
Ministro-sombra de Pazuello já se envolveu em corrupção
Foto: GABRIELA BILO/ESTADÃO
A CPI da Covid ouve nesta quinta-feira, 5, o empresário e ex-deputado Airton Antônio Soligo, mais conhecido como Airton Cascavel. Considerado o “braço direito” do ex-ministro Eduardo Pazuello no Ministério da Saúde, Cascavel atuou durante meses como assessor do ministro de modo “informal”, isto é, sem estar formalmente nomeado para o cargo. O vínculo de Cascavel com a pasta só foi formalizado em junho passado, quando a atuação dele veio a público.
Enquanto esteve no Ministério da Saúde, Soligo participou, inclusive, da compra de vacinas — mesmo tendo sido denunciado pelo Ministério Público Federal por tentativa de roubar, no fim dos anos 1980, uma caminhonete do governo federal usada justamente em uma campanha de vacinação contra a febre aftosa.
O caso teria ocorrido em 1989, quando Soligo exercia o seu primeiro cargo público: o de prefeito de Mucajaí, em Roraima. “Em julho de 1989, o então prefeito de Mucajaí/RR, Airton Antônio Soligo, ofereceu ao Delegado de Agricultura em Roraima, Índio Busato do Nascimento, a quantia de CZ$ 5.000,00 (cerca de R$ 30,7 mil em valores atuais) em troca da liberação de uma Camioneta D10, utilizando-se, para tanto, de um cartão de visitas onde se inseriu no verso os seguintes dizeres: ‘Dôo-lhe CZ$ 5.000,00 para me doar a D-10. 242 1306. Estude’.”
Segundo a denúncia do Ministério Público, a negociação não foi adiante porque o servidor do Ministério da Agricultura recusou a oferta de Cascavel. Um inquérito policial foi instaurado e o ex-assessor de Eduardo Pazuello foi indiciado por corrupção ativa. “Com efeito, após a solicitação da camioneta D-10 pelo Prefeito, foi o mesmo contestado em sua pretensão pelo então delegado de Agricultura em Roraima, ao argumento de que o referido veículo estava destinado ao programa de combate à febre aftosa no interior do Estado”.
A febre aftosa é uma doença viral altamente contagiosa, que atinge bovinos e suínos. O Brasil é considerado livre da doença desde 2018 — o último foco foi registrado em 2016. A doença foi contida com campanhas de vacinação, como a que Airton Cascavel tentou atrapalhar ao querer “comprar” a caminhonete do Ministério da Agricultura, mediante suborno, conforme apontam as investigações.
A denúncia contra Soligo passaria os próximos 12 anos mudando de instância em instância na Justiça, conforme ele assumia diferentes cargos públicos em sua trajetória: depois de ser prefeito de Mucajaí, Soligo foi deputado estadual em Roraima; vice-governador do Estado e finalmente deputado federal. Em dezembro de 2001, o STF reconheceu a prescrição do feito. A tentativa de suborno de Soligo foi objeto de reportagem da Agência Sportlight de Jornalismo Investigativo, e confirmada pelo Estadão.
Enquanto era assessor de Pazuello, Soligo foi o responsável pelas negociações entre o governo federal e o Instituto Butantan, ligado ao governo do Estado de São Paulo, para permitir que a vacina Coronavac fosse incorporada ao plano nacional de imunizações.
Soligo se aproximou de Eduardo Pazuello na época em que o general trabalhava na Operação Acolhida, deflagrada pelo Exército Brasileiro para receber os venezuelanos que chegam a Roraima fugindo do regime comandado por Nicolas Maduro no país vizinho.
O empresário era tão próximo de Pazuello que foi num apartamento pertencente a Soligo, em Manaus, que Pazuello foi avisado sobre a possível falta de oxigênio na capital amazonense. A reunião no apartamento de Soligo ocorreu em 10 de janeiro. Dias depois, em 14 e 15 de janeiro, a falta de oxigênio hospitalar ocasionou a morte de pelo menos 31 pessoas na capital amazonense.
Segundo secretários de saúde de municípios e Estados, Soligo era a pessoa a quem procuravam quando precisavam resolver alguma pendência no Ministério da Saúde. A nomeação dele para o cargo de assessor especial de Pazuello foi apoiada, inclusive, pelo presidente do Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (Conasems), Wilames Freire — ele enviou ofício a Pazuello em abril de 2020 pedindo a nomeação de Soligo. “Na época, (Soligo) foi importante na interlocução conosco pela experiência como gestor”, disse Wilames ao Estadão. “Sempre acolheu e encaminhou as nossas pautas.”
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