PTB reage a possível filiação de Bolsonaro
Foto: Reprodução / Facebook / PTB
A pouco mais de um ano da eleição de 2022 e ainda sem partido, o presidente Jair Bolsonaro, auxiliado por seus filhos, intensificou as conversas com o PTB, comandado pelo ex-deputado federal e um dos seus aliados mais radicais Roberto Jefferson, que está preso por ameaças a ministro do Supremo Tribunal Federal (STF). A família já levou à mesa algumas das condições para se filiar, entre elas ter autonomia para escolher candidatos majoritários em estados-chave e a necessidade de Jefferson moderar o tom das críticas públicas. O mais recente capítulo da aproximação com o clã presidencial, porém, provocou um desentendimento na legenda.
Encarregado de capitanear as negociações com siglas dispostas a abrir-lhe as portas, o senador Flávio Bolsonaro (Patriota-RJ) se reuniu na semana passada com o empresário Otávio Fakhoury, presidente do diretório do PTB em São Paulo. O encontro ocorreu sem a presença da presidente em exercício do partido, Graciela Nienov, alçada ao posto pelas mãos do próprio Jefferson, o que irritou a ambos.
De acordo com Graciela, o ex-deputado escreveu uma carta de próprio punho para reafirmar seu apoio a ela e criticar Fakhoury.
— Essa reunião não teve fruto do PTB. Não estava sabendo. Eu quero deixar claro que ele não fala pelo partido — afirmou a presidente, para depois dizer que é a favor da chegada de Bolsonaro e que o mal-estar já foi resolvido num telefonema com Fakhoury. — Eu sou desapegada à minha cadeira. A gente quer muito o Bolsonaro no partido. O Flávio, o Eduardo, todos eles, serão muito bem-vindos.
Reservadamente, Graciela costuma livrar Fakhoury de suas críticas e atribuiu o fogo-amigo do qual é vítima no partido a três correligionários: o jornalista Oswaldo Eustáquio, o deputado Nivaldo Albuquerque, de Alagoas, e a ex-deputada e filha de Jefferson, Cristiane Brasil. O desconforto interno, entretanto, pode ter outros desdobramentos. Na carta, Jefferson pede a criação de um “conselho consultivo” capaz de dar à presidente poderes para “dissolver provisórias e expulsar murmuradores”. Graciela adiantou que pretende tomar essas providências a partir da semana que vem.
Além de expor a importância de Jefferson baixar o tom dos ataques ao STF, Flávio deixou claro a Fakhoury que Bolsonaro considera fundamental poder escolher nomes para concorrer ao Senado e a governos estaduais, sobretudo no Nordeste. Não se trata de um capricho. O Senado tem sido a arena Legislativa em que o governo mais vem encontrando dificuldades para aprovar suas pautas, e o Nordeste a região na qual o seu principal adversário em potencial, Luiz Inácio Lula da Silva, conta com mais força eleitoral.
Flávio confirma a reunião com Fakhoury, prega a conciliação, mas deixa claro que a batida de martelo dependerá de um entendimento dos dois nomes com maior poder decisório em seus respectivos grupos políticos.
— A conversa (com Fakhoury) foi boa, mas acho que, antes de qualquer decisão de ir para o PTB, teria que ter uma conversa direta do presidente Bolsonaro com o Roberto Jefferson, o que agora não é possível — afirmou Flávio.
Dirigentes partidários que negociaram com os Bolsonaro afirmam que o clã exige assumir o controle de cadeiras de comando do partido em que desembarcarem. Na conversa com o PTB, ficou acertado que Jefferson continuaria na cadeira de presidente, se e quando deixar a cadeia, e Bolsonaro atuaria como presidente de honra da legenda.
Flávio admite frentes de diálogo em curso com outras legendas, não apenas de pequeno e médio portes, como o PTB. O PP já flertou com Bolsonaro. O próprio ministro da Casa Civil e homem forte da sigla, Ciro Nogueira, fez movimentos para atrair o chefe.
— Estamos com bom diálogo com o PTB e também mantemos conversas com outros partidos. Em relação à própria fusão do PSL com o DEM, vamos esperar para ver se tem diálogo. Tem também o convite do Ciro Nogueira ao presidente para se filiar ao PP, mas seriam necessários ajustes com algumas lideranças do partido. — disse Flávio.
Eleito pelo PSL, Bolsonaro e seus filhos brigaram com o presidente da legenda, o deputado Luciano Bivar, e se desfiliaram no final de 2019. Desde então, a família procura uma legenda, principalmente depois de ver naufragar o plano de fundar uma sigla, a Aliança pelo Brasil.
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