Prefeitos de grandes cidades adiam escolha de lado na disputa Lula x Bolsonaro
Foto: Agência O Globo
Enquanto a maioria dos governadores segue a polarização entre o presidente Jair Bolsonaro e o ex-presidente Lula em 2022, os prefeitos de grandes cidades vêm evitando os dois candidatos mais bem posicionados nas pesquisas. Há quem já tenha se manifestado a favor de um outro nome, mas grande parte ainda prefere aguardar a definição do cenário.
Levantamento do GLOBO mostra que nos 50 municípios mais populosos, onde vivem um em cada três eleitores do país, apenas nove prefeitos se alinham hoje a Lula ou a Bolsonaro.
A indefinição ocorre em meio ao desgaste do governo, por fatores como inflação e desemprego, e também por resistências a uma aliança com o PT, devido a circunstâncias locais, abrindo um flanco para nomes da terceira via — que ainda não conseguiram, contudo, costurar acordos locais para impulsionar suas candidaturas.
Nas capitais, há apoios definidos em locais como São Paulo, onde o prefeito Ricardo Nunes (MDB) é aliado de João Doria (PSDB); em Fortaleza, cujo prefeito, Sarto Nogueira, abrirá palanque a Ciro Gomes (PDT); e em Manaus, onde David Almeida (Avante) aproximou-se da base de Bolsonaro. Por outro lado, em Rio, Belo Horizonte e Salvador, três dos maiores colégios eleitorais do país, os mandatários evitam definir alianças por ora.
Na capital fluminense, o prefeito Eduardo Paes disse em abril que faria campanha para o governador gaúcho Eduardo Leite, rival de Doria nas prévias do PSDB. Depois disso, Paes se filiou ao PSD, que tem defendido o nome do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), para concorrer ao Planalto. O prefeito carioca também mantém interlocução com aliados de Lula.
Em BH, a indefinição do prefeito Alexandre Kalil (PSD) sobre o palanque presidencial passa também pela decisão se será candidato ao governo contra Romeu Zema (Novo). A depender do desenho eleitoral, Kalil pode fazer campanha para Pacheco, Lula ou Ciro, sem descartar um palanque múltiplo.
Em Salvador, o prefeito Bruno Reis (DEM) é aliado de ACM Neto, pré-candidato ao governo da Bahia. Após a fusão do DEM com o PSL, gerando o novo União Brasil, Neto planeja uma polarização local com uma candidatura do PT e, em paralelo a acenos a diferentes presidenciáveis de terceira via, como Pacheco, Luiz Henrique Mandetta (DEM), Ciro e Eduardo Leite, busca também atrair votos bolsonaristas.
Em que pese a maior popularidade de Lula no Nordeste, prefeitos de capitais e grandes cidades da região se colocam como oposição a governadores alinhados ao PT, mas tampouco embarcam no palanque de Bolsonaro, desaprovado pela maioria dos nordestinos.
O prefeito de Feira de Santana (BA), Colbert Martins (MDB), por exemplo, já declara apoio a Neto ao governo, mas diz que aguarda o aparecimento “de uma alternativa” para a disputa presidencial. Na avaliação de Martins, que já exerceu quatro mandatos de deputado federal e foi secretário de Turismo no governo Dilma Rousseff, os prefeitos estão com a perspectiva “de um futuro apertado” por conta do fim do auxílio emergencial combinado à demora na aprovação do Orçamento da União neste ano, o que, segundo ele, reduziu a margem para projetos de estímulo à economia local.
— O ciclo do PT na Bahia chegou a um ponto de encerramento. Minha decisão de apoiar ACM Neto já está tomada. No cenário federal, vejo muita gente assuntando, mas, como prefeito, estou com preocupações fáticas e não vejo ninguém apontando um caminho até agora — afirma Martins.
No grupo de 50 maiores colégios eleitorais do Brasil, que totalizam 45 milhões de eleitores — dos quais metade estão no Sudeste—, o Nordeste é a região com o segundo maior peso: reúne 9 milhões de votos em 11 cidades. A indefinição dos prefeitos tem sido obstáculo para alianças na região. No Piauí, por exemplo, onde lideranças do MDB apoiam o governador Wellington Dias (PT), o prefeito emedebista de Teresina, Dr. Pessoa, chegou a ensaiar uma filiação ao PP de Ciro Nogueira, ministro da Casa Civil e pré-candidato ao governo. Pessoa também reuniu-se recentemente com Lula, mantendo a indefinição sobre a construção de palanques.
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