Oposição em SP desiste da av Paulista para não prejudicar protesto
Foto: Reprodução/Redes Sociais
Grupos de oposição a Jair Bolsonaro que disputavam com apoiadores do presidente o direito de usar a avenida Paulista no 7 de Setembro decidiram na noite desta quarta-feira (25) mudar o local da manifestação para o vale do Anhangabaú (região central).
A decisão ainda será informada à Polícia Militar, que barrou a realização do protesto na Paulista com base em decisão judicial de 2020 que proíbe grupos antagônicos de irem à avenida no mesmo dia e prevê alternância entre os lados. O entendimento é o de que, na data, a vez cabe aos bolsonaristas.
A Campanha Nacional Fora Bolsonaro, fórum de partidos, movimentos sociais e centrais sindicais que realizou desde maio quatro mobilizações nacionais pela saída de Bolsonaro, contesta a avaliação da PM e vinha pressionando o governador João Doria (PSDB) para tentar ocupar a avenida.
Diante da sinalização do tucano de que não recuaria, os líderes da oposição resolveram desistir da briga, que já tinha ganhado contornos de imbróglio judicial. A campanha chegou a entrar com uma representação no Ministério Público Estadual, que pediu a intimação da prefeitura e do governo.
Segundo Raimundo Bonfim, coordenador da CMP (Central de Movimentos Populares) e um dos líderes das marchas, a avaliação foi a de que a batalha judicial levaria tempo e, com a indefinição sobre o local, a mobilização poderia ficar prejudicada.
“Achamos que não vale a pena ficar ‘ad aeternum’ disputando a Paulista. O dia 7 está chegando e queremos fazer um grande ato. O local é algo importante, mas não é o principal”, afirma. O protesto está marcado desde 30 de julho e seria novamente na avenida-símbolo da cidade.
O próximo passo da Campanha Fora Bolsonaro será notificar a PM sobre a intenção de fazer o ato no Anhangabaú. A expectativa dos articuladores é que o espaço seja liberado. “Achamos que tínhamos o direito de fazer na Paulista, mas, como não deu, faremos nosso ato de qualquer modo”, diz Bonfim.
O fórum que reúne as forças de oposição nunca cogitou desmarcar a mobilização, mas já admitia nos bastidores trocar o local da concentração. Desta vez, a mobilização será conjunta com o Grito dos Excluídos, tradicional levante promovido no feriado da Independência por alas da Igreja Católica.
Com isso, a tendência é que a capital paulista tenha duas manifestações com pautas opostas no 7 de Setembro, ambas com início às 14h. A manifestação pró-Bolsonaro, que contará com a presença do presidente e de aliados, virou motivo de apreensão, com a possível presença de pessoas armadas.
Os atos, com edições em outras capitais, reeditam a coalizão que ajudou a levar o mandatário ao poder em 2018. A convocação une grupos com agendas díspares, incluindo evangélicos, ruralistas, policiais e caminhoneiros, em meio às ameaças ao sistema democrático e às instituições.
Marco Martins, coordenador do movimento Acredito e um dos porta-vozes do ato contra Bolsonaro, diz que a mudança de estratégia em relação ao local foi tomada depois que “ficou claro que o governo [Doria] vai manter a manobra para privilegiar o ato golpista” e lembrou que a via judicial pode demorar.
A discussão vinha se dando com base em uma decisão do ano passado que busca evitar conflitos entre grupos opostos na Paulista.
Após ser acionada pela Campanha Fora Bolsonaro, a Promotoria de Justiça de Habitação e Urbanismo da Capital encaminhou o caso ao Tribunal de Justiça, no âmbito desse processo. Também pediu a intimação da Prefeitura de São Paulo e do governo estadual para que se manifestassem sobre o pedido.
As duas administrações ainda não se posicionaram nos autos.
Para os promotores, a prefeitura deve se pronunciar sobre o impasse por ser dela a responsabilidade de “autorizar ou não o uso do espaço público em determinada ocasião”. A gestão Ricardo Nunes (MDB) disse em nota nesta quarta que recebeu a notificação e “prestará os esclarecimentos necessários”.
Os detratores do presidente rebatem a avaliação da PM de que, pelo esquema de revezamento em caso de duplicidade de pedidos, a vez é da chamada situação, ou seja, dos que apoiam o governo federal. Eles dizem que a corporação fez uma interpretação equivocada da decisão judicial que baliza o tema.
Já a Secretaria da Segurança Pública do Estado e o Palácio dos Bandeirantes endossam o encaminhamento dado pela polícia. As forças de segurança precisam ser notificadas sobre a realização de eventos em locais públicos e fazem o acompanhamento dos atos.
“O mais importante para nós é ter o povo na rua”, diz Josué Rocha, coordenador do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto), sobre a decisão de parar de brigar com os bolsonaristas pela utilização da avenida Paulista.
Como mostrou a Folha, Doria refutava uma intervenção no caso para atender ao pleito dos grupos que, assim como ele, se opõem a Bolsonaro.
Em entrevista ao programa Roda Viva, da TV Cultura, na segunda-feira (23), o governador reiterou a informação de que o governo definiu que a Paulista será liberada para os bolsonaristas no dia 7. Ele vem repetindo que a oposição poderá utilizar a via no domingo seguinte (12).
Para esse dia está marcada uma manifestação contra o presidente, capitaneada pelos movimentos MBL (Movimento Brasil Livre) e VPR (Vem Pra Rua) e por líderes de partidos como Novo e PSL. A iniciativa, ligada a setores da direita, também expressará apoio a uma terceira via para as eleições de 2022.
A fala de Doria irritou membros da Campanha Fora Bolsonaro, formada por organizações majoritariamente de esquerda. A avaliação foi que o tucano desconsiderou a mobilização da oposição já agendada para o dia 7 e tumultuou o debate ao falar do dia 12, que não está em disputa.
Em nota divulgada nesta quarta para comunicar a migração da Paulista para o Anhangabaú, a campanha afirmou fazer a alteração “sob protestos”, um sinal de que a necessidade de mudança não foi bem digerida.
Integrantes da articulação anti-Bolsonaro dizem que já iniciaram tratativas para fazer o protesto no vale, espaço cuja gestão foi concedida à iniciativa privada em 2020. Depois de dois anos em reforma e cercado por tapumes, atrasos e polêmicas, o Anhangabaú foi reaberto em julho deste ano.
Segundo relatos, uma questão que precisa ser debatida é o temor de vandalismo e brigas. Entidades que compõem a linha de frente da mobilização se dispuseram a contribuir com o esquema de segurança na área, atuando em parceria com policiais que forem destacados para o local.
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