Livro de Moro ignora o PT e ataca Bolsonaro
Foto: Adriano Machado/Reuters
Com lançamento em dezembro, a autobiografia de Sergio Moro traz revelações sobre sua entrada no governo Bolsonaro e o período de um ano e quatro meses que permaneceu como ministro da Justiça. Batizado de “Contra o Sistema da Corrupção” (Ed. Sextante), o livro de Moro mostra que o ex-juiz da Lava-Jato tinha cogitado deixar o governo quatro meses antes de sua saída e detalha como o caso das rachadinhas, envolvendo o senador Flávio Bolsonaro, foi determinante na crise instaurada entre Moro e o presidente.
A coluna destaca abaixo os principais acontecimentos relatados por Moro na sua passagem pelo governo Bolsonaro:
O sim para Bolsonaro: Moro conta que aceitou o convite para ser ministro da Justiça poucos dias antes do segundo turno da eleição presidencial de 2018, num churrasco na casa de um amigo seu, em Curitiba. O convite foi formalizado por Paulo Guedes, que viria a ser o ministro da Economia e apenas quatro pessoas estavam no local.
“Durante aquele churrasco, que avançou madrugada adentro, sinalizei a Paulo Guedes que, se Jair Bolsonaro fosse eleito presidente, eu aceitaria o desafio. Combinamos, entretanto, que a formalização do convite só ocorreria após o segundo turno das eleições para que o fato não tivesse qualquer influência sobre o pleito. Mais um indicativo, aliás, de que jamais pretendi influir na eleição presidencial de 2018.”
Quando perdeu as ilusões com Bolsonaro: após o presidente ignorar os pedidos de Moro para vetar medidas do pacote anticrime, como o juiz de garantias, em dezembro de 2019.
“Com aquela recusa do presidente em realizar os vetos solicitados, minhas ilusões quanto ao real compromisso dele com o combate ao crime e à corrupção de desfizeram por completo”.
A primeira vez que cogitou deixar o governo: em janeiro de 2020, quando Bolsonaro ameaçou tirar do ministério da Moro a pasta da Segurança Pública, o ex-juiz disse que deixaria o governo de a ameaça fosse concretizada.
“Se a pasta fosse dividida, não continuaria no governo de jeito algum”.
“Se não vai ajudar não atrapalhe”: Bolsonaro orientou diretamente Moro a não trabalhar para reverter a decisão do Supremo Tribunal Federal que tinha suspendido processos abertos com base no compartilhamento de dados do Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) sem autorização judicial prévia. A decisão de Dias Toffoli paralisou a investigação contra o Flávio Bolsonaro por quatro meses.
“Na conversa com Bolsonaro a respeito do tema, fui, porém, orientado a me manter distante da questão. ‘Se não vai ajudar, então não atrapalhe’, ele me disse. Por uma questão pessoal, o presidente pedia a mim que ignorasse aquela séria ameaça ao sistema nacional de prevenção à lavagem de dinheiro”.
O arrependimento de Moro sobre a Polícia Federal: Moro conta que cedeu à pressão de Bolsonaro e chegou a pedir para que o então diretor-geral da PF, Maurício Valeixo, trocasse o comando da Superintendência do órgão no Rio de Janeiro.
“Conversei reservadamente com Maurício Valeixo para verificar se haveria alguma forma de atender ao novo pedido de Jair Bolsonaro. Eu não devia ter feito isso, mas resistir a cada nova investida do presidente me causava desgaste e fazia com que eu perdesse tempo que poderia estar mais bem direcionado. Valeixo voltou a discordar daquele pedido e reforçou que era melhor mesmo sair do comando da PF”.
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