Doria e Leite se acusam de apoiar Bolsonaro
Foto: Reprodução
Os governadores João Doria (São Paulo) e Eduardo Leite (Rio Grande do Sul) trocaram acusações sobre o apoio ao governo Jair Bolsonaro e à PEC dos Precatórios, durante debate realizado pelo jornal “O Estado de S. Paulo” nesta sexta-feira (12) com candidatos que disputam a prévia nacional do PSDB. Também candidato, o ex-prefeito Arthur Virgílio fez dobradinha com Doria e vinculou Leite ao bolsonarismo, com o apoio de deputados gaúchos à PEC.
O debate foi marcado desde o início por um clima acirrado entre Doria e Leite.
Ao ser questionado sobre o “Orçamento Secreto” no Congresso Nacional, o governador paulista criticou a prática como “execrável e condenável” e destacou, na sequência, que os sete deputados federais de São Paulo do PSDB votaram contra a PEC dos Precatórios na Câmara. Doria afirmou que o PSDB não pode ter uma posição “dúbia” sobre a proposta, que rompe o teto de gastos e altera a Lei de Responsabilidade Fiscal. “Pela mesma razão [a ex-presidente] Dilma [Rousseff] teve impeachment declarado pelo Congresso”, disse.
Leite usou a afirmação para provocar Doria e perguntou ao governador paulista se ele considera “execrável” os deputados tucanos que o apoiam e votaram a favor da PEC. Doria, então, vinculou a Leite a responsabilidade do apoio à PEC dos Precatórios de dois deputados gaúchos do PSDB e dos mineiros Aécio Neves, Rodrigo de Castro e Paulo Abi-Ackel. O paulista afirmou ainda que Rodrigo de Castro, que é líder da bancada e apoia Leite, “orientou que votassem a favor do governo”. “Eu respondo por São Paulo e você, pelo Rio Grande do Sul”. “Três do Rio Grande do Sul votaram com Bolsonaro”, disse o paulista.
Na realidade, dois deputados tucanos eleitos pelo Rio Grande do Sul votaram a favor da PEC: Daniel Trzeciak e Lucas Redecker, presidente do diretório do PSDB gaúcho e que está na coordenação da campanha de Leite.
O governador gaúcho disse que tem influência sobre a bancada estadual gaúcha do PSDB e desconversou sobre a federal. “A minha liderança está dentro do Rio Grande do Sul e sobre a Assembleia”, afirmou.
Doria disse que Leite “precisa melhorar seus argumentos” e disse que os deputados que o apoiam “votam há meses com Bolsonaro”. “Em São Paulo, [os tucanos] votam contra o governo e contra a irresponsabilidade fiscal”.
Em sintonia com Doria, Virgílio voltou ao tema e disse que Leite não convenceu. “Se você lidera a bancada estadual, você tem que liderar a federal também. Cabe autocrítica. Não deixem que preguem na sua face a pecha de bolsonarista.”
Leite procurou tirar de si o foco das críticas e disse que o PSDB precisa discutir a viabilidade eleitoral dos três candidatos para decidir na prévia marcada para o dia 21 qual é o melhor nome para disputar a Presidência em 2022. Na sequência, criticou seus adversários. Sobre Virgílio, disse que o ex-prefeito de Manaus não elegeu um sucessor na capital amazonense em 2020. Sobre Doria, lembrou que o paulista, que foi prefeito de São Pdaulo, perdeu na capital paulista na eleição estadual de 2018 (apesar de ter ganho no Estado), e disse que a rejeição do paulista nas pesquisas de intenção de voto é “mais do que o dobro” da sua.
Virgílio e Doria se defenderam e destacaram as vitórias obtidas nas urnas em eleições passadas.
Doria, novamente, rebateu os ataques. “Sua pontuação de derrota é diferente da minha. Gostamos do diálogo. Não quero ser palatável, quero ser confiável. Não quero ser conveniente. A conveniência gerou isso aí, Bolsonaro”, disse o governador paulista.
“Não discuto se é justa ou injusta sua rejeição, mas é um fato”, retrucou Leite. “Isso dificulta para o PSDB se comunicar com a população.”
A nove dias da prévia que vai escolher o candidato do PSDB à Presidência em 2022, Leite associou o Doria a um eventual constrangimento de prefeitos e vereadores de São Paulo em troca de apoio na disputa partidária. Segundo Leite, há um “boato” de que Doria teria vinculado o repasse de recursos a prefeituras paulistas ao voto na eleição interna.
“Aqui em São Paulo um boato de que você está constrangendo prefeitos com o condicionamento de assinatura de convênio, houve a demissão do secretário [municipal] de habitação em São Paulo, houve suspensão de filiação de vereadores no interior que declararam apoio. Está havendo constrangimento aqui para a votação em São Paulo?”, questionou Leite.
O paulista ironizou o gaúcho, desconversou e disse que preferia falar sobre programas para o Brasil. Em seguida, procurou associar sua candidatura a nomes históricos do partido. “Sei que você está nervoso, tenso. Depois te passo o telefone do prefeito. Liga para o prefeito. Eu sou o governador. Prefiro falar sobre programas para o Brasil”, afirmou, em referência à demissão do secretário Orlando Faria da Prefeitura de São Paulo, depois que ele declarou voto em Leite. O prefeito da capital, Ricardo Nunes (MDB), próximo de Doria, assumiu em maio depois da morte do tucano Bruno Covas.
Leite rebateu. “Se tem alguma tensão minha é a de ver o meu partido, que eu estou há 20 anos filiado, sendo eventualmente alvo de constrangimentos para votação na prévia. Isso me deixa tenso, nervoso e preocupado com o PSDB que eu represento e me forjou”, disse o gaúcho. “Nos filiamos há 20 anos coincidentemente, mas só soube que você era filiado ao PSDB quando você foi concorrer [a prefeito, em 2016] e eu estava na militância, ajudando nosso partido a se formar. Não aceito que haja qualquer tipo de constrangimento para votação nas prévias”, declarou o governador do Rio Grande do Sul, principal adversário de Doria na prévia.
O governador de São Paulo citou o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que já declarou voto a ele, e nomes históricos do PSDB, como Mario Covas, Franco Montoro, Bruno Covas e a ex-governadora do Rio Grande do Sul Yeda Crusius, que também apoia o paulista. “Esse é o PSDB, o PSDB transformador no Brasil”.
Leite, na sequência, também citou Mario Covas e disse que a semente que o partido deve representar é a da esperança. E afirmou, ainda, que o candidato presidencial deve representar o DNA do PSDB. “A decisão do PSDB nessas prévias é se a gente vai ter um PSDB que vai virar a cara de um dos candidatos ou se vai ser o candidato que vai ter a cara do PSDB, o jeito do PSDB. Eu não fundei o PSDB. Foi o PSDB que me fundou, os meus valores, a minha visão, a minha força”, disse Leite.
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