Prevent Senior privilegiou pacientes mais ricos
Foto: Aloisio Mauricio/Fotoarena/Agência O Globo
A CPI da Câmara Municipal de São Paulo vai investigar se a Prevent Senior dava mais atenção aos pacientes particulares do que àqueles que possuíam convênio médico. A linha de investigação se abriu ontem, após depoimentos que apontaram como recorrente a prática de encaminhar beneficiários do convênio para os cuidados paliativos antes de esgotar os tratamentos médicos.
Familiares de pacientes que não passaram pelos cuidados paliativos também relataram à CPI ter enfrentado problemas com a operadora. Em um depoimento emocionado, a pedagoga Andrea Rotta afirmou que seu marido, o empresário e educador físico Fabio Seinas, de 51 anos, ficou sem receber remédios de uso contínuo que já tomava antes da internação e foi tratado com o kit Covid, contraindicado para cardiopatas, como ele, e ineficaz contra a doença.
Antes de ser intubado, Fabio enviou uma mensagem a Andrea em que dizia: “Me tira daqui, eu vou morrer, eles não sabem o que eles fazem”. A pedagoga afirmou, ainda, que, em uma das visitas ao marido, o encontrou deitado em lençóis sujos de sangue, com o rosto inchado e com machucados pelo rosto e pescoço.
— Ele estava jogado à própria sorte, largado num quarto, pálido, com a saturação baixa, eu mal podia escutar sua voz — disse Andrea .
Além da pedagoga, foram ouvidos ontem outros três familiares de pacientes que morreram no hospital e um cliente da Prevent, que sobreviveu após ser transferido para outro lugar. Uma queixa comum entre os depoentes foi a resistência em internar os pacientes, mesmo que apresentassem sinais de estado grave. Tercio Felippe Mucedolia Bamonte, outro dos ouvidos ontem, disse que a rede se recusou a receber seu pai em três oportunidades.
— Qual a sensação que eu tenho? Que a Prevent tirou de nós a possibilidade de tratamento, a possibilidade de cura quando, ciente de que ele tinha Covid-19, o mandou para casa — disse.
Tomás Monje, que perdeu a avó de 94 anos, disse que ela recebeu a prescrição de kit Covid no hospital, foi internada e, após alguns dias, teve alta. Sem melhorar, foi novamente internada três dias depois. Dessa vez, foi encaminhada para o tratamento paliativo. No atestado de óbito, não há menção ao coronavírus, apenas “síndrome respiratória aguda”.
A insistência para cuidados paliativos apareceu também no depoimento do jornalista Gilberto Nascimento, que perdeu a mãe. De acordo com ele, houve falsificação no prontuário médico de sua mãe, visto que a família não autorizou a adoção de cuidados paliativos, mas uma médica prescreveu o tratamento atestando a anuência dos parentes.
Em nota, a Prevent Senior negou as acusações feitas pelos depoentes na CPI e reafirmou que “jamais tratou seus pacientes adotando procedimentos com o objetivo de reduzir custos ou liberar leitos. Trata-se de uma narrativa mentirosa, equivocada, com o objetivo de atingir a imagem da empresa. A Prevent continuará prestando atendimento de qualidade aos mais de 550 mil beneficiários e buscará na Justiça a retratação de todos os que buscam desacreditá-la”, diz a nota da empresa.
Para apurar as acusações, a CPI aprovou ontem um requerimento de autoria do vereador Paulo Frange (PTB), que também é o relator do colegiado, solicitando informações sobre pacientes do convênio e particulares. A comissão quer saber quantos estiveram ou estão na UTI, por quanto tempo ficaram internados e se tiveram alta ou óbito.
A Prevent Senior disse que o número de pacientes particulares é “diminuto” nos hospitais da operadora. “É falaciosa a tese de que preterimos beneficiários da operadora”, diz o texto.
Dois depoentes afirmaram não ter recebido o prontuário médico de seus familiares após solicitar à Prevent. A empresa se comprometeu a entregá-los em um documento assinado na semana passada com o Ministério Público. A Prevent Senior negou descumprimento do acordo, alegando que o texto do termo de ajustamento de conduta (TAC) não estipula prazo para a entrega dos prontuários às famílias.
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