O que tornou Alexandre de Moraes arqui-inimigo de Bolsonaro

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Foto: Nelson Jr. / SCO /STF

Ao discursar para apoiadores na Avenida Paulista, o presidente Jair Bolsonaro demonstrou na fala quem considera seu atual “inimigo nº 1”. O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, figurou como principal alvo do chefe do executivo num discurso inflamado durante a manifestação antidemocrática do 7 de setembro em São Paulo. Moraes foi chamado de “canalha”, e Bolsonaro ainda afirmou que não vai cumprir futuras decisões do ministro e que ele deveria “pegar o chapéu” e deixar a Corte.

— Dizer a vocês que qualquer decisão do senhor Alexandre de Moraes, esse presidente não mais cumprirá. A paciência do nosso povo já se esgotou. Ele tem tempo para pedir seu boné e ir cuidar da sua vida. Ele, para nós, não existe mais — discursou Bolsonaro a apoiadores.

Moraes é relator de quatro inquéritos em que Bolsonaro e seus aliados figuram como investigados. Nos últimos dias, o ministro deu andamento a diligências no âmbito do inquérito que apura atos antidemocráticos. Na segunda-feira, véspera das manifestações, foram cumpridas uma prisão preventiva, buscas e apreensões contra suspeitos de financiar os atos e o bloqueio das contas em redes sociais. Entre os alvos, estavam o blogueiro bolsonarista Oswaldo Eustáquio, Márcio Giovani Nique, conhecido como “professor Marcinho”, uma busca na sede e bloqueio de contas da Associação dos Produtores de Soja do Estado de Mato Grosso (Aprosoja-MT), e uma busca contra o prefeito de Cerro Grande do Sul (RS), Gilmar Alba (PSL), flagrado recentemente com R$ 505 mil em espécie no aeroporto de Congonhas, em São Paulo. As prisões e buscas atendiam um pedido da Procuradoria-Geral da República (PGR).

As ofensivas contra organizadores, incentivadores e financiadores começaram na semana passada, com o cumprimento de ordens de prisão contra o blogueiro Wellington Macedo e o caminhoneiro Marcos Antônio Pereira Gomes, o Zé Trovão. Foragido, o caminhoneiro continua usando perfis alternativos para publicar provocações ao ministro do Supremo.

Outros dois nomes ainda lembrados por Bolsonaro são do ex-deputado federal Roberto Jefferson (PTB-RJ) e do deputado federal Daniel Silveira (PSL-RJ), investigados por ataques e ofensas às instituições democráticas e ao Supremo. Jefferson e Silveira são tratados por Bolsonaro e seus apoiadores como “presos políticos”. Ontem, em Brasília, Bolsonaro criticou a detenção de aliados:

— Não podemos mais aceitar prisões políticas no nosso Brasil. Nós todos aqui na Praça (dos Três Poderes, onde também fica o Palácio do Planalto), juramos respeitar a nossa Constituição. Quem age fora dela ou se enquadra ou pede para sair.

Em seu perfil no Twitter, Alexandre de Moraes defendeu “absoluto respeito” à democracia, em resposta aos ataques. “Nesse Sete de Setembro, comemoramos nossa Independência, que garantiu nossa Liberdade e que somente se fortalece com absoluto respeito a Democracia”, escreveu o magistrado.

O ministro também é relator do inquérito que apura a disseminação de fake news e ataques aos ministros do Supremo e incluiu o presidente na lista de investigados, e outro que apura uma suposta interferência na Polícia Federal. Moraes também foi alvo de um pedido de impeachment feito por Bolsonaro, mas que acabou rejeitado pelo presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG). À época, Pacheco seguiu parecer da Advocacia-Geral da Casa, que entendeu não haver motivos para iniciar o processo por ausência de “justa causa”.

Inicialmente, Bolsonaro também direcionava seus ataques para Luis Roberto Barroso, também ministro do Supremo e atual presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). O posto deve ser assumido por Moraes ano que vem, antes da disputa das eleições de 2022. O TSE tem sido alvo de críticas por parte de presidente. Ao ingressar com o pedido de impeachment contra Moraes, o presidente chegou a anunciar que entraria com um pedido contra Barroso, mas recuou dias depois. Bolsonaro trabalhava para aprovação do projeto que previa o voto impresso, derrotado na Câmara dos Deputados há algumas semanas, apesar da pressão do presidente.

Nesta terça, em São Paulo, Bolsonaro declarou que o atual sistema “não oferece qualquer segurança”, embora nenhuma fraude tenha sido nos últimos 25 anos, desde que a urna eletrônica passou a ser usada no Brasil:

— Queremos eleições limpas, democráticas, com voto auditável e contagem pública dos votos. Não podemos ter eleições que pairem dúvidas para os eleitores. Não posso participar de uma farsa como essa patrocinada ainda pelo presidente do Tribunal Superior Eleitoral. Barroso, frequente alvo de ataques de Bolsonaro, não foi citado nominalmente como Moraes.

O Globo 

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