Até professores de direita criticam Educação sob Bolsonaro
Foto: Alan Marques/Folhapress
É preciso haver uma mudança de mentalidade nas universidades brasileiras, especialmente nas públicas, defende o professor Pablo Christiano Barboza Lollo, 40, da Universidade Federal da Grande Dourados (MS).
“A universidade acha que tem de mudar o mundo, o mercado, trazer a revolução socialista, quando deveria ser o contrário. É o mundo real que tem de mudar a universidade”, afirma.
Lollo é desde outubro presidente do grupo Docentes Pela Liberdade (DPL), criado em 2019 para reunir professores e acadêmicos alinhados à direita.
São cerca de 800 integrantes, o que parece muito, mas é uma pequena parcela do universo do ensino superior. Um ambiente, acredita a entidade, completamente tomado pelas ideias de esquerda.
Eleito para um mandato de dois anos, o professor diz que pretende discutir o que ele chama de crise do ensino superior, que tem afastado os jovens das universidades.
“Isso acontece por vários motivos. A universidade pública se descolou de tal forma do mercado de trabalho que hoje ter diploma superior não significa mais um grande diferencial”, diz ele, que dá aulas de educação física para graduação e ciências de saúde e nutrição na pós.
Além disso, afirma Lollo, as instituições de ensino estão fossilizadas em seus métodos.
“Temos grades curriculares engessadas, que são as mesmas de 15 ou 20 anos atrás. Não foram feitas revisões que levem em conta o novo mundo digital e as possibilidades que ele apresenta”, declara.
O DPL estabelece uma relação direta entre a crise que aponta e a prevalência das ideias de esquerda no ambiente universitário.
“A universidade pública tem autonomia, o que é muito bom em alguns sentidos e ruim em outros. Ela não precisa estar vinculada às demandas da sociedade”, diz o professor.
Além disso, acrescenta, o fato de os acadêmicos terem uma “audiência cativa” nos alunos favorece o proselitismo ideológico.
“O uso político das disciplinas é reflexo dessa audiência cativa, pois o aluno está sempre lá ouvindo. Se não frequentar 75% das aulas, não passa de ano. Alguns colegas aproveitam esse fato para fazer pregação política”.
Isso ocorre independentemente da disciplina ensinada, diz. “Temos relatos de que até professor de física fica falando do movimento negro em aula”.
Apesar disso, Lollo declara não ser entusiasta do projeto Escola Sem Partido, bandeira de grupos conservadores, que busca proibir restringir manifestações políticas de professores em sala de aula.
“O Docentes Pela Liberdade abriga diferentes posições sobre isso, desde membros que defendem o Escola Sem Partido àqueles que preferem mobilizar-se para que sejam garantidas todas as visões aos alunos, do comunismo ao liberalismo. Eu me inclino por essa segunda opção”, afirma.
O mandato do professor à frente da entidade coincidirá com dois marcos importantes: a revisão da lei de cotas raciais, hoje presente na maioria das universidades, e a eleição presidencial.
Sobre cotas, o DPL não tem posição institucional, mas o presidente da entidade avalia que a maioria dos integrantes favorece um modelo baseado em critérios de renda, e não de raça.
O grupo também não pretende endossar de maneira formal um candidato a presidente em 2022, embora naturalmente todos se inclinem por nomes à direita do espectro ideológico. O DPL deve procurar todos os postulantes, inclusive os de esquerda, para apresentar suas ideias.
“Minha percepção é que a maioria do grupo vai de Bolsonaro, mas uma parte não desprezível deve optar por outros candidatos de direita”, afirma o professor, que diz ainda não ter decidido em quem vai votar.
Lollo elogia a disposição do Ministério da Educação em ouvir as propostas do grupo e receber seus representantes. Mas, embora ideologicamente alinhado à maior parte dos projetos do governo federal, ele não poupa críticas ao que vê como “oportunidades perdidas” pela atual gestão.
“Acredito que o governo federal perdeu a chance de transformar a educação do Brasil, de aproximar as universidades das empresas, de modernizar os currículos. O governo poderia ter mostrado que as empresas não são inimigas da universidade, são parceiras”, diz.
Ele endossa críticas de que houve ideologização demais e gestão de menos no MEC, que teve quatro ministros sob Bolsonaro: Ricardo Vélez, Abraham Weintraub, Carlos Alberto Decotelli e o atual, Milton Ribeiro.
“A pasta da Educação foi muito conturbada, com muitas trocas. O Fernando Haddad ficou oito anos [em governos do PT]. Com oito anos você consegue dar uma cara para o ministério”, diz ele.
Houve, de acordo com Lollo, muito tempo gasto com coisas menores. “A gente acabava vendo muitas coisas ali que não havia necessidade. Ficar falando de estátua de Paulo Freire, por exemplo. Houve muita energia gasta na direção errada”, diz.
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