Relatório paralelo de senador bolsonarista defende “cloroquinas”
Foto: Pedro França / Pedro França/Agência Senado
Líder da tropa de choque do governo na CPI da Covid, o senador Marcos Rogério (DEM-RO) vai apresentar um relatório paralelo ao do senador Renan Calheiros (MDB-AL) nesta quarta-feira, 20. No documento, o aliado do Palácio do Planalto rebaterá as acusações de que o presidente Jair Bolsonaro demorou em adquirir as vacinas porque estava pautado pela imunidade de rebanho e defenderá o tratamento precoce com medicamentos comprovadamente ineficazes. Em um resumo do parecer ao qual o GLOBO teve acesso, Rogério ainda pedirá que o Ministério Público investigue governadores por atos durante a crise sanitária.
Ao longo de seis meses de trabalhos na CPI, Marcos Rogério, sob orientação do Planalto, foi o principal defensor do governo na comissão. No documento, ele justifica o seu voto em separado alegando “parcialidade na condução das investigações e dos desacertos cometidos pela CPI” e pede que o relatório seja colocado em votação para, se aprovado, integrar o Parecer da Comissão.
Em seu “parecer alternativo”, o senador evita o termo “tratamento precoce” e chama de “tratamento alternativo” a prescrição de medicamentos comprovadamente ineficazes para a covid-19. No texto, ele contraria o que indicam estudos científicos e defende que a administração de drogas, como a hidroxicloroquina e a azitromicina, deve ser avaliada “caso a caso, à luz da autonomia médica”.
O aliado do Planalto também sai em defesa do presidente Bolsonaro, dizendo que o caso Prevent Senior não deve ser associado ao governo. Na minuta do relatório, senador Renan Calheiros acusa a operadora de ter feito uma “associação sinistra” com a cúpula do governo federal. O relator destacou o apoio do presidente a pesquisas feitas irregularmente pela empresa com os medicamentos sem comprovação científica. A Prevent Senior nega as irregularidades.
“Em relação a Prevent Senior, em que médicos alegaram ter sido obrigados a receitarem determinados medicamentos, o fato não possui qualquer conexão com o Governo Federal, não houve repasse de recursos federais a essa rede nem qualquer subvenção ou relacionamento do Governo Federal, tratando-se, assim, de relação privada entre a empresa e os beneficiários”, diz trecho do parecer de Marcos Rogério.
O relatório do senador aliado do Planalto cita número de doses de vacinas para rebater o parecer de Renan de que Bolsonaro fez escolha deliberada e consciente do Presidente da República em não adquirir vacinas, “pautada na crença infundada na tese de imunidade de rebanho por contaminação natural e na existência de um tratamento precoce”.
O parlamentar ainda vai contestar a existência de um gabinete paralelo, sob o argumento que “a prática de aconselhamento com pessoas e especialistas não vinculados à Administração Pública não é crime e pode ser verificada em outros governos.”
Marcos Rogério, em seu parecer, acusa a CPI de parcialidade por não ter se aprofundado em casos de desvios de recursos federais no combate à pandemia em 22 estados e no Distrito Federal, que foram alvo de investigação da Polícia Federal e a Controladoria-Geral da União. O senador destaca o Consórcio Nordeste, formado pelos noves estados da região, pela compra superfatura de 300 ventiladores hospitalares com pagamento adiantado de R$ 48 milhões. Os equipamentos não foram recebidos. O Consórcio acionou a Justiça para reaver os valores repassados em abril de 2020 para a empresa.
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