Cinco maiores Casas Legislativas têm forte rejeição a Bolsonaro
Foto: Reprodução/ O Globo
Enquanto ainda mantém uma base fiel no Congresso, o presidente Jair Bolsonaro vem perdendo apoio entre os deputados estaduais. Levantamento feito pelo GLOBO nas Assembleias Legislativas de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Bahia mostra que 39% dos parlamentares que votaram em Bolsonaro em 2018 já admitem fazer campanha para outros candidatos no ano que vem.
Antigos apoiadores atrelam a mudança de lado à radicalização do discurso do presidente e à má conduta na pandemia. Por isso, a base nos estados fica restrita a quadros mais alinhados ideologicamente ao governo federal. Pesam também o alinhamento dos parlamentares ao governo do seu estado e circunstâncias eleitorais. De acordo com pesquisa Datafolha da semana passada, 26% das pessoas que votaram em Bolsonaro no segundo turno de 2018 também trocarão de candidato.
Dos 77 deputados eleitos nas cinco maiores assembleias do país com algum tipo de apoio ao presidente da República, 30 mudaram de lado. A debandada vem até de partidos do Centrão, que compõem a base do presidente. Apesar de terem admitido ao GLOBO a nova posição eleitoral, alguns deputados consultados pediram para não ter os nomes divulgados.
Na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp), onde Bolsonaro viu seu apoio cair de 32 para 14 deputados, quem mais absorveu ex-bolsonaristas foi o governador João Doria (PSDB). O tucano se elegeu sob o mote do “BolsoDoria”, em 2018, e agora vai disputar as prévias do partido para ser candidato à Presidência. Um deles é o deputado Adalberto Freitas (PSL-SP), que pretende migrar para o PSDB. Freitas cita as acusações de prática de “rachadinha” envolvendo os filhos de Bolsonaro como um dos principais motivos para se afastar.
Outros parlamentares dizem defender a terceira via, sem escolher um nome. Arthur do Val (Patriota), que já admitiu publicamente ter votado em Bolsonaro para não eleger Fernando Haddad (PT) em 2018, virou crítico do presidente logo após a eleição. Do Val pretende se candidatar ao governo paulista contra o vice de Doria, Rodrigo Garcia (PSDB).
Mudança de perfil
No Rio Grande do Sul, oito dos 15 deputados que estiveram com Bolsonaro em 2018 já mudaram de posição. A fuga de apoiadores beneficiou principalmente o atual governador e possível candidato do PSDB à Presidência, Eduardo Leite, que também disputará prévias.
— Foi um estado que se tornou mais crítico a Bolsonaro, especialmente em função da pandemia da Covid-19. Aqui, quem mantém o apoio ao presidente são os deputados que dependem dos segmentos do agronegócio e são ligados a setores econômicos — disse Elis Radmann, cientista social e política e diretora do Instituto Pesquisas de Opinião (IPO).
Entre os cinco maiores estados, o Rio de Janeiro foi onde os deputados se mantiveram mais fiéis ao presidente. Dos 15 bolsonaristas de 2018, só dois admitem ter mudado de lado. Parlamentares da base governista disseram ao GLOBO que, apesar de muitos deputados não apoiarem abertamente o governo federal, há receio em se posicionar contra Bolsonaro, já que o governador Claudio Castro (PL) tem flertado com o presidente.
Situação parecida ocorre em Minas Gerais, onde a relação do governador Romeu Zema (Novo) com Bolsonaro causa dúvidas nos deputados. Mesmo os que já deixaram o bolsonarismo preferem não se manifestar por enquanto. Dos dez parlamentares que apoiaram Bolsonaro há três anos, quatro não o acompanham mais.
Na quarta maior assembleia legislativa do país, na Bahia, onde o bolsonarismo é menos expressivo, continuam ao lado de Bolsonaro nomes ligados à religião e à segurança pública. Dos cinco políticos que fizeram campanha em 2018, dois mudaram de posição.
— É um grupo radical no discurso do antipetismo que se apoia nesta estratégia como forma de agregar força. Se envolvem também em pautas ideológicas, mas estão delineando um confronto direto ao PT e ao governo estadual — disse Cláudio André de Souza, cientista político e professor da Unilab.
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