Bolsonaro ignora terceira via e concentra ataques em Lula

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Foto: Reprodução

Interessado em polarizar com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva nas eleições de 2022, o presidente Jair Bolsonaro e seu entorno têm poupado integrantes da chamada terceira via de ataques nas redes sociais. Nomes como o do governador de São Paulo, João Doria (PSDB), de Ciro Gomes (PDT), dos ex-ministros Sergio Moro e Henrique Mandetta (DEM-GO) e o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD), recebem críticas pontuais de bolsonaristas, mas ficam distante do comportamento mais pesado articulado contra o petista.

Levantamento do GLOBO com base no perfil pessoal do Twitter de Jair Bolsonaro, de seus filhos políticos — senador Flávio (Patriota-RJ), vereador Carlos (Republicanos-RJ) e deputado federal Eduardo (PSL-SP) —, além do assessor especial da Presidência Tércio Tomaz, apontado como integrante do chamado “gabinete do ódio”, desde janeiro deste ano, mostra que Lula é o principal alvo de ataques. Das 151 menções nas cinco redes pessoais pesquisadas, 83 (54%) são de críticas ao petista. Doria aparece na sequência, com 30 citações, ou seja, 19%.

O presidente evita usar seu perfil pessoal para atacar os adversários. A missão fica a cargo dos filhos e do assessor. Em agosto, Eduardo fez postagens em que relaciona a flexibilização da venda de armas com a redução do número de homicídios. Em seguida, escreveu: “Lula promete desarmar a população”. Em outro post sobre o encontro de Lula com militares, o deputado chama o ex-presidente de ex-presidiário e afirma: “Já está em campanha eleitoral antecipada?”

No período analisado, Bolsonaro fez menções diretas nas publicações a apenas dois de seus rivais: Mandetta e Ciro, embora Lula seja citado frequentemente nos discursos.

Alvo de bolsonaristas no passado, os ex-ministros Sergio Moro e Mandetta foram pouco citados ao longo deste ano pelo entorno de Bolsonaro. O canal do próprio presidente no Twitter tem estado mais comedido. A artilharia mais pesada fica a cargo dos assessores de segundo escalão, como Tércio Tomaz, e de seus filhos. Tércio é responsável por 51 menções, seguido de Eduardo, com 46 e Carlos, 42. Flávio só fez cinco menções a candidatos da terceira via, sendo a maioria contra Doria.

O entorno de Bolsonaro rivalizou muito com João Doria no passado por causa da compra de vacinas contra a Covid, mas o tema perdeu relevância este ano, já que a situação vacinal avançou no país. O governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), que participa das prévias tucanas com Doria, também foi mencionado pelos filhos de Bolsonaro, mas os ataques ficaram restritos a poucos comentários. Há uma avaliação de que não é necessário gastar energia com tucanos neste momento já que a ala bolsonarista não teme a ascensão deles.

Para o cientista político Claudio Couto, coordenador do Mestrado em Gestão e Políticas Públicas da FGV-SP, os bolsonaristas querem polarizar com Lula, a exemplo de 2018, por considerarem o nome mais fácil de ser batido no segundo turno das eleições:

— É de se esperar que mantenham esses ataques por uma questão de identidade: atacar Lula e o PT reforça a imagem e a identidade bolsonaristas.

Em post no Twitter em 1º de outubro, Carlos Bolsonaro fez referência a uma publicação de Gleise Hoffman, em que a presidente do PT diz que o partido está à frente da CPI da Covid: “Não é cpi do lula não, é tudo fakenews!”, provocou Carlos. Em outra postagem, Eduardo Bolsonaro cita Lula ao ironizar acusações contra o pai: “É como dizer que Lula é a alma mais honesta deste país”.

A avaliação, porém, é que esse comportamento acanhado em relação à terceira via pode mudar em 2022 com o posicionamento mais claro dos candidatos. Há 13 nomes como possíveis postulantes ao Planalto: Lula, Bolsonaro, Ciro Gomes, Mandetta, Sergio Moro (Podemos), Eduardo Leite, Doria, Arthur Virgílio (PSDB), Alessandro Vieira (Cidadania), Simone Tebet (MDB), José Luiz Datena (DEM), Rodrigo Pacheco e Luiz Felipe D’Avila (Novo).

Para Couto, Bolsonaro deve intensificar ataques à terceira via mais para frente, pois eles seriam a maior ameaça à ida dele para o segundo turno.

— Se algum deles crescer, tira eleitores de direita do presidente. Nesse sentido, nem Lula concorre com ele. Ciro, por mais que bata em Lula, nãoconseguirá se vender aos eleitores de direita como alguém que possa lhes representar. Nesse caso, creio que Moro, mais que Pacheco, se tornará alvo preferencial por ser mais conhecido e ter mais apelo aos lavajatistas.

O cientista político analisa que Pacheco possa a vir a ser alvo de ataques mais agressivos caso cresça em pesquisas nos próximos meses. Na última semana, o presidente do Senado se filiou ao PSD de Gilberto Kassab, mas pretende se recolher neste momento e não deve oficializar sua pré-candidatura para evitar entrar na mira. Pacheco também fechou suas redes sociais.

Enquanto isso, o PSD deve organizar os palanques estaduais e fortalecer Pacheco em sua berço político, Minas Gerais. Os entusiastas da candidatura apostam na recuperação da autoestima do eleitorado de Minas para que Pacheco dê a largada em uma eventual disputa eleitoral com uma boa aceitação em seu estado.
Interlocutores de Pacheco admitem que eventuais ataques de Bolsonaro poderiam aumentar sua notoriedade. Por outro lado, afirmam que o senador não tem a intenção de partir para o confronto. Pacheco quer evitar ser acusado de ter usado o cargo para atrapalhar o governo. A avaliação é que isso teria um alto custo numa eventual campanha.

— Jamais permitirei que na minha realidade como senador, como presidente de uma Casa como o Senado, que eu antecipe qualquer tipo de discussão de ordem político eleitoral. A eleição é em 2022, os partidos vão se preparar, terão seus candidatos, mas eu continuo hoje no PSD na mesma linha que sempre estive, pregando essa união, esse diálogo, e sobretudo não antecipando interesses ou discussões políticos eleitorais para o momento de agora — disse Pacheco no dia da sua filiação ao PSD.
Na última quarta-feira, segundo um interlocutor de Bolsonaro, em viagem ao Amazonas, o presidente reagiu a uma pesquisa que mostrava ligeira melhora no desempenho de Pacheco. Bolsonaro teria ironizado que o senador está com “1% de voto e ainda quer ser presidente”.

—Se Pacheco ficar no 1% de hoje, não faz sentido Bolsonaro se preocupar com ele. Mesmo porque, se começar a atacá-lo pode ajudá-lo a se tornar mais conhecido: “Fale mal, mas fale de mim” — diz Couto.

O Globo

 

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