Médicos da Prevent negam denúncias à CPI municipal de SP
Foto: AMANDA PEROBELLI / Reuters
Em depoimento à CPI da Câmara Municipal de São Paulo, nesta quinta-feira, médicos da Prevent Senior negaram que tenham feito experimentos com hidroxicloroquina em pacientes, insistiram na autonomia médica para a prescrição do kit covid e disseram que não houve pressão da empresa para o uso dos remédios comprovadamente ineficazes para o tratamento do coronavírus.
O argumento utilizado pelos profissionais contradiz prints de mensagens em que o cardiologista Rodrigo Barbosa Esper, um dos quatro médicos ouvidos pelos vereadores nesta quinta-feira, pede para os demais profissionais fortalecerem a indicação do tratamento precoce de casos suspeitos de Covid-19.
Questionados em relação a uma pesquisa sobre a eficácia da hidroxicloroquina para tratar pacientes com coronavírus, suspensa pela Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep) por suspeitas de fraude no ano passado, os médicos disseram que ela não chegou a ser feita. Segundo Esper, não houve “experimentação em pacientes”, mas sim um “relato observacional” dos doentes. Segundo o médico, ele avaliou os resultados do medicamento no tratamento dos pacientes sem qualquer interferência.
Os dados dessa observação, que envolve mais de 600 pacientes, segundo Esper, foram incluídos por “equívoco” na pesquisa suspensa pela Conep. Apesar da negativa, o estudo foi divulgado pela própria operadora a veículos da imprensa no primeiro semestre de 2020.
O presidente da CPI, vereador Antonio Donato (PT), disse que as falas dos médicos foram “vagas” e “absolutamente insuficientes”.
— Confessaram uma grande contradição: na medida em que negam que existiu o estudo, não conseguem sustentar por qual motivo até hoje distribuem o kit Covid — afirmou Donato.
Também foram citados por vereadores trechos de mensagens em que o próprio Esper cita a utilização da flutamida, que, segundo a bula, é indicada para tratamento de câncer de próstata. Assim como a hidroxicloroquina, não há comprovoação de eficácia. No print, a que os vereadores tiveram acesso, ele diz que o medicamento “deve” ser prescrito “para todos os pacientes (exceto os que possuem insuficiência hepática)”. À comissão, nesta quinta-feira, ele insistiu que era apenas uma sugestão.
Ao comentar a assinatura do Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) da Prevent com o Ministério Público de São Paulo, Esper disse que respeita a autonomia médica e admitiu que ainda hoje prescreveria o kit Covid.
Além dele, que assina o protocolo de manejo clínico da Covid-19 e responde pela parte de pesquisa do Instituto Prevent Senior, falaram à CPI os médicos Sérgio Antonio Dias da Silveira, Daniella Cabral de Freitas e Rafael de Souza da Silva.
Silveira era responsável pela unidade de nefrologia da Prevent Senior e depois passou a ocupar o cargo de diretor-executivo da operadora no Rio. Aos vereadores, ele declarou que sempre houve clareza de que o protocolo era uma sugestão de terapia, mas que ninguém era obrigado a utilizá-lo. Ele, que também participou da elaboração do protocolo junto com Esper, diz nunca ter prescrito o kit.
— Trata-se de um guia de sugestão terapêutica, e não um protocolo obrigatório para prescrição, e portanto a autonomia médica se manteve preservada — disse Silva, outro médico ouvido nesta quinta-feira, que em diversos momento citou as incertezas do começo da pandemia para justificar o uso do kit.
No entanto, quando questionado sobre por qual motivo os médicos continuaram prescrevendo o kit mesmo após estudos demonstrarem a ineficácia e países de todo o mundo abandonarem o tratamento, Silva citou que o Conselho Federal de Medicina dá aos médicos a prerrogativa da autonomia médica.
— O que se tentou e se tenta fazer sob prerrogativa é a busca pela ajuda da cura. Tentar ajudar, resolver ou salvar vidas. Não de forma impositiva — afirmou ele.
A médica intensivista Daniella, que esteve à frente da unidade Paraíso até julho de 2020, afirmou que nunca houve solicitação para alteração do CID (Classificação Internacional de Doenças) em declaração de óbito, como vem sendo denunciado por familiares de pacientes mortos.
Em nota, a operadora disse que, como ficou demonstrado nos depoimentos de hoje, a Prevent Senior tem total disposição em colaborar com investigações sérias que restabelecerão a verdade dos fatos. “A Prevent Senior nega veementemente o dossiê da advogada Bruna Morato e o relatório da CPI do Senado, que promoveram um linchamento público da empresa com base em narrativas mentirosas.”
Na semana que vem, a CPI recebe representantes da Vigilância Sanitária estadual e da Secretaria Estadual de Saúde. Ambos terão de explicar a falta de resposta ao pedido da Vigilância Sanitária municipal para intervenção em hospitais da rede Prevent Senior.
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