Delator de Flávio Bolsonaro sacava quase todo salário em espécie
Foto: Reprodução
Dados da quebra de sigilo bancário de um ex-assessor do senador Flávio Bolsonaro (Patriota-RJ) que confessou ser obrigado a devolver parte dos salários, Marcelo Luiz Nogueira dos Santos, comprovam que ele fazia saques em dinheiro vivo de até 93% da sua remuneração dias depois do pagamento. Procurada, a defesa do senador nega irregularidades.
Marcelo admitiu, em entrevista ao site “Metrópoles”, que era obrigado a devolver mais de 80% da reuneração que recebia como funcionário de Flávio na Assembleia Legislativa do Rio, na época em que o filho “01” do presidente da República Jair Bolsonaro era deputado estadual. Ele esteve lotado no gabinete de Flávio na Assembleia Legislativa do Rio (Alerj) entre 2003 e 2007 e disse na entrevista que devolveu, ao todo, cerca de R$ 340 mil, e que a prática era condição para a manutenção do emprego. Os valores, segundo ele, eram sacados e repassados em espécie.
O GLOBO teve acesso à movimentação bancária de Marcelo Luiz referente ao ano de 2007, obtida pelo Ministério Público do Rio na investigação das rachadinhas no gabinete de Flávio na Alerj.
A remuneração líquida de Marcelo como assessor da Alerj, no ano de 2007, era de aproximadamente R$ 3.500,00. Ele recebeu pagamentos de seus salários na Alerj em 9 de janeiro e em 8 de fevereiro. No dia 9 de fevereiro, Marcelo sacou R$ 6.618,55, que representou 93% — ou quase a totalidade — do seu salário dos dois primeiros meses de 2007.
Em 8 de março, recebeu um pagamento de R$ 5.002,39 da Alerj. No dia seguinte, fez um saque de R$ 1.625,00. Em 9 de abril, Marcelo foi remunerado em R$ 3.539,87 e sacou R$ 3.000,00 dois dias depois, o que representa 85% do salário.
A sistemática se repetiu no mês seguinte: recebeu R$ 3.532,49 em 9 de maio e fez um saque de R$ 3.000,00 no dia 15. Em junho, Marcelo fez quatro saques fracionados no valor de R$ 500,00 alguns dias após receber o salário. Em 9 de julho, recebeu R$ 3.532,49 e sacou R$ 3.000,00 no dia seguinte.
Seu último salário pago pela Alerj naquele ano foi em 9 de agosto, no valor de R$ 3.532,49. Houve um saque de R$ 300,00 no dia seguinte e dois saques de R$ 500,00 no dia 21 de agosto.
É o segundo ex-assessor de Flávio que revela a devolução de salários. Em novembro do ano passado, O GLOBO mostrou que Luiza Souza afirmou ao MP-RJ que era obrigada a devolver mais de 90% do que recebia. Ela apresentou extratos bancários para comprovar que, entre 2011 e 2017, repassou R$ 160 mil para Fabrício Queiroz, que também atuou o gabinete e é outro alvo da denúncia dos promotores que atinge Flávio.
Procurada, a defesa do senador Flávio Bolsonaro afirmou em nota que “o parlamentar desconhece supostas irregularidades que possam ter sido praticadas por ex-servidores da Alerj ou possíveis acertos financeiros que eventualmente tenham sido firmados entre esses profissionais”. Prosseguem os advogados: “O parlamentar sempre seguiu as regras da assembleia legislativa e tem sido vítima de uma campanha de difamação. Tanto a defesa quanto o senador desconhecem as afirmações de Marcelo Luiz Nogueira dos Santos”. Marcelo Luiz foi procurado, mas não respondeu aos contatos.
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