Fusão DEM-PSL provocará debandada no Rio

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Foto: Arquivo/Agência Brasil

A megafusão entre o PSL e o DEM, que criará o maior partido de direita do país, é uma decisão já tomada por suas cúpulas, mas ainda precisa dar conta de disputas e decisões de líderes de expressão nacional ou regional para acertar com quem ficará o controle dos diretórios estaduais.

Nas 15 unidades da Federação onde as duas legendas reúnem 90% de suas bancadas — com dois ou mais deputados federais — o comando está aberto em cinco, com negociações em curso. Nos dez Estados restantes, o controle já está consolidado, metade para o PSL e metade para o DEM. No Rio — a maior seção em número de parlamentares somados, com 15 — a definição pela fusão causou um racha.

O grupo do DEM ligado ao pastor Silas Malafaia e defensor da reeleição de Jair Bolsonaro em 2022 promete uma debandada, pois perderá o controle da máquina e não pretende ficar num partido que pode servir de plataforma para uma candidatura de oposição ao presidente da República.

A expectativa é que a nova legenda tenha, de longe, a maior bancada federal, com cerca de 80 parlamentares, e consequentemente, as maiores fatias do fundo eleitoral e do tempo de TV, os dois recursos políticos mais cobiçados numa campanha.

Menor na Câmara, onde tem 28 deputados, porém com políticos mais experientes e com maior capilaridade nacional, o DEM tende a emplacar a chefia de ao menos cinco dos 15 diretórios com maior força — Minas Gerais, Bahia, Rio Grande do Sul, Goiás e Santa Catarina — e seus políticos dominarão a maioria dos 12 Estados restantes.

Dirigentes do PSL, cuja bancada de 54 deputados é quase o dobro, devem controlar os dois diretórios mais fortes, Rio e São Paulo, além de Paraná, Pernambuco e Tocantins. Os cinco Estados respondem hoje por 45% das bancadas somadas dos dois partidos.

Em Minas, a dúvida é sobre o destino do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM), que tem convite para concorrer ao Planalto pelo PSD — uma decisão individual. Em outras cinco unidades da Federação, a indefinição decorre da disputa ou negociação entre grupos, com situação mais aberta na Paraíba, no Espírito Santo, no Distrito Federal, no Mato Grosso do Sul e no Pará.

Neste último, a direção ficará entre os deputados Hélio Leite (DEM) e Celso Sabino, relator da reforma do Imposto de Renda, que deixou o PSDB e filiou-se ao PSL na quarta-feira, diz Antonio Rueda, vice-presidente nacional do PSL e presidente do diretório de São Paulo. O advogado deve manter ambos os postos na fusão.

Rueda é braço-direito do presidente nacional do PSL, deputado federal Luciano Bivar, que preservará o cargo partidário mais alto e o controle sobre a seção de Pernambuco. O presidente do DEM, ACM Neto, deve ficar com a secretaria-geral e o diretório da Bahia, onde é pré-candidato ao governo.

Se na cúpula as negociações se deram sem maiores conflitos, no Rio a disputa solta faíscas. Na reunião da Executiva nacional, na semana passada, em que o DEM aprovou a união por 40 votos a zero, o presidente do diretório fluminense, deputado Sóstenes Cavalcante, teria concordado com a fusão, desde que o comando não ficasse com seu congênere no PSL e se encontrasse um ‘tertius’.

O prefeito Waguinho, de Belford Roxo, afasta a hipótese. “Manda quem tem voto. Se ele calçar as sandálias da humildade, abriríamos um espaço na direção. É possível que seja a primeira-secretaria, que tem mais poder que a vice-presidência. Quem tem mais currículo? Ele vive do voto do Malafaia”, afirma Waguinho. Procurado, Sóstenes não respondeu a mensagem e telefonema da reportagem.

O prefeito conta que suas diferenças com Sóstenes são antigas e terá uma reunião nesta semana com Malafaia, com quem teria uma relação “100% boa”. O líder evangélico confirma e diz ter amizade com Waguinho, à parte “a desavença” dele com seu aliado, que também é pastor da Assembleia de Deus Vitória em Cristo.

“A questão não é Waguinho. É Bolsonaro. Se é para o partido lançar uma terceira via, nossa turma vai sair. É esperar até abril, no máximo, quando abrir a janela de transferência. E irmos para onde o presidente for ou para outro partido alinhado com a reeleição dele”, diz Malafaia, que aposta na ida de Bolsonaro para o PTB, o PL ou o Republicanos, legenda da Igreja Universal do Reino de Deus, sua concorrente no meio evangélico. “Para isso não vamos. Será a maior furada. Porque dirão que o presidente está no partido do Edir Macedo”.

PSL e DEM têm três pretendentes ao Planalto como alternativas à polarização entre Bolsonaro e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Além de Rodrigo Pacheco, há o apresentador de TV José Luiz Datena (PSL-SP) e o ex-ministro Luiz Henrique Mandetta (DEM).

Para Rueda, esses presidenciáveis são uma opção, mas também é possível que a sigla busque uma aliança, exceto com o PT e o ex-ministro Ciro Gomes (PDT), por estarem na esquerda. “A gente não deve se precipitar agora. E não deve se fixar. Tem que ter a cabeça aberta para entender qual é o melhor projeto para o país, fazendo a leitura política, eleitoral. Vamos ter a maturidade suficiente para chegar ao melhor caminho”, diz.

O dirigente classifica a vocação do novo partido como em defesa da “independência partidária” mas nega que nasça à distância do governo Bolsonaro. “Não é distância. A gente tem o maior partido. Temos quadros legítimos. Se eles tiverem densidade eleitoral, por que não? Vamos prestigiar, primeiro, quem está dentro do partido. A gente também não descarta composição. É minha opinião pessoal”, afirma.

Rueda conta que as duas siglas já estão “pensando como partido único”. O grupo encomendou uma pesquisa qualitativa para definir o novo nome — provavelmente incluindo as palavras democracia e liberal — e testar o número, que pode ser mantido, seja o 17 do PSL ou o 25 do DEM.

Sobre a existência de atritos entre dirigentes dos dois partidos pelo controle dos diretórios, o advogado diz que, em 20 anos na Executiva nacional do PSL, já viu muitas disputas e que elas são naturais, sobretudo num momento como esse em que surge uma legenda que será a maior do país. Em São Paulo, afirma, “a conversa está muito saudável”. “O [vereador do DEM] Milton [Leite] já sabe que a gente está no comando, e as conversas estão bem pacíficas”, diz Rueda.

Entre os demais Estados com controle do DEM já definido estão Rio Grande do Sul, reservado para o ministro do Trabalho Onyx Lorezoni (DEM) — mas que pode deixar o partido para apoiar Bolsonaro —; Goiás, com o governador Ronaldo Caiado; e Santa Catarina, para o prefeito de Florianópolis, Gean Loureiro. O PSL terá o deputado estadual Fernando Francischini (PSL) no comando do Paraná e o governador Mauro Carlesse, no Tocantins.

Valor Econômico

 

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