
Moro dá sinais de que pode ser candidato
Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
Mesmo afastado do serviço público e, por ora, da política, o ex-juiz da Lava-Jato Sergio Moro continua colocando o combate à corrupção como sua prioridade. Agora do outro lado do balcão, como diretor da Alvarez & Marsal, Moro defende a importância de as empresas adotarem medidas para evitar problemas com a Justiça. Em entrevista ao Valor, ele apontou “retrocessos” na área durante o governo do presidente Jair Bolsonaro, do qual foi ministro da Justiça e Segurança Pública. O ex-juiz, no entanto, avisou que não falaria de política e apenas sorriu quando questionado se estava disposto a encarnar o papel da terceira via.
Ex-auxiliares de Moro torcem para que ele entre na disputa. Um deles comentou que o contrato com a consultoria americana precisa ser rediscutido até outubro – prazo que os aliados julgam ser ideal, caso ele decida ser candidato à Presidência em 2022. Alegando cláusulas sigilosas, o ex-juiz disse que não poderia confirmar a informação.
Moro, que atualmente vive em Washington, veio ao Brasil no mês passado visitar a família no Paraná e aproveitou para fazer algumas reuniões em Brasília. A passagem do ex-ministro pela capital federal animou integrantes do Podemos, legenda que está de portas abertas e que sonha em lançá-lo na disputa. De acordo com um parlamentar que conversou com ele, Moro não diz que não será candidato, o que alimenta a esperança da sigla.
Apesar do entusiasmo entre integrantes do Podemos, dirigentes de partidos de centro elencam alguns obstáculos para que o ex-juiz tenha fôlego para alcançar competitividade na disputa do próximo ano. Em caráter reservado, um importante líder do Centrão resumiu o sentimento do bloco: a avaliação é que Moro não terá tempo suficiente para encontrar seu espaço entre os eleitores.
Além da resistência do eleitorado mais progressista, o ex-ministro da Justiça precisaria se esforçar para conseguir conquistar os conservadores. Com isso, ele estaria restrito a ex-apoiadores de Bolsonaro, que, em parte, ainda avaliam que sua saída do atual foi “prematura e oportunista”.
Um outro dirigente do bloco lembra que o ex-juiz também não teria tempo para se dissociar da imagem “de juiz com decisões políticas”. Para ele, as conclusões do Supremo Tribunal Federal (STF) sobre os processos contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva “são fantasmas que ele terá que carregar” e que o afastam de lideranças próximas ao petista.
O ex-juiz deixou o governo em abril do ano passado, acusando Bolsonaro de tentar interferir politicamente na Polícia Federal (PF) para blindar seus filhos e amigos. Depois de cumprir um prazo de quarentena, anunciou a ida para a iniciativa privada.
Assim como outros movimentos do ex-juiz, esse também foi alvo de críticas. A principal foi que a empresa pela qual foi contratado tem entre seus clientes a construtora Odebrecht e outras companhias investigadas pela Lava-Jato. Ele, no entanto, disse que não atua em casos de empresas que foram alvo da operação, para evitar qualquer tipo de conflito de interesses. “Eu não enriqueci no serviço público, então fui trabalhar no setor privado, tive que ganhar a minha vida.”
Ele contou que o seu trabalho, na área chamada de “Disputas e Investigação”, tem como objetivo “ajudar as empresas a fazerem a coisa certa”. De maneira geral, disse que atua para prevenir incidentes – ou a reagir da maneira apropriada diante do surgimento de um problema interno.
Moro afirmou ainda que tem atuado em análises de risco de empresas que querem investir no país. “Tem tido muito investimento estrangeiro no Brasil, mas existe sempre uma grande preocupação de empresas estrangeiras sobre que tipo de ativo está sendo adquirido.”
Ele deu exemplos: “A empresa estrangeira não quer comprar um ativo que possa gerar para ela responsabilidades depois, como multas. Além disso, também não quer associar o seu nome a um ativo que teve problema de integridade no passado e que pode gerar consequências reputacionais”.
O ex-ministro apontou que a preocupação do setor privado com a prevenção e o combate à corrupção se trata de uma “tendência internacional” e que, no Brasil, a Lava-Jato fez “as empresas despertarem para necessidade de atuar com maior responsabilidade”. “Em alguns países houve um descolamento das ações do setor privado em relação às ações do setor público, no sentido de mesmo que a agenda do setor público não esteja na mesma página, o setor privado tem se preocupado em se inserir internacionalmente, adotando programas de integridade e compliance”, disse.
Moro afirmou ainda que, apesar de no Brasil estar havendo retrocessos no campo do combate à corrupção, as empresas brasileiras que quiserem se inserir no mercado internacional precisam estar atentas a essa tendência mundial. “A política local tem sido, de certa maneira, frustrante, em relação a alguns retrocessos no combate à corrupção, mas as empresas precisam ter uma visão um pouco mais abrangente.”
O ex-ministro citou como exemplo a área ambiental, que tem sido muito criticada internacionalmente. “Várias empresas privadas brasileiras buscaram mostrar que elas se encontram em outro momento, que elas são consistentes em suas políticas ambientais e que elas vão agir independentemente do que acontece no âmbito público.”
Segundo o ex-juiz, a mesma coisa acontece no campo da anticorrupção e do anti-suborno. “Claro que importa o que se faz no setor público, mas não necessariamente as empresas precisam esperar as iniciativas governamentais – isso eu falo não só do Brasil, mas do mundo inteiro – para fazer aquilo que é certo.”
Ele, no entanto, admitiu que “seria melhor se os dois caminhassem no mesmo passo, mas uma coisa não é necessariamente dependente da outra”.
Segundo Moro, a principal diferença em atuar no combate à corrupção no setor público e no privado, é que há uma “dinâmica” maior quando se trata de empresas. “A movimentação das engrenagens depende muito mais de uma empresa específica do que se buscar algo, por exemplo, perante o Congresso. Então, é algo relativamente mais simples. Se a empresa tem a vontade de desenvolver políticas de integridade, isso fica facilitado.”
Ele defendeu que o setor privado como um todo, e não só as empresas individualmente, deveriam se unir para fomentar as políticas de integridade. “Até porque, normalmente, essas práticas de fraude e corrupção estão também associadas à competição desleal dentro do mercado.”
Ele lembrou ainda que, hoje, uma empresa com atuação no mercado internacional tem que ter em mente que ela pode estar sujeita a mais de uma jurisdição e tem que estar preparada para cumprir as leis de cada país. “Isso torna muito mais estreito o campo da impunidade da grande corrupção, porque existem a possibilidade de diversas jurisdições internacionais atuarem nessa questão. É um mundo cada vez menor, assim como houve a globalização dos negócios, há também uma espécie de globalização da jurisdição – pelo menos para determinados crimes, como terrorismo, corrupção, lavagem de dinheiro.”
Moro começou a entrevista dizendo que não queria falar sobre política – muito menos comentar a atual crise institucional -, mas abriu uma exceção para criticar a proposta de retorno das doações empresariais, que pode voltar a ser discutida no Congresso. “A proibição das empresas realizarem as contribuições foi vista pelo setor privado, majoritariamente, como um alívio. Particularmente, não creio que seja uma aspiração do setor empresarial brasileiro o retorno do financiamento privado de campanhas.”
Sua atuação nas redes sociais, porém, demonstra que continua participando do debate político. Pelo Twitter, na semana passada, enquanto a comissão especial da Câmara rejeitava o voto impresso, escreveu: “Duas pautas que precisam ser retomadas, o fim do foro privilegiado e a volta da execução da condenação em segunda instância. Pautas sérias, sem diversionismo”.
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No alvorecer de 2017, o blogueiro Eduardo Guimarães foi alvo de operação da Polícia Federal não por ter cometido qualquer tipo de crime, mas por ter feito jornalismo publicando neste Blog matéria sobre a 24a fase da Operação Lava Jato, que focava no ex-presidente Lula.
O Blog da Cidadania representou contra grandes grupos de mídia na Justiça e no Ministério Público por práticas abusivas contra o consumidor, representou contra autoridades do judiciário e do Legislativo, como o ministro Gilmar Mendes, o juiz Sergio Moro e o ex-deputado Eduardo Cunha.
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