Senador petista diz que CPI atingiu objetivos
Foto: Rafaela Felicciano/Metrópoles
Um dos parlamentares mais assíduos na CPI da Covid-19, apesar de ser suplente no colegiado, o senador petista Rogério Carvalho (SE) avalia que a comissão, que está acabando, cumpriu papel importante de forçar o governo federal a mudar de postura diante da pandemia.
Em entrevista exclusiva ao Metrópoles, o parlamentar fez um balanço do trabalho da CPI. Segundo o petista, o colegiado expôs erros do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e de sua equipe que terão consequências criminais e eleitorais.
“A pandemia colocou Bolsonaro num lugar muito claro para a maioria da sociedade brasileira: uma pessoa que não tem empatia, que não tem a vida como um valor fundamental. Ele mostrou uma face cruel de um governo que tem corrupção e não tem capacidade de gestão, seja na saúde pública, seja na economia, seja na educação. A CPI deixou isso ainda mais óbvio”, afirmou o senador. Veja abaixo os principais pontos da entrevista:
Balanço da CPI
Acertamos no que estávamos investigando. A comissão começou seu trabalho com uma hipótese, de que o governo agiu para ampliar o contágio pelo coronavírus. E conseguimos provar essa hipótese: o governo agiu para ampliar o contágio e colocou seu staff para promover a ampliação do contágio. A população percebeu isso, até pela ajuda da imprensa, assim como parte do Congresso e setores formadores de opinião.
A população percebeu, mas não tinha uma voz. A CPI definiu uma hipótese muito clara e, ao começar a trazer elementos que provavam essa hipótese, foi dando vazão ao que as pessoas sentiam. Porque uma coisa é dizer que o presidente estava agindo para a pandemia se expandir, mas fomos além e mostramos a racionalidade que estava por trás: a existência de um gabinete paralelo, empresários preocupados em não parar suas atividades, um grupo de médicos trabalhando para essa tese e laboratórios financiando esses médicos para a defesa de medicamentos sem eficácia.
A CPI mostrou que várias das vacinas que o mundo estava aplicando e que estavam resultando na redução do número de casos foram testadas aqui. Mostrou que esses laboratórios tentaram vender ao Brasil, como a Pfizer, que enviou correspondências ao governo brasileiro, e o governo não se manifestou.
A CPI também descortinou a corrupção de uma parte da equipe de Bolsonaro, de militares e civis que compõem o governo, além de alguns políticos, que se aproveitaram da emergência sanitária para praticar ou tentar praticar corrupção. A CPI impediu a transferência de US$ 45 milhões para uma offshore em paraíso fiscal [caso Covaxin], dessas que o Paulo Guedes gosta. Isso deu credibilidade à comissão.
A CPI já trouxe consequências, como impedir que o dinheiro da Covaxin fosse pelo ralo, ou incentivar o Ministério Público de São Paulo a investigar o absurdo que ocorreu na Prevent Senior.
Também aumentou a preocupação do governo com a vacinação e, quando eles tentaram recuar, como no caso da vacinação de adolescentes, ajudou a população a pressionar o ministro Marcelo Queiroga a voltar atrás. A CPI foi produzindo seus efeitos ao longo de seu funcionamento e, desse ponto de vista, ela já não terminou em pizza, como muitos previram.
Mesmo se ninguém fizer nada com o relatório, o que eu não acredito, ela já não deu em pizza.
Expectativa pelo relatório do senador Renan Calheiros
Acredito que terá elementos comprobatórios muito consistentes e que muita gente vai ter que responder pelos seus seus erros na condução da pandemia. Começando pelo Bolsonaro, que, por crimes de outra natureza que não crime de responsabilidade, só poderá ser processado quando deixar o cargo, mas que pode começar a responder agora, a depender da vontade principalmente do presidente da Câmara, Arthur Lira, que tem nas mãos a possibilidade de abrir um processo de investigação contra o presidente.
Outros com foro privilegiado terão seus indiciamentos enviados à Procuradoria-Geral da República e tantos outros, que não têm essa prerrogativa, terão de se acertar com a primeira instância. Diante da qualidade e quantidade das provas, eu não acredito em impunidade. E, além da PGR, outros órgãos de controle, como o TCU e a CGU, vão receber o material. A OAB terá acesso também, então acho que não será possível esconder nada embaixo do tapete quando acabar essa CPI.
Consequências eleitorais da pandemia e da CPI para Bolsonaro
A pandemia colocou Bolsonaro num lugar muito claro para a maioria da sociedade brasileira: uma pessoa que não tem empatia, que não tem a vida como um valor fundamental. Ele mostrou uma face cruel de um governo que tem corrupção e não tem capacidade de gestão, seja na saúde pública, seja na economia, seja na educação. A CPI deixou isso ainda mais óbvio.
A pandemia tornou claro para a população quem é o Bolsonaro. O mito foi desmitificado. Portanto, terá impacto sim no crescimento dele como candidato a presidente da República, mas isso não quer dizer que ele não tenha força política, com um grupo que o apoia irrestritamente e que ele demarcou, mas também se estabeleceu um campo de rejeição que está demarcado e dificilmente ele vai superar isso. Até porque ele não muda. Como diz na minha terra, pau que nasce torto morre torto. É difícil uma pessoa como ele mudar.
Ele é bravo no fim de semana e é manso na segunda. E assim vem sendo durante todo o governo, bravo ali no cercadinho e depois se desdiz. Eu não acredito que ele mude o suficiente para que haja uma outra percepção da sociedade a respeito dele. Ele está preso na narrativa e chegou num ponto em que não dá mais para voltar; ele criou a sua própria bolha, seu próprio campo existencial. Foi a escolha que ele fez e que dará os frutos que ele vai colher.
Assinatura
CARTA AO LEITOR
O Blog da Cidadania é um dos mais antigos blogs políticos do país. Fundado em março de 2005, este espaço acolheu grandes lutas contra os grupos de mídia e chegou a ser alvo dos golpistas de 2016, ou do braço armado deles, o juiz Sergio Moro e a Operação Lava jato.
No alvorecer de 2017, o blogueiro Eduardo Guimarães foi alvo de operação da Polícia Federal não por ter cometido qualquer tipo de crime, mas por ter feito jornalismo publicando neste Blog matéria sobre a 24a fase da Operação Lava Jato, que focava no ex-presidente Lula.
O Blog da Cidadania representou contra grandes grupos de mídia na Justiça e no Ministério Público por práticas abusivas contra o consumidor, representou contra autoridades do judiciário e do Legislativo, como o ministro Gilmar Mendes, o juiz Sergio Moro e o ex-deputado Eduardo Cunha.
O trabalho do Blog da Cidadania sempre foi feito às expensas do editor da página, Eduardo Guimarães. Porém, com a perseguição que o blogueiro sofreu não tem mais como custear o Blog, o qual, agora, dependerá de você para continuar existindo. Apoie financeiramente o Blog
FORMAS DE DOAÇÃO
1 – Para fazer um depósito via PIX, a chave é edu.guim@uol.com.br
2 – Abaixo, duas opções de contribuição via cartão de crédito. Na primeira, você contribui mensalmente com o valor que quiser; na segunda opção, você pode contribuir uma só vez também com o valor que quiser. Clique na frase escrita em vermelho (abaixo) Doação Mensal ou na frase em vermelho (abaixo) Doação Única
DOAÇÃO MENSAL – CLIQUE NO LINK ABAIXO
https://www.mercadopago.com.br/subscriptions/checkout?preapproval_plan_id=282c035437934f48bb0e0e40940950bf
DOAÇÃO ÚNICA – CLIQUE NO LINK ABAIXO
https://www.mercadopago.com.br/subscriptions/checkout?preapproval_plan_id=282c035437934f48bb0e0e40940950bf