Brasileiros podem estar comprando carne podre por ser mais barata
Foto: Emidio Marques / Arquivo JCS
Escrita em 2002 por Seu Jorge e Marcelo Yuka, A Carne faz poderosa crítica ao racismo no país. Imortalizada na voz de Elza Soares, a canção fala de desrespeito e violência no cotidiano de pretos e pobres – extrato social que predominantemente consome a “carne mais barata do mercado”.
No prato do brasileiro, a carne mais barata do mercado pode ser podre, contaminada, e causar pelo menos 21 tipos de doenças, algumas que levam à morte.
Entre 2017 e 2021, o Ministério da Saúde notificou 74 surtos de doenças em que a carne foi apontada como causadora, o que resultou em 1.944 doentes pela ingestão do alimento contaminado.
Em tempos de pandemia, desemprego em alta e perda de poder de compra, uma expressiva parcela da população passou a comprar carne vermelha sem procedência – livre de impostos e fiscalização – e recheada de riscos.
Estima-se que 15% dos quase 30 milhões de abates de gado no Brasil em 2020 tenham ocorrido em estabelecimentos clandestinos. Para especialistas ouvidos pelo Metrópoles, a alta de 48% no preço da carne vermelha empurrou famílias mais carentes ao consumo de produtos não submetidos a inspeções sanitárias e, portanto, muito mais baratos.
Não é preciso percorrer grandes distâncias para achar em mercados, feiras livres e açougues peças de boi provenientes de matadouros ilegais. Levantamento da reportagem feito a partir de contatos com órgãos de inspeção sanitária e polícias de vários estados revela que pelo menos 45 abatedouros foram fechados no ano passado.
São recintos em que bois são mortos a golpes de marreta, cortados no chão e manipulados por homens sem luvas, toucas de proteção ou qualquer tipo de equipamento que blinde a carne de contaminação.
Embora desperte extrema preocupação dos órgãos de controle, o abate clandestino de animais já foi uma atividade ainda mais corriqueira no passado. Em 2012, por exemplo, 20% de carne clandestina eram vendidas no Brasil. Esse foi um dos motivos que levou o Ministério Público Federal (MPF) a lançar, no ano seguinte, a campanha Carne Legal. A força-tarefa liderada pelo procurador Daniel Azeredo começou a exigir a obediência a critérios rígidos de frigoríficos e supermercados na hora de comprar carne em abatedouros da Amazônia.
Azeredo lembra que a criação de gado para abate sem qualquer tipo de critério estava causando enorme devastação de florestas. “A gente percebeu que parte da carne produzida na região e que abastecia o Brasil inteiro vinha de fazendas em que se tinha trabalho escravo e nenhuma inspeção sanitária”, contou.
Para frear a comercialização de proteína animal sem procedência, o MPF firmou Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) com mais de 100 empresas dos ramos atacadista e varejista, em que elas se comprometeram a negociar somente com abatedouros legalizados. “Os acordos resultaram, entre 2010 e 2020, em redução de mais de 60% no desmatamento para pasto na Amazônia, porque quem operava na irregularidade não tinha mais para quem vender”, destacou o procurador.
Com o aumento do preço da carne formal atualmente e a consequente migração para a aquisição de produtos sem origem, Azeredo não descarta ampliar o programa para outras regiões do país. “O abate clandestino nos leva a um cenário sério, em que se coloca em risco a vida do consumidor e compromete questões socioambientais. Temos analisado a possibilidade de fazer o Carne Legal chegar a outros estados”, pontuou.
A combinação de preço alto do produto legal e a atuação feroz dos abatedouros sem anuência do Poder Público pode explicar levantamento da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) que mostra que o consumo médio de carne bovina em 2021 é o menor dos últimos 25 anos. Só entre 2015 e 2021, a queda foi de 20%. Ou seja, há seis anos, o brasileiro comia, em média, 33,2 quilos de carne em 12 meses. Para este ano, a previsão é que o índice fique em 26,4 quilos per capita.
“Esses números são explicados por algumas combinações do mercado: primeiro, a produção de carne vermelha não tem aumentado no mesmo ritmo da demanda. Segundo, que, em 2020, tivemos um choque externo, em que a pandemia trouxe a taxa de câmbio para outro patamar, o que acabou estimulando as exportações. Tudo isso contribuiu para manter o preço no mercado interno elevado, o que acaba sendo um termômetro do consumo. Para quem vive em situação de ter menor renda disponível, acaba escolhendo proteínas mais baratas”, detalhou o superintendente de Inteligência e Gestão da Oferta da Conab, Allan Silveira.
Em 2008, o professor do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) João Felippe Cury publicou um estudo que mostrava que, naquela época, estimava-se que quase 50% dos abatedouros do país eram clandestinos. O levantamento não chegou a ser atualizado, mas o autor da pesquisa acredita haver uma subnotificação das ocorrências.
“Esse trabalho, na época, teve como essência compatibilizar a oferta com a demanda. Analisei todos os abates oficiais no Brasil e, comparando com o perfil de consumo das famílias, percebi que havia uma grande subnotificação, mais precisamente de 48%. As coisas mudaram muito de lá para cá, mas com o preço atual da carne bovina, pode, sim, estar levando o país novamente ao consumo indiscriminado de carne sem procedência”, alertou o especialista.
No Entorno do Distrito Federal, uma casa de recuperação que trata dependentes químicos encontrou uma forma mais econômica para alimentar os 150 pacientes homens internados. As refeições, agora, contam com mais ovo no cardápio.
O fundador do centro terapêutico Salve a Si, Henrique França, explica que a elevação do preço da carne vermelha forçou a entidade a se reinventar. A Salve a Si ganhou de um doador 300 galinhas poedeiras, o que garante produção própria, em média, de 350 ovos diários.
“Treinei um funcionário para lidar com essas galinhas. Quando elas completarem dois anos mais ou menos e pararem de colocar ovos, vamos abatê-las.”
A instituição também investiu na construção de quatro tanques para criação de peixes. Até o início da pandemia, os reservatórios chegaram a ter 20 mil tilápias, mas atualmente estão vazios em função do encarecimento do preço da ração. “Como a ração delas é à base de milho, e o milho subiu absurdamente, não estávamos mais conseguindo manter essa dieta necessária para continuar com a criação das tilápias”, explicou França.
Em menor quantidade, a carne vermelha só não saiu de vez da dieta dos dependentes químicos porque um açougue da região fez um acordo de vender o quilo da maminha a R$ 20 – no mercado custa, em média, R$ 40 –, independentemente do valor formal. “Foi um gesto de caridade desse açougue para com a entidade e tem sido fundamental. Em tempos de preço absurdo da carne, temos de nos reinventar”, destaca.
A mudança radical na alimentação na Salve a Si reflete o que ocorre no país inteiro. Dados da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA) apontam que nunca se comeu tanto ovo no Brasil. A projeção da ABPA é que o consumo per capita em 2021 fique em 265 unidades. Em 2020, cada morador do país comeu, em média, 250 ovos. Em 2019, 2018 e 2017 foram 230, 212 e 192, respectivamente.
O incremento de 38% também acabou atraindo gente disposta a ganhar dinheiro fácil. Em maio deste ano, por exemplo, a Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) desmantelou um esquema criminoso que poderia colocar em risco a saúde de milhares de pessoas. Em uma operação, cerca de 600 mil ovos estragados e com datas de validade adulteradas foram apreendidos.
Os responsáveis receberam multa e foram indiciados pela pela prática de crime contra as relações de consumo.
O ovo não foi o único alimento a tomar o lugar da carne vermelha no prato do brasileiro. A carne de segunda se tornou artigo de luxo para as classes C e D, e outros tipos de proteína animal ganharam espaço.
Tal fenômeno começa na base dessa cadeia produtiva. Nos primeiros três meses de 2021, os 223 abatedouros espalhados pelo país mataram 6,5 milhões de bois e vacas. No mesmo período de 2019, quando ainda não havia pandemia, a quantidade de animais abatidos foi de 7.927 milhões. Ou seja, este ano houve redução de 17,4% na linha de produção dos frigoríficos. Os dados são do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Já o abate de aves, como o frango, apresentou curva ascendente e subiu 6% no primeiro trimestre de 2021 em relação ao mesmo período de 2019. Em números absolutos, a produção saltou de 1.438.152 para 1.552.751.
No caso dos suínos, o incremento foi ainda maior: quase 11%. Se entre janeiro e março de 2019 acabaram indo para o abate 11,2 milhões de porcos, neste ano foram 12,5 milhões.
No caso dos suínos, o incremento foi ainda maior: quase 11%. Se entre janeiro e março de 2019 acabaram indo para o abate 11,2 milhões de porcos, neste ano foram 12,5 milhões.
Para dezenas de famílias de Cuiabá (MT), o que sobra da desossa de um açougue no centro da cidade é o que complementa a alimentação. Pelo menos três vezes por semana, a partir das 11h, uma longa fila de pessoas se forma à espera dos saquinhos com osso.
Foto: Ednilson Aguiar/Especial para o Metrópoles
A dona de casa Beatriz Benedita Barbosa, 65 anos, há pelo menos três anos cumpre o ritual no decorrer da semana. Com os ossos, ela diz conseguir servir uma refeição com “mais sustança” aos três filhos e cinco netos. “Como tem uma cartilagem boa nos pedaços de ossos, dá, sim, pra fazer tipo um ensopado ou costela. É melhor do que não ter carne nenhuma pra comer”, diz.
Desempregada, ela voltou a cozinhar no improvisado fogão de lenha na pandemia. “Não dou conta de pagar quase R$ 100 no botijão de gás. É um sofrimento, mas a gente leva do jeito que dá e do jeito mais barato possível.”
Se em Cuiabá a fila é para conseguir alguns pedacinhos de ossos, no Rio de Janeiro centenas de famílias pobres aguardam ansiosamente a passagem semanal do caminhão do peixe. Trata-se de um projeto encabeçado pela ONG Viva Jacarezinho, que recebe como doação os peixes não vendidos na Central de Abastecimento (Ceasa).
Quando o carregamento é grande, além do Jacarezinho, o veículo visita outras comunidades do Rio de Janeiro. A reportagem do Metrópoles acompanhou uma distribuição na favela Kelson’s, na Penha, zona norte.
Foto: Vinícius Schmidt
O diretor da Viva Jacarezinho, Venilson Ferreira Marques, explica que o projeto ganhou tanta força que, na semana, de 800 a 1 mil famílias são contempladas com a doação de peixes. “Essas pessoas já viviam em dificuldade, mas a pandemia agravou mais ainda esse cenário. Tem família na comunidade em que a única proteína consumida é o peixe que distribuímos. Há situações de cortar o coração”, lamenta Venilson.
Em agosto de 2018, a China registrou os primeiros casos de peste suína africana, doença altamente contagiosa entre suínos, mas que não acomete o homem. Estima-se que a enfermidade tenha dizimado 1 bilhão de porcos no país asiático.
Mas como uma crise sanitária há 16,2 mil quilômetros de distância com suínos afeta o preço da carne bovina no Brasil? Quem explica é o engenheiro agrônomo e analista de mercado da Scot Consultoria, Rodrigo Tannus de Queiroz.
“Com a peste suína dizimando grande parte do rebanho suíno, a China ficou com um buraco na oferta e buscou preencher esse vácuo com outro tipo de proteína: a carne bovina. Com isso, as exportações no Brasil de carne subiram demais. Ao mesmo tempo, houve forte queda na oferta de fêmeas para o abate. E a partir do momento em que se passou a vender mais para o mercado internacional, os preços começaram a subir no mercado doméstico.”
Já Lygia Pimentel, diretora da Agrifatto, uma consultoria voltada para análise do mercado agropecuário, acrescenta a pandemia de Covid-19 como outro fator a pressionar a redução expressiva de carne bovina no Brasil. “Quem consome carne sem procedência geralmente é a população de baixa renda. Com a pandemia, as famílias perderam mais poder de compra e, sobretudo as mais carentes, ou migraram para o frango e porco ou começaram a buscar comprar carne vermelha mais em conta e, muitas vezes, sem origem. Então, essa questão passa muito pela renda no Brasil”, destacou.
O próprio Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, em nota enviada ao Metrópoles, admitiu ter grande preocupação com as matanças indiscriminadas. Ao comentar os números de abates no Brasil, a pasta declarou que “o número poderia ser ainda maior se a capacidade ociosa de abate dos atuais 223 abatedouros de bovinos sob inspeção federal fosse utilizada”.
O órgão acrescentou que o “abate clandestino é aquele realizado sem a inspeção de um médico veterinário oficial, sem exame do animal antes e após a morte por parte de um servidor qualificado e treinado para a atividade”.
Apesar de garantir ter intensificado a fiscalização para coibir tais práticas, o Ministério da Agricultura não revelou quantos estabelecimentos clandestinos foram lacrados.
No aspecto nutricional, quem optou trocar a carne de boi por frango ou peixe não sentiu perda significativa de proteína, uma vez que esses dois últimos alimentos são até considerados mais saudáveis. O problema é que muitos brasileiros resolveram agregar às refeições alimentos prejudiciais à saúde.
Um estudo intitulado A pandemia da Covid-19 e as mudanças no estilo de vida dos brasileiros adultos mostrou que, durante a pandemia, 33% dos entrevistados responderam ter o hábito de comer hortaliças. Antes de a Covid-19 instalar-se no país, esse índice era de 37,3%.
A pesquisa é uma parceria entre cinco universidades públicas e duas fundações e tem por objetivo descrever mudanças no estilo de vida do brasileiro durante o período de restrição social.
As 45.161 mil pessoas que responderam ao questionário também reportaram a ingestão de menos frutas. Antes da pandemia, 32,8% compravam laranjas, bananas, limão e outros, índice que passou para 31,9%.
Por outro lado, o levantamento apontou salto de 10% para 14,6% no consumo de comida congelada, de salgadinhos (de 9,5% para 13,2%) e de chocolates e doces (de 41,3% para 47,1%.
A equação formada por menos frutas, verduras e hortaliças e mais doces, salgadinhos e ultraprocessados não poderia ter outro resultado: mais peso na balança. De acordo com um estudo conduzido pelo NutriNett Brasil, 19% dos 14 mil respondentes da pesquisa disseram ter ganhado pelo menos dois quilos na pandemia.
O NutriNet é executado pelo Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde da Universidade de São Paulo (Nupens/USP) e tem por objetivo avaliar, por 10 anos, a relação entre alimentação e o desenvolvimento de doenças crônicas em um grupo formado por 200 mil pessoas.
De acordo com a mestre em nutrição, pesquisadora do Nupens/USP e uma das autoras coordenadoras do NutriNet Brasil, Caroline Costa, os resultados indicaram que os piores cenários identificados foram entre aqueles com escolaridade e renda mais baixas.
“Em tese, os alimentos mais saudáveis, como os frescos, ainda são mais baratos no Brasil do que os ultraprocessados, mas o menor acesso a informações sobre saúde e hábitos saudáveis podem ser uma resposta para esse comportamento alimentar nas classes sociais menos favorecidas”, sugere Caroline.
Os outros fatores que contribuem para o ganho de peso, no entendimento da pesquisadora da USP, são mais óbvios: “A pandemia nos levou a um contexto de maior estresse e menos atividades físicas, pelo menos para a maior parcela da população”.
O presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia do DF (SBI), José David Urbaez Brito, alerta que, além da carne vermelha contaminada, há uma grande preocupação da classe médica com o consumo de ultraprocessados estragados, como salsichas e mortadelas.
“Obviamente que gera apreensão o aumento do consumo de alimentos sem qualquer tipo de controle. A falta de barreiras sanitárias a esses produtos pode, sim, levar a quadros graves e até mesmo à morte.”
Brito explica quais são os riscos de contaminação. “O animal pode estar doente e tem a carne consumida pelo ser humano. O risco aumenta se estiver mal passada. Entre as doenças mais comuns, estão a toxoplasmose, brucelose, tuberculose e uma das mais perigosas, a cisticercose.”
A chegada da pandemia ao país fez a infectologista Ana Helena Germoglio ver alas inteiras do Hospital Regional da Asa Norte (Hran), onde ela trabalha, lotadas de pacientes infectados pela Covid-19. A médica conta que, a exemplo de doentes com o vírus, a incidência de pessoas que chegam relatando problemas decorrentes da ingestão de alimentos contaminados é alta.
“Uma carne quando ela passa do seu período de validade, seja porque ficou muito tempo refrigerada ou porque ficou fora de refrigeração, pode gerar muitos danos, desde mais leves, a moderados, gravíssimos e até óbitos. Existem muitas doenças relacionadas que as pessoas chamam genericamente de infecção alimentar, que são secundárias do consumo do alimento mal conservado”, ressalta.
Dentre os males mais severos, Ana Helena Germoglio destaca escherichia coli, salmonella, shigelose e campylobacter. “Essa última, inclusive, pode dar quadros de diarreia e, eventualmente, evoluir para um quadro muito grave de outra doença: a guillain-barré, que é um tipo de paralisia flácida, que começa com paralisia nos membros inferiores e vai subindo para os superiores.”
O fisioterapeuta Matheus Coutinho Custódio, 26, foi um dos pacientes da doutora Ana Helena a apresentar severas complicações após provável ingestão de alimento estragado. Ele conta que em julho deste ano pediu uma pizza de pepperoni em Águas Claras, onde mora com a esposa. Vinte minutos após comer o primeiro pedaço, começou a sentir desconforto intestinal, sucedido por uma diarreia. “Minha esposa começou a melhorar no dia seguinte, mas eu, uma semana depois, ainda sentia calafrios e contração no corpo todo. Às vezes, parecia que meu corpo estava anestesiado. Eu sentia muita dor, principalmente no braço esquerdo”, relata.
Ao começar a sentir dificuldades para respirar, Matheus chegou a suspeitar de Covid-19, mas um exame mais detalhado constatou que o consumo dos ingredientes da pizza o fez desenvolver uma bactéria que libera toxinas e inibe o apetite. “A doutora Ana me passou um protetor gástrico, porque eu não estava com vontade de comer e beber água, o que pode acabar agravando o quadro. Quase três semanas depois, eu ainda sentia sintomas.”
A pressão da inflação no consumo de alimentos do brasileiro é mais devastadora para quem vive abaixo da linha da pobreza. Até quem está acostumado a viver de restos tem sentido diferença no que é descartado nas latas de lixo.
Alexandre Medeiros Cardoso, 64, mora há 18 anos nas ruas e relata nunca ter visto escassez tão grande. “Antes, eu achava no lixo salgadinho, bolo, coisas saborosas. O pessoal também dava um pãozinho com manteiga, um café. Hoje, não tem nada no lixo, e parece que as pessoas que me ajudavam estão com mais dificuldades, e não é sempre que podem doar”, observa.
Preto, pobre, sem-teto e faminto, Alexandre Medeiros é a mais triste representação da “carne mais barata do mercado” no Brasil de 2021.
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