Bolsonaro conta com PP e PL para melhorar no Nordeste
Foto: Isac Nóbrega/PR
A filiação ao Partido Liberal (PL), programada para amanhã, e a aliança com o Progressistas (PP) devem proporcionar palanques de mais fôlego ao presidente Jair Bolsonaro no Nordeste, onde ele precisará reduzir a vantagem do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para tentar se reeleger.
Bolsonaro e aliados apostam na capilaridade das duas legendas na região. O PP foi o segundo partido que mais elegeu prefeitos em 2020 (682 contra 776 pelo MDB).
O PP também foi uma das siglas que mais cresceram no Nordeste, ao lado do PSD. No Piauí, base do ministro-chefe da Casa Civil e presidente licenciado da sigla, Ciro Nogueira, elegeu o maior número de prefeitos. Na Bahia, onde tem o vice-governador, João Leão, o PP só ficou atrás do PSD em prefeitos eleitos. Já o PL é a segunda maior força no Maranhão, atrás do PDT.
O líder do PL na Câmara, Wellington Roberto (PB), diz que “todos os partidos da base estarão empenhados” em cobrar atuação de correligionários na região. “Vamos apresentar candidatos em todos os Estados do Nordeste, vamos pra cima, dar um novo desenho a essas pesquisas divulgadas antecipadamente.”
Ele ressaltou que, a partir da filiação de Bolsonaro, há expectativa de que dezenas de prefeitos ingressem na sigla. Na janela partidária, em março, deputados federais ligados ao bolsonarismo também são aguardados na legenda.
Em pesquisas, a vantagem de Lula sobre Bolsonaro no Nordeste oscila em torno de 15 pontos e ultrapassa os 20 pontos nos cenários de segundo turno. Outros nomes não alcançam dois dígitos.
O Valor apurou que a percepção de ministros palacianos é de que a elevação do Auxílio Brasil, que substituiu o Bolsa Família, para R$ 400 será insuficiente para diminuir a diferença de Bolsonaro para Lula. A avaliação é que seria necessário, simultaneamente, resolver o problema dos preços do gás de cozinha e da gasolina.
Um dos palanques mais competitivos na região para Bolsonaro, ainda em construção, é o do deputado Capitão Wagner (Pros), que concorrerá ao governo do Ceará contra o grupo do presidenciável do PDT, Ciro Gomes, e do governador Camilo Santana (PT). Um dos líderes da greve da Polícia Militar em 2020, é um bolsonarista que assustou PT e PDT na eleição municipal de 2020. Com 48% dos votos válidos no segundo turno, encostou em José Sarto (PDT), que por uma pequena vantagem elegeu-se prefeito de Fortaleza.
Wellington Roberto disse que o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, está atuando para levar Wagner de volta para a sigla, onde estava antes do Pros. “No caminho de volta ninguém se perde”, disse.
Na Bahia, o ex-prefeito de Salvador e secretário-geral do futuro União Brasil (fusão de DEM e PSL), ACM Neto, se mostrou competitivo na largada contra o senador e ex-governador Jaques Wagner (PT). Mas quando o nome de Wagner é associado ao de Lula nas pesquisas, Neto fica para trás. Em terceiro lugar nas sondagens, quem dará palanque a Bolsonaro é ministro da Cidadania, João Roma (Republicanos). Ele tem dois problemas: o PP tem aliança de 15 anos com o PT local; o PL marcha com ACM Neto desde 2020.
Depois da Bahia, o maior eleitorado está em Pernambuco, onde o PL tem uma das principais lideranças de oposição à hegemonia PSB-PT: o prefeito de Jaboatão dos Guararapes, Anderson Ferreira. Ele é pré-candidato ao Senado numa composição com a prefeita de Caruaru, Raquel Lyra (PSDB), que deve concorrer ao governo. Mas Ferreira, que preside o PL estadual, teme uma intervenção do bolsonarismo na sigla, com a possibilidade de ingresso do ministro do Turismo, Gilson Machado, que tem planos eleitorais para 2022.
Sem o bolsonarismo, a situação de Ferreira já é complicada, porque Pernambuco é, ao lado da Bahia, o Estado que mais consagra votos a Lula e ao PT. Com a popularidade de Bolsonaro em baixa, Ferreira tem feito movimentos para se descolar da imagem do presidente. No segundo turno das eleições municipais, ele apoiou a deputada federal Marília Arraes (PT), que perdeu a eleição para a Prefeitura do Recife.
O dirigente do PL não é o único que quer distância de Bolsonaro em Pernambuco. O prefeito de Petrolina (DEM), Miguel Coelho, filho do líder do governo no Senado, Fernando Bezerra Coelho, será candidato a governador. Dificilmente, pelas movimentações recentes, dará palanque.
Sobre os palanques de Bolsonaro no Nordeste, o senador Humberto Costa (PT) vê uma resistência dos próprios aliados do presidente. “Todo mundo aqui [em Pernambuco] está correndo de Bolsonaro. Miguel (Coelho), por exemplo, tem se afastado e não tem reivindicado”, disse.
Na Paraíba, o presidente vive cenário semelhante e tem encontrado dificuldades para montar palanque. O ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, deve se filiar ao PL. Mesmo pontuando mal em pesquisas no Estado, o nome dele é ventilado para concorrer ao governo. Em evento com Bolsonaro no interior da Paraíba, neste mês, Queiroga ouviu gritos de “governador” e fez um discurso político, com críticas a governadores e prefeitos. A Executiva estadual do PL fez movimentos nesta semana para filiar o ministro ao partido.
O pré-candidato ao Senado Bruno Roberto (PL), filho do líder do PL na Câmara, Wellington Roberto, e presidente estadual da legenda, disse ainda acreditar que será possível montar um palanque robusto de apoio ao presidente. “Já manifestamos a intenção de acolher o ministro Queiroga. Se ele compreender que é interessante para construir uma pré-candidatura, vamos conceder toda a estrutura e acervo necessário para que cumpra essa missão.”
Na Paraíba, há um racha no PT. Parte quer apoiar a reeleição do governador João Azevêdo (Cidadania) e outra tenta viabilizar chapa ao Senado com a participação do ex-governador Ricardo Coutinho (PT), inelegível pela Lei da Ficha Limpa. Azevêdo recebeu aval do presidente do Cidadania, Roberto Freire, para apoiar Lula. O ex-prefeito de Campina Grande Romero Leal (PSD), apoiador de Bolsonaro em 2018, se distanciou do presidente. Ele pode ocupar a vice de Azevêdo.
Em Alagoas, o ingresso de Bolsonaro no PL deve implodir o diretório estadual e dificultar a montagem de um palanque bolsonarista. No Estado, quem comanda a legenda é o ex-deputado Maurício Quintela. Ex-ministro dos Transportes no governo Temer, Quintela é secretário na gestão do governador Renan Filho (MDB), aliado de Lula. Ele já classificou Bolsonaro como “genocida” e deve deixar o comando da sigla.
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