dia, o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), anunciou o início da produção de outro imunizante brasileiro, ButanVac, o que Pontes atribuiu a uma coincidência.
A empresa responsável pela elaboração da vacina alardeada por Pontes, no entanto, ainda deve apresentar até o fim de julho um novo desenho do estudo. O ministro espera que o registro emergencial do produto saia ainda neste ano.
Outras apostas do ministro durante a pandemia não tiveram sucesso. Em abril do ano passado, em coletiva no Palácio do Planalto, ele prometeu para o mês seguinte apresentar um remédio contra a Covid-19. O otimismo contrastava com o estágio das pesquisas, ainda embrionárias.
— Estou contando que esses testes clínicos realmente demonstrem a eficiência desse remédio, a probabilidade maior é essa. Considerando isso correto, a gente vai ter um tratamento com um remédio que não tem praticamente efeitos colaterais — disse Pontes na época.
Em outubro, quatro meses após o prazo, Pontes apresentou dados sobre a suposta eficácia de um vermífugo contra a doença, em outra cerimônia no Planalto, com a presença de Bolsonaro.
Entretanto, o próprio estudo apontou que não havia melhora nos sintomas — o governo havia destacado apenas a redução da carga viral. Apesar do destaque dado pelo governo, o Ministério da Saúde optou por não incluir o medicamento no seu protocolo de tratamento.
Ainda em 2019, Pontes foi criticado por não ter protegido Ricardo Galvão, então diretor do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), seu subordinado. Galvão foi exonerado após rebater críticas de Bolsonaro sobre os dados de fiscalização ambiental, em meio ao aumento do desmatamento na Amazônia.
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