Moro tenta atrair eleitores de Ciro e Doria

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Foto: Sérgio Lima/Podemos/Divulgação

Sergio Moro entrou na pista da disputa presidencial com acenos a frações do eleitorado do PSDB e do PDT.

Moro obteve mais do que poderia imaginar no primeiro lance de campanha, ao assegurar a cooperação de Afonso Celso Pastore, ex-presidente do Banco Central (1983-1985). A certificação de Pastore funcionou como imã na atração da simpatia de parte da elite financeira paulista.

Deu-lhe a trilha para um projeto econômico. Certamente, será criticado como um plano conservador, porém, nas premissas já enunciadas, ecoa aspectos fundamentais do programa antinflacionário coordenado por Fernando Henrique Cardoso no governo Itamar Franco.

O conjunto de ideias harmonizadas na emergência da hiperinflação. em 1994, passou à história como Plano Real e abriu uma avenida eleitoral para o PSDB se manter no poder por oito anos.

Não será uma reedição, até pelas divergências conceituais sustentadas por Pastore. Mas é notável que Moro, depois de conversas com ele, tenha escolhido para abordagem pública temas como:

* Erradicação da pobreza;

* Limitação ao protagonismo do Estado na economia, com abertura de espaço ao setor privado na inovação tecnológica e na abertura de mercados;

* Avanço nas privatizações;

* Zelo pelo equilíbrio fiscal e sua conciliação com responsabilidade social.

Na essência, é quase o programa “Mãos à obra”, alegoria de mão com que o PSDB desfilou em eleições por 24 anos até o cataclisma Jair Bolsonaro. Com adaptações, como Moro deixou claro em entrevista a William Waack, ontem à noite, na CNN.

Nas privatizações, por exemplo, ele admite enfrentar tabus, como a venda da Petrobras. Ressalva: “Se isso gerar eficiência para nossa economia, a decisão tem que ser tomada. Não posso fazer essa afirmação sem que façamos um estudo. Política pública tem que ser baseada em evidências, em fatos e em ciência (…) Estamos indo para um mundo em que a preocupação é a economia verde, a sustentabilidade, fonte de energia renovável, e estamos presos numa discussão sobre a privatização da Petrobras que é do século passado.”

Com essa retórica, Moro se dirige à fração do eleitorado do PSDB que, em 2018, desidratou o então candidato do partido, Geraldo Alckmin, migrou para Bolsonaro e, por enquanto, com ele se mantém afinada. É uma ala equidistante dos pré-candidatos do partido, difícil de ser alcançada por João Doria, Eduardo Leite e Arthur Virgilio, como se vê na confusão interna em torno das prévias (empacadas). Ele e Doria conversaram, dias atrás.

Se vai conseguir atrair parte do bolsonarismo incrustado no PSDB, nem Moro sabe, mas se mostra disposto a tentar. Simultaneamente, procura cativar fatia dos eleitores que, na rejeição a Bolsonaro e a Lula, migraram para Ciro Gomes.

O candidato do PDT estava solitário na crítica permanente, sempre contundente, a Bolsonaro e Lula. Moro passou a rivalizar, apresentando-se em público com dois crachás. Um é o de ex-ministro da Justiça que rompeu e processa Bolsonaro, “que governa para proteger a família”. Outro é o de juiz que condenou Lula na Lava Jato — a anulação da sentença pelo Supremo ele qualifica como “erro judiciário”.

Ciro Gomes percebeu. Passou a citar Moro como “juiz incapaz”, responsável por devolver “a impunidade para um governo que foi um dos mais corruptos da história brasileira, que foi o governo do Lula, e é a gênese do desastre Bolsonaro”.

O antigo juiz de Maringá (PR) que ascendeu na Lava Jato em Curitiba, entrou no páreo de 2022 incomodando adversários experientes na política. Estreou na disputa com Ciro pela terceira posição, segundo as pesquisas. Em março do ano passado, no ministério de Bolsonaro, alcançava dois dígitos nas sondagens. Moro vai precisar demonstrar habilidade para se manter na maratona eleitoral. A começar pela conquista do próprio partido, o Podemos, ainda dividido em relação à sua candidatura.

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