Ministros de Bolsonaro disputam no Senado
Foto: Adriano Machado/Reuters
Dois dos principais ministros de Jair Bolsonaro (sem partido) travam uma espécie de guerra fria pelo apoio do presidente nas eleições de 2022.
Os ministros Fábio Faria (Comunicações) e Rogério Marinho (Desenvolvimento Regional), ambos do Rio Grande do Norte, têm planos de concorrer à única cadeira para o Senado que estará em disputa no estado no próximo ano.
Com o apoio de Bolsonaro, ambos tentam organizar o campo de oposição à governadora Fátima Bezerra (PT). Mas cada um corre na sua própria raia no xadrez político local.
Rogério Marinho (sem partido) deu um passo à frente ao fazer uma composição com o deputado federal Benes Leocádio (Republicanos).
A articulação prevê a candidatura de Leocádio ao Governo do RN em oposição a Fátima Bezerra. Prefeito da cidade de Lages (128 km de Natal) por cinco mandatos, ele foi o deputado federal mais votado do estado em 2018. Na Câmara, faz parte da base de apoio ao presidente.
A candidatura foi arquitetada junto a líderes oposicionistas do Rio Grande do Norte, incluindo o ministro Rogério Marinho, principal cotado para ser o candidato ao Senado da chapa liderada por Leocádio.
O movimento isolou Fábio Faria (PSD). Ele tem dito que já concluiu o seu ciclo na Câmara dos Deputados e que pretende ser candidato a senador.
A vaga ao Senado que estará em disputa em 2022 é a que foi conquistada em 2014 pela própria Fátima Bezerra. Na época, ela foi eleita numa aliança com Robinson Faria (PSD), pai de Fábio Faria, que acabou sendo eleito governador naquela eleição com o apoio do PT e da então presidente Dilma Rousseff.
Fátima e Robinson romperam em 2015. Três anos depois, em 2018, a senadora se lançou candidata ao governo contra Robinson e saiu vitoriosa nas urnas. Em seu lugar, assumiu a vaga no Senado o seu suplente Jean Paul Prates (PT).
Nesse campo governista do estado, Prates deve concorrer à reeleição, mas não está descartada a aliança com um candidato de outro partido, ampliando o leque de apoios à reeleição de Fátima. Há conversas para uma composição com o ex-senador Garibaldi Alves (MDB), que em agosto recebeu o ex-presidente Lula em um jantar em Natal.
A governadora é tida como favorita na disputa para o governo, o que torna a disputa para o Senado mais atrativa para os ministros bolsonaristas.
Atualmente sob a liderança de Jair Bolsonaro, Rogério Marinho e Fábio Faria têm estilos diferentes e trajetórias distintas na política potiguar.
Neto de um ex-deputado federal, Marinho deu seus primeiros passos na política no PSB, partido da então governadora Wilma de Faria. Foi vereador em Natal e conseguiu chegar à Câmara dos Deputados em 2006. Dois anos depois migrou do PSB para o PSDB.
Não foi reeleito em 2010, mas conseguiu voltar à Câmara dos Deputados em 2014. Naquela legislatura, ganhou protagonismo ao relatar a reforma trabalhista apoiada pelo governo Michel Temer (MDB).
Em 2018, mais uma vez não conseguiu se reeleger deputado federal. Mas sua habilidade política o cacifou para assumir, no governo Bolsonaro, a secretaria especial de Previdência e Trabalho. No posto, atuou ao lado do ministro Paulo Guedes (Economia) para aprovar a reforma da Previdência.
Assumiu o ministério do Desenvolvimento Regional em fevereiro de 2020, onde passou a atuar como contraponto dentro do governo ao seu antigo chefe Paulo Guedes, defendendo a flexibilização do teto de gastos. Chegou a ser chamado pelo ministro da Economia de “despreparado, desleal e fura-teto”.
No ministério, abriu as torneiras para a contratação de obras e compra de equipamentos no Rio Grande do Norte. Desta forma, construiu uma rede de apoios entre deputados, prefeitos e líderes políticos do estado.
Seu principal trunfo foi a assinatura, em junho deste ano, da ordem de serviço do Ramal do Apodi, canal que vai levar as águas do eixo norte da transposição do rio São Francisco para o Rio Grande do Norte.
O ministro Fábio Faria, por sua vez, tem como principal ativo eleitoral a sua relação próxima com Bolsonaro e com os filhos do presidente. Também conta a favor o fato de ser genro do empresário e apresentador Silvio Santos, dono da rede de televisão SBT.
Desde que tomou posse no Ministério das Comunicações, em junho de 2020, Faria renegou o passado de apoio aos governos petistas e passou a assumir uma defesa intransigente de Bolsonaro, aproximando-se das alas mais ideológicas do governo.
Rapidamente, caiu nas graças dos setores mais radicais do bolsonarismo por abraçar as principais agendas do presidente, incluindo as pautas de costumes, a flexibilização do acesso a armas, a defesa do voto impresso, além de críticas a políticas restritivas durante a pandemia da Covid-19.
Para viabilizar sua candidatura, Faria passou a ser mais ativo nas redes sociais. Também conta com a visibilidade que terá com o leilão das frequências de 5G, previsto para o segundo semestre deste ano.
Por outro lado, terá que lidar com o legado do pai, Robinson Faria (PSD), que deixou o governo potiguar com baixa popularidade e responde a processos na Justiça. Robinson disputará uma vaga de deputado federal no próximo ano.
Fábio Faria ambém fez movimentações no campo da política: anunciou que irá trocar o PSD pelo PP, alegando que precisava ir para um partido de maior alinhamento com o presidente. A mudança deve ser efetivada na janela eleitoral de abril de 2022.
O mesmo partido também está da mira de Rogério Marinho, que segue sem filiação partidária desde que deixou o PSDB em junho de 2020.
Líderes da oposição do Rio Grande do Norte, contudo, acham improvável um bate-chapa entre Rogério Marinho e Fábio Faria nas urnas. O entendimento é que a fragmentação da oposição beneficiaria o grupo de Fátima Bezerra.
“São dois bons nomes que hoje rivalizam por essa única vaga no Senado. Mas acredito que até o próximo ano eles cheguem a um entendimento”, afirma o deputado federal Beto Rosado (PP).
Em entrevistas à imprensa potiguar, Fábio Faria tem dado declarações na mesma linha: diz que não haverá racha no grupo oposicionista e que caberá ao presidente Bolsonaro, junto com ele e Marinho, definir qual será o seu palanque no Rio Grande do Norte.
O próprio Bolsonaro confirmou o imbróglio e disse, em entrevista à rádio 96 FM do Rio Grande do Norte, que confia em uma aliança entre os dois ministros.
“Ele [Fábio Faria] quer alguma coisa e o Rogério [Marinho] parece que quer a mesma coisa. Quem sabe, no final das contas, tire um par ou ímpar entre os dois. Mas sei que eles vão chegar a um bom entendimento”, afirmou o presidente.
Procurado, Rogério Marinho informou que não falará sobre eleições enquanto estiver à frente do Ministério do Desenvolvimento Regional. O ministro Fábio Faria não atendeu aos pedidos de entrevista.
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