CPI pega líder de Bolsonaro no pulo
Foto: Pedro Ladeira/Folhapress
Em depoimento à CPI da Covid, o advogado e empresário Marcos Tolentino negou ser o sócio oculto do FIB Bank, empresa que deu a garantia para o negócio envolvendo a vacina indiana Covaxin.
Tolentino, no entanto, reconheceu que possui vários negócios em comum com o grupo, que ele alega serem frutos de participações em sociedades que ele manteve no passado. E se calou quando questionado sobre detalhes de sua relação.
O advogado e empresário também disse que manteve “encontros meramente casuais” com o presidente Jair Bolsonaro e reafirmou sua amizade com o líder do governo na Câmara, deputado Ricardo Barros (PP-PR).
Tolentino prestou depoimento nesta terça-feira (14), após ter faltado em sua oitiva no início deste mês, alegando problemas de saúde. A CPI havia obtido uma autorização da Justiça para proceder com condução coercitiva, caso ele não comparecesse novamente.
O advogado prestou juramento para dizer a verdade, mas se recusou a responder a diversas perguntas, por estar amparado por um habeas corpus. Ele ainda estava acompanhado de um médico, por se recuperar de sequelas da Covid-19.
Tolentino entrou no radar da CPI por sua ligação com o FIB Bank, a empresa que deu a garantia para Precisa Medicamentos na negociação da vacina indiana. O contrato de R$ 1,6 bilhão com o Ministério da Saúde acabou suspenso após o surgimento de diversos indícios de irregularidades. A CPI considera ter provas de que ele é o sócio oculto da empresa.
O próprio FIB Bank, que não é um banco, levantou suspeitas por ter capital de R$ 7,5 bilhões. Apenas um imóvel da empresa valeria R$ 7,2 bilhões, valor considerado pelos senadores como irreal.
Além disso, Tolentino é amigo pessoal de Barros, como o próprio deputado havia afirmado em seu depoimento à comissão. Barros se tornou investigado formal do colegiado.
“Sobre a minha participação no quadro societário do FIB, divulgada por matérias afirmando a dita sociedade oculta acerca da empresa FIB Bank, eu, Marcos Tolentino, afirmo que não possuo qualquer participação na sociedade”, afirmou, na abertura de sua fala.
Tolentino disse que mantinha sociedade com Ederson Benetti, já morto, na empresa Benetti Prestadora de Serviços, de Curitiba, mas que se desligou há 12 anos.
“Dessa empresa da qual eu fazia parte, derivaram muitos negócios, direitos, bens, outras empresas, algumas que têm inclusive o nome Benetti como parte de sua razão social. E, mesmo com o falecimento do doutor Ederson Benetti, em um acordo com seu filho e herdeiro, Ricardo Benetti, algumas dessas empresas permaneceram de minha propriedade e outras foram a ele transferidas, a fim de fazer jus a seus direitos hereditários”, afirmou em seu depoimento.
“Ocorre que, como citado na imprensa, a empresa citada no início dessa explicação foi transferida, empresa essa que sob sua propriedade constitui outra empresa chamada Pico do Juazeiro, que, posteriormente, no ano de 2016, tornou-se sócia da empresa FIB Bens e Garantias Fidejussórias”, completou.
Quando questionado pelos senadores, o advogado evitou responder sobre sua relação atual com o FIB Bank e com outras pessoas e empresas ligadas ao grupo.
“Eu queria só dizer também, para agravar ainda a circunstância, que essa empresa também está localizada no mesmo endereço da MB Guassu, que é o endereço onde as outras empresas, quase todas, estão localizadas, o que evidencia uma cumplicidade muito grande e sócios ocultos, que é o que está se tentando obscurecer nesta investigação e nesta Comissão Parlamentar de Inquérito”, afirmou o relator da CPI, Renan Calheiros (MDB-AL).
Tolentino também se recusou a dar detalhes sobre a procuração fornecida pela Benetti e outras empresas do grupo, que lhe dava plenos poderes.
“Não existe, no direito brasileiro, uma procuração com poderes irreversíveis para vender e comprar e sem dar prestação de contas”, afirmou a senadora Simone Tebet (MDB-MS).
“Então, a partir do momento em que Pico do Juazeiro entregou para ele uma procuração com poderes absolutos, irreversíveis, sem precisar prestação de contas, ele está dizendo o seguinte: ‘Toma, que o filho é seu’. A Pico simplesmente, que é sócia do FIB Bank, deu para Tolentino a propriedade, a sociedade do FIB Bank”, completou.
O advogado também negou que fosse um intermediário da Precisa Medicamentos, como os senadores desconfiam. Justificou sua posição afirmando que estava internado com Covid quando a Precisa negociava a Covaxin e chegou a levar fotos que o mostravam intubado —que os senadores se recusaram a mostrar.
Também negou que tivesse realizado um jantar que teria representantes da Precisa e também o ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello.
O depoente também fez questão, sem ser perguntado, de minimizar a sua relação com o presidente Bolsonaro e sua família.
“Informo que conheço o presidente desde o período em que era deputado federal, mas não possuo nenhuma amizade pessoal ou qualquer outro tipo de relacionamento junto ao presidente. Estive com ele em alguns encontros, meramente casuais”, afirmou.
“No que diz respeito aos seus filhos, o senador Flávio Bolsonaro, deputado Eduardo Bolsonaro, Jair Renan Bolsonaro, declaro que os dois primeiros conheço de eventos políticos e sociais; já Jair Renan Bolsonaro não conheço”, completou.
Tolentino não mencionou o outro filho do presidente, o vereador no Rio de Janeiro Carlos Bolsonaro (Republicanos)
Por outro lado, reconheceu que Barros é um conhecido de “muitos anos” e que mantém atualmente uma relação de “amizade e respeito”. Afirmou que não tem negócios com o líder do governo Bolsonaro. E se desculpou por ter acompanhado Barros em seu depoimento à CPI, o que foi visto na ocasião como provocação.
Tolentino ainda lembrou que mantém negócios relacionados a precatórios, fato que levou senadores a apontaram a possibilidade de uma outra relação ainda com Barros.
“Em setembro de 2020, o deputado Ricardo Barros defendeu publicamente o uso de precatórios para financiar gastos com o Renda Cidadã”, afirmou.
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